RIO e BELÉM — Para atingir as metas de emissões líquidas em 2050, o investimento anual em fornecimento de combustíveis fósseis vai precisar cair de cerca US$ 1 trilhão para menos de US$ 350 bilhões até 2035, indicou o relatório World Energy Outlook divulgado na quinta (12/11) pela Agência Internacional de Energia (IEA).
O cenário indica uma realocação massiva de capital que aumenta o risco de ativos ociosos para projetos de longo ciclo, indicou o Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP) em comentário sobre o relatório.
A estimativa da IEA leva em consideração uma rápida expansão das tecnologias de baixo carbono e uma forte redução no consumo de todos os fósseis, com a queda na demanda global por petróleo para 24 milhões de barris/dia até 2050.
Entretanto, considerando apenas políticas e regulações sobre o uso de combustíveis fósseis que já estão em vigor, a IEA aponta que a demanda global por petróleo continuará a crescer nas próximas décadas, até atingir 113 milhões de barris/dia em 2050.
Nesse caso, apesar de o mercado de petróleo estar bem abastecido no curto prazo, o consumo global crescente exige 25 milhões de barris/dia em novos projetos até 2035.
Ou seja, caso o mundo mantenha a trajetória atual, vai ser necessário ampliar os investimentos, e não reduzir, para garantir o suprimento.
A transição para longe dos combustíveis fósseis foi um dos compromissos assumidos na COP28, em Dubai, há dois anos.
A expectativa é que a COP30, que ocorre neste momento em Belém (PA), avance nessas discussões.
Na quinta-feira (13/11), a diretora executiva da COP30, Ana Toni, disse a jornalistas que o tema ainda não está nas negociações até o momento, mas que há indicações de apoio dos países participantes para a elaboração de um roadmap.
“Sabemos que não houve nenhuma proposta formal para levar este assunto às negociações, mas ele já consta da agenda de ações”, disse.
Investimentos não são capazes de ampliar capacidade
A IEA alerta que, hoje, quase 90% do investimento em exploração e produção de petróleo e gás está sendo direcionado para compensar o declínio das reservas, em vez de expandir a capacidade.
No atual cenário, a previsão é de um déficit de 5 milhões de barris/dia na capacidade de refino global a partir do início da década de 1940.
Segundo o IBP, o quadro evidencia o dilema de investimento entre o risco de ativos ociosos e a possibilidade de uma crise de oferta.
Já em um cenário mais otimista para a transição energética, que inclui políticas formalmente propostas mas ainda não adotadas, a IEA aponta que a demanda global por petróleo vai atingir um pico de 102 milhões de barris/dia por volta de 2030.
Com isso, a capacidade de refino existente pode ser suficiente para atender à demanda até 2050.
O relatório também destaca que, nesse caso, parte da garantia do suprimento global é atendida pelo aumento da produção de petróleo na América Latina, impulsionada por Brasil, Guiana e Argentina.
Esses países são considerados competitivos em meio ao baixo nível de emissões associado à produção.
Em todos os cenários, a IEA aponta que o crescimento econômico e populacional vai aumentar a demanda nas próximas três décadas por serviços energéticos, como mobilidade, aquecimento, refrigeração, iluminação, processos industriais e uso de dados e inteligência artificial.
Além disso, destaca que a segurança energética passa a depender também do suprimento de minerais críticos.
