RIO — Atender à demanda energética global nas próximas décadas, apenas com petróleo de “alta qualidade” — ou seja, com teor de emissões mais baixo e, ao mesmo tempo, custos menores — será uma missão difícil para as petroleiras, aponta relatório da Wood Mackenzie.
De acordo com a consultoria global, a disponibilidade de barris ambientalmente e economicamente vantajosos é escassa no mundo, hoje.
Os recursos totais de óleo e gás — descobertos e prospectivos — representam, atualmente, mais que o dobro da demanda projetada em 2050. Mas os recursos resilientes a preços baixos e com menores níveis de emissões “são tudo, menos abundantes”.
A Wood Mackenzie calcula que apenas 28% dos recursos em campos comerciais ainda não desenvolvidos — cerca de 49 bilhões de barris de equivalente (boe) — são favorecidos em termos de um breakeven (preço de equilíbrio) abaixo de US$ 30 o barril e com intensidade de emissões inferior a 20 kgCO2e/boe.
“Vemos recursos vantajosos suficientes para satisfazer apenas cerca de metade de nossa previsão de demanda de petróleo e gás para 2050”, disse o vice-presidente de Pesquisa de Energia da Wood Mackenzie Upstream, Andrew Latham.
Dentro do cenário base da consultoria, a demanda por petróleo atingirá o pico em 2030, antes de cair lentamente para 94 milhões de barris por dia em 2050.
Barril mais “sujo” pode não sumir do mercado
Diante da perspectiva de que o mercado consumidor será menor, no futuro, o racional das petroleiras é de que prevalecerão, no longo prazo, os projetos mais competitivos em termos de custos e emissões.
Por isso as empresas querem se posicionar como aqueles produtores com o barril de menor carbono do mercado global no longo prazo.
Mas uma coisa é certa: mesmo com a redução do consumo de combustíveis fósseis, o mundo ainda dependerá de investimentos em exploração e produção de óleo e gás ao menos até 2050, segundo a bp.
E aí, se as petroleiras não foram bem-sucedidas em encontrar barris de menor emissão, a preocupação com a segurança energética falará mais alto. E os recursos de maior intensidade de carbono continuarão com espaço no mercado.
“Estamos entrando em um período interessante na indústria de exploração e produção. Algumas empresas vão apostar e esperar menos concorrência. No entanto, muitos podem começar ou acelerar sua saída do setor para buscar energias de baixo carbono e renováveis. Se for esse o caso, a segurança do fornecimento pode ficar ameaçada e, infelizmente, podemos ver empresas recorrendo a recursos desfavorecidos para atender à demanda”, comenta Latham.
Exploração terá papel importante
A Wood Mackenzie destaca que, com a escassez de barris de “alta qualidade” já descobertos, a exploração desempenhará um papel importante para aumentar a oferta de petróleo econômico e ambientalmente competitivos.
Segundo a consultoria, o foco das petroleiras em explorar áreas mais promissoras, de alto impacto, pode contribuir, anualmente, com 5 bilhões a 10 bilhões de barris “mais vantajosos”.
A exploração, nessa escala, nas próximas duas décadas, pode adicionar uma produção de cerca de 10 milhões a 15 milhões de boe/dia até 2050.
Além disso, novas tecnologias de descarbonização e biocombustíveis podem ajudar a aliviar a pressão sobre a necessidade de petróleo de menor intensidade de carbono.
Petroleiras veem, no Brasil, óleo de alta qualidade
Mesmo diante dos esforços crescentes das petroleiras em descarbonizar seus negócios, o Brasil — e em especial o pré-sal — continua a atrair o olhar das multinacionais.
TotalEnergies e Shell, duas das petroleiras que mais têm apostado na diversificação de seus negócios, por exemplo, dobraram a aposta no pré-sal brasileiro nos últimos anos.
Desde 2020, quando as grandes multinacionais do setor aumentaram as ambições de seus planos de transição energética, as duas companhias pagaram R$ 4,4 bilhões, em bônus de assinatura, por novos ativos em águas profundas no país.
- A TotalEnergies desembolsou R$ 3,195 bilhões, por Sépia e Atapu, no leilão dos excedentes da cessão onerosa, e por outros três blocos exploratórios nos ciclos da oferta permanente;
- e a Shell pagou R$ 1,242 bilhão, por Atapu e mais oito blocos exploratórios da oferta permanente.
Embora investir em mais reservas de petróleo possa parecer contraditório, diante dos esforços de descarbonização das empresas, o pré-sal guarda uma característica importante para essas companhias: volumes de emissões baixos, devido à alta produtividade dos poços — o que reduz a intensidade de carbono por barril.
Pressionadas por acionistas e pela sociedade a descarbonizar seus negócios, as petroleiras justificam os investimentos no pré-sal como uma forma, justamente, de produzir barris menos poluentes.
“O crescimento de nossa presença no Brasil nos permitirá acelerar a reestruturação de nosso portfólio de petróleo em direção a recursos de hidrocarbonetos de baixo custo e baixas emissões, que contribuirão para transformar a TotalEnergies em uma empresa multienergética sustentável”, justificou o presidente global da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, ao comentar, em 2020, a aquisição de Sépia e Atapu.