Leilões

Multinacionais tentam garimpar “bilhete premiado” em leilão do pré-sal sem Petrobras

Empresas vivem a expectativa de uma grande descoberta comercial nos blocos exploratórios contratados nos leilões

Petroleiras multinacionais tentam garimpar “bilhete premiado” em leilão de óleo e gás do pré-sal sem Petrobras. Na imagem: Representantes da Shell, Total, CNPC, CNOOC e Petrobras, consórcio vencedor da 1ª Rodada de Licitação do Pré-Sal em 2013, ganhando o direito a explorar e produzir o petróleo da área de Libra, na Bacia de Santos (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
O consórcio formado pelas empresas Shell, Total, CNPC, CNOOC e Petrobras foi o vencedor da 1ª Rodada de Licitação do Pré-Sal em 2013, ganhando o direito a explorar e produzir o petróleo da área de Libra, na Bacia de Santos (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

RIO – O leilão de blocos de exploração no pré-sal, marcado para esta quarta (13/12), será o primeiro sob o regime de partilha sem a presença da Petrobras – que optou por não se inscrever na concorrência.

Nesses dez anos após a primeira rodada de partilha no Brasil, tanto as descobertas como a produção dos campos nesse regime – da ordem de 1 milhão de barris/dia – são obras da Petrobras, como operadora, e seus sócios.

Foram as grandes descobertas da estatal no pré-sal – e os investimentos da petroleira na comprovação da viabilidade da produção na então nova fronteira exploratória, nos anos 2000 – que desencadearam a longa discussão política que levou à sanção da Lei de Partilha, por Lula, em 2010.

O ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, costumava se referir ao potencial geológico do pré-sal como “bilhete premiado”. E, de fato, a estatal descobriu, no pré-sal, os três maiores campos produtores do país na atualidade: Mero, Búzios e Tupi, todos na Bacia de Santos, mas contratados sob diferentes regimes (cessão onerosa, partilha e concessão).

Búzios, que representa quase metade da produção da partilha, é na verdade o carro-chefe da cessão onerosa, uma contratação direta de 5 bilhões de barris feita com a Petrobras também em 2010. Os volumes excedentes foram posteriormente contratados sob o regime de partilha e, hoje, o campo é a principal fonte dos barris que cabem à União nos contratos de partilha.

São esses resultados do passado, de um empilhamento de regimes e reformas políticas que sustentam hoje a partilha.

A parte noroeste de Libra – área licitada no primeiro leilão de partilha – deu origem ao campo de Mero, estrela da partilha e hoje o terceiro maior produtor do país, com uma extração da ordem de 220 mil barris/dia de petróleo.

Ao todo, o campo vai contar com quatro plataformas definitivas até 2025, que juntas somam uma capacidade de produção de 770 mil barris/dia.

Petroleiras estrangeiras de olho em mais áreas

As grandes multinacionais do petróleo entraram de cabeça na partilha, após as reformas realizadas no governo de Michel Temer, mas ainda vivem a expectativa de anunciar uma grande descoberta comercial na região.

No leilão desta quarta (13/12), seis empresas estão aptas a participar: bp, Chevron, Petronas, Shell e TotalEnergies, como operadoras, e Qatar Petroleum, como não operadora.

O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Saboia, chegou a afirmar, em outubro, que a ausência da Petrobras não enfraquece a concorrência.

Em 2019, a Petrobras também foi alvo de críticas por exercer previamente seu direito de preferência na partilha e, no dia do leilão, não apresentar ofertas por Sudoeste de Sagitário e Norte de Brava.

Na ocasião, o ex-ministro Paulo Guedes acusou a Petrobras de inibir a concorrência. As áreas acabaram contratadas em 2022, em consórcios liderados pela própria estatal.

No leilão de hoje serão ofertados Cruzeiro do Sul, Esmeralda, Jade e Tupinambá, todos em Santos. E Turmalina, em Campos.

É o primeiro leilão do terceiro governo Lula, que chega ao fim de seu primeiro ano, com oferta de áreas de petróleo e uma COP28 marcada pela adesão do Brasil à Opep+ – o que dá mais força a crítica de ambientalistas contrários à expansão da fronteira de óleo e gás no Brasil e seu impacto no balanço de emissões.

Aram gera expectativas

O consultor e ex-diretor da ANP, Felipe Kury, afirma que as campanhas exploratórias ainda estão em andamento e que há potencial para descobertas de grandes volumes.

“Estamos falando de um período ainda recente, os blocos foram adquiridos entre 2017 e 2020 e a previsão é que essas campanhas exploratórias durem sete anos”, diz.

A maior expectativa, até o momento, está no bloco de Aram, na Bacia de Santos. A área foi arrematada pela Petrobras na 6ª rodada de partilha, em 2019, e teve uma descoberta, batizada como Curaçao.

Em maio, o diretor executivo de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Carlos Travassos, disse que a companhia esperava declarar “em breve” a comercialidade da descoberta. A área estava, na ocasião, recebendo poços de extensão para delimitação de reservas.

Desde o ano passado, a oferta de áreas em contratos de partilha passou a ocorrer pelo modelo da oferta permanente, na qual os leilões ocorrem apenas depois da manifestação de interesse pelo mercado.

A expectativa é que as áreas arrematadas em 2022 sejam as próximas a receber campanhas exploratórias. A assinatura dos contratos dos blocos Água Marinha, Sudoeste de Sagitário e Norte de Brava ocorreu em maio de 2023.

Blocos devolvidos, sem sucesso

O pré-sal, como toda área exploratória, tem seus riscos e isso tem ficado mais claro nas campanhas de exploração mais recentes.

A Petrobras iniciou este ano a devolução à União do bloco Dois Irmãos, no pré-sal da Bacia de Campos, arrematado na 4ª rodada de partilha, em 2018. A área chegou a ser perfurada em 2022, sem anúncio de descobertas, atendendo às obrigações de investimento no bloco.

Era operado pela Petrobras, com 45%, em parceria com a Equinor (25%) e bp (30%). O consórcio pagou um bônus de R$ 400 milhões.

Outros dois, arrematados nas últimas rodadas de partilha, já foram devolvidos, sem sucesso exploratório, ambos na Bacia de Santos:

  • Peroba, arrematado pela Petrobras na 3ª rodada de partilha, em 2017, e onde foi identificada uma acumulação de gás, com CO2 como fluido principal;
  • Saturno, operado pela Shell (50%) em parceria com a Chevron (50%), e arrematado na 5ª rodada de partilha, em 2018. O poço pioneiro se mostrou subcomercial, apenas com indícios de óleo.

A porção sudoeste de Libra, explorada pelo consórcio liderado pela Petrobras (40%) e onde foi perfurado um poço seco, também foi devolvida em 2021. As sócias são Shell (20%), TotalEnergies (20%) e as chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%).

Petroleiras avaliam resultados dos poços

Além das campanhas malsucedidas em Peroba, Saturno e Dois Irmãos, há uma série de outros blocos já perfurados, sem que os operadores tenham se manifestado publicamente sobre os resultados – alguns deles aguardam dados mais aprofundados de avaliação:

  • Alto de Cabo Frio Oeste (3ª Rodada/2017) – a Shell perfurou um poço na área em 2019, com registros de óleo. A empresa, contudo, não indicou os novos passos;
  • Alto de Cabo Frio Central (3ª Rodada/2017) – Petrobras, em parceria com a bp, realizou um teste de formação em 2022, que comprovou boa produtividade no bloco e, desde então, as empresas seguem avaliando as dimensões da descoberta.
  • Uirapuru (4ª Rodada/2018) – Petrobras confirmou uma descoberta de petróleo na área em 2020, sem mais informações. No banco de dados da ANP, consta a perfuração de um poço com indícios de óleo.
  • Três Marias (4ª Rodada/2018) – a Petrobras perfurou na área, mas não confirmou descobertas. Na ANP, consta a perfuração de um poço com hidrocarbonetos, mas com CO2 como fluido principal;
  • Titã (5ª Rodada/2018) – a ExxonMobil iniciou em 2021 a campanha de perfuração no bloco, na Bacia de Santos, sem maiores informações. A perfuração resultou em poço com hidrocarbonetos, com presença de óleo como fluido principal.

As informações sobre indícios de óleo e gás ou outros fluidos são públicas e notificadas à ANP. Um poço, ao registrar a presença de petróleo, contudo, não implica na confirmação de uma descoberta com potencial de produção comercial.

Procurada, a Petrobras esclareceu que o bloco Três Marias ainda se encontra sob contrato; e que “avalia constantemente seus ativos de forma a garantir a maximização do valor do portfólio e o alinhamento ao seu plano estratégico”.

A ExxonMobil destacou que exerce atividades de exploração e desenvolvimento com a visão de longo prazo e que seu programa inicial de perfuração está agora completo. A “companhia continua a trabalhar com os parceiros, analisando os dados adquiridos do extenso programa de perfuração e avaliando o potencial para futuras atividades de exploração” nos blocos onde atua (26 no total).

A Shell preferiu não se posicionar.

  • Veja também: Petrobras e Chevron lideram consórcios de 44 blocos leiloados em Pelotas