RIO – Bacia marítima mais antiga em produção no país, Campos vai continuar a ter protagonismo nos investimentos da Petrobras pelo menos até o fim da atual década, de acordo com os dados do novo plano de negócios divulgado pela empresa em novembro.
Ao todo, a Petrobras vai investir US$ 23 bilhões na Bacia de Campos nos anos de 2025 a 2029, segundo dados do novo planejamento. A extensão da produção de sistemas existentes representa cerca de 30% do investimento futuro na região. Com os novos investimentos, a expectativa é que 32% da produção de Campos em 2029 venha do pré-sal.
A bacia deve encerrar o ano de 2024 – que marcou meio século desde a primeira descoberta na região – com uma produção média de cerca de 600 mil barris/dia.
O volume representa menos da metade dos 1,27 milhão de barris/dia que chegou a produzir em dezembro de 2017, ano em que Campos perdeu o posto de maior bacia produtora do país para Santos. Desde então, a produção tem estado em declínio.
O que vem por aí
A Petrobras já definiu que vai contratar uma plataforma própria para o projeto de revitalização dos campos de Marlim Leste e Sul. Batizada de P-86, é a primeira unidade própria da nova leva de contratações da estatal. Terá 20% de conteúdo local e está prevista para entrar em operação em 2030.
Há ainda estudos em curso para a revitalização do campo de Roncador, que hoje é operado em parceria com Equinor. A análise está em fase incipiente.
O que já está em andamento
Revitalização
Um dos principais projetos em curso é a revitalização do campo de Marlim.
No caso de Marlim, a revitalização prevê a substituição de nove plataformas por duas unidades novas, o FPSO Anita Garibaldi e o Anna Nery, que vão produzir juntos 150 mil barris/dia de petróleo.
Em outubro, a estatal concluiu o projeto de revitalização de Jubarte, com a entrada em produção do FPSO Maria Quitéria.
Também está em curso a contratação da plataforma para a revitalização dos campos de Barracuda e Caratinga, prevista para começar a operar em 2029. A companhia está em fase de negociação com o estaleiro.
A estatal se prepara ainda para iniciar a contratação da plataforma de revitalização de Albacora, que vai entrar em operação em 2030.
Extensão da vida útil
Em paralelo, a companhia conduz um projeto que busca estender a vida produtiva das plataformas que já estão em operação, sem necessidade de uma revitalização.
Consiste em atividades como manutenções programadas e na instalação de unidades de manutenção e serviços para ampliar o efetivo de trabalhadores atuando em uma plataforma.
“Não é uma parada de produção, são intervenções que nós fazemos com a unidade produzindo e na locação”, explica o gerente geral da unidade de negócios da Bacia de Campos, Alex Murteira.
Há uma contratação em curso para a unidade de manutenção (UMS) que vai conduzir esses trabalhos, que deve começar a operar no primeiro semestre de 2026.
Já foi aprovada a realização dessas atividades nas plataformas P-40, P-51, P-56 e P-53. Ainda estão em fase de estudos os trabalhos na P-43 e P-48.
Reciclagem
Há também um grupo de trabalho em curso que avalia a viabilidade técnica e econômica de reciclar plataformas que seriam descartadas. Entre as unidades que podem entrar nesse programa estão P-35, P-37 e P-47, que atuaram no campo de Marlim e foram substituídas no processo de revitalização.
“Uma das ideias é utilizar [as plataformas recicladas] como sistemas antecipados de produção, o que nós já fizemos largamente na Bacia de Campos”, diz Murteira.
Exploração
A expectativa é perfurar um poço exploratório no pré-sal do bloco de Norte de Cabo Frio ainda em 2024, seguido de um poço em Água Marinha no primeiro semestre de 2025. A nova campanha na região deve incluir ainda perfurações em outros blocos arrematados nas rodadas da ANP nos últimos anos, com destaque para Norte de Brava e Forno.
Eventuais novas descobertas devem ajudar a atenuar a queda natural da extração prevista para os próximos anos.
“Essas tecnologias novas tendem a amenizar a queda ou até manter o nível de produção”, afirma Murteira.
Também há previsão de perfuração de poços exploratórios adjacentes aos campos de Albacora e Marlim Sul.
Para delimitar as descobertas dos últimos anos, a estatal vai perfurar dois poços em Alto de Cabo Frio Central e quatro poços em Aram.
No momento, a companhia conduz ainda uma nova campanha sísmica na bacia, depois de dez anos sem levantamentos de dados desse tipo.
“A tecnologia de hoje da sísmica fornece muito mais informações para as nossas equipes de exploração e de reservatório do que as antigas. Pode haver muitos prospectos que não foram identificados, oportunidades que não foram identificadas no primeiro momento e com as novas sísmicas serem viáveis”, explica o gerente geral.
Segundo o executivo, o resultado dessa campanha será importante também para a definição de possíveis medidas para aumentar ainda mais o fator de recuperação da bacia.
Até o momento, a Bacia de Campos tem o maior fator de recuperação entre as áreas marítimas no Brasil, mas o índice ainda é considerado baixo em relação a outras regiões do mundo.
Segundo os dados públicos da ANP, a fração recuperada atual da Bacia de Campos é de 15,34%, com previsão de chegar a 21,6% caso haja produção das reservas 3P (provadas, prováveis e possíveis). Como comparação, na Bacia de Santos, o índice atual é de 5,36%, com perspectiva de atingir 25,6%.
“Temos muitas tecnologias novas sendo estudadas para serem utilizadas nesses campos. O próprio processo de recuperação secundária, que nós usamos hoje, injeção de água… estudamos outros processos de recuperação secundária”, diz Murteira.