Gasoduto de Raia

Equinor recebe encomendas para gasoduto, marco do projeto de Raia

Projeto terá um investimento de US$ 9 bilhões e produzir até 16 milhões de m³/dia de gás natural

Representantes de empresas do consórcio do projeto Raia e presidente da Tenaris no Brasil assinam tubo de aço, para gasoduto que escoará o gás de Raia (Foto Reprodução Tenaris)
Representantes de empresas do consórcio do projeto Raia e presidente da Tenaris no Brasil assinam tubo do gasoduto | Foto Reprodução Tenaris

PINDAMONHANGABA – A Equinor recebeu, nesta quinta (28/11), 200 km de tubos de aço para o gasoduto do projeto Raia, maior projeto de gás natural em andamento no Brasil. Os tubos fabricados pela Tenaris no interior paulista tiveram 99% de conteúdo local no aço utilizado e um contrato de R$ 2 bilhões.

A previsão da presidente da Equinor Brasil, Verônica Coelho, é de que a produção de gás em Raia se inicie em algum momento de 2028, fornecendo até 16 milhões de m³/dia. Esse volume representa 15% da demanda de gás natural do Brasil.

O gás virá de três reservatórios, com características distintas à maioria dos projetos explorados no pré-sal, os quais possuem reservatórios com gás associado. No caso de Raia, as reservas são de gás com óleo condensado.

Segundo a presidente da companhia no Brasil, o gás de Raia possui ótima qualidade, baixo índice de componentes pesados e poderá ser classificado para venda no FPSO.

O gás vai direto da plataforma de produção, passando pelo gasoduto, até o terminal de Cabiúnas, em Macaé. Depois, o gás passa por um processo de regulação de temperatura e pressão antes de ser conectado à malha, sem a necessidade de passar por uma unidade de processamento de gás natural (UPGN).

A decisão final de investimentos, tomada em maio de 2023 pelo consórcio que une a Equinor (35%), Repsol Sinopec (35%) e Petrobras (30%), é de US$ 9 bilhões e conta com reservas recuperáveis de 1 bilhão de barris de petróleo equivalente (boe).

Os tubos fabricados pelas Tenaris pesam cerca de 8 toneladas cada, com estrutura em aço, revestimento em concreto e proteção anticorrosiva, projetados para resistir à pressão de uma profundidade de 2.900 metros.

Oportunidades em tie back

Verônica Coelho disse em entrevista à agência eixos que a expertise da Equinor é maximizar a recuperação dos campos por meio das unidades já instaladas, reduzindo o custo total de novos campos.

“Com isso, a gente garante uma produção mais rápida, evita a construção de toda uma nova infraestrutura de produção e maximiza o valor gerado a partir daí, reduzindo o custo”, afirmou Coelho.

A executiva pontuou que a prática já amadureceu no Mar do Norte e no Golfo do México – onde a petroleira norueguesa tem forte atuação – mas ainda é imaturo no Brasil.

“Tivemos o luxo de ter campos gigantescos em águas cada vez mais profundas no Brasil e só agora estamos chegando na fase de declínio desses campos. Chega um momento em que a produção começa a cair e, portanto, fazer o tie back é super importante como uma forma de continuar mantendo a atividade econômica da plataforma”, disse.

Outra oportunidade, segundo a presidente da Equinor Brasil, é o aproveitamento de infraestrutura existente para a produção em campos menores.

“No Mar do Norte ou no Golfo do México, quando são descobertos campos com 100 ou 150 milhões de barris, soltam fogos, mas no Brasil a gente acaba devolvendo porque não são economicamente viáveis, mas se a gente conseguir viabilizar o arcabouço regulatório adequado, tem muito potencial ainda por ser explorado”, pontuou Coelho.

O presidente da Tenaris no Brasil, Renato Catallini, também enxerga oportunidades para o tie back. A empresa já fabrica dutos para a conexão de plataformas e, num contexto de prolongamento da vida útil de campos maduros, pode beneficiar a fabricante de dutos.

“Tradicionalmente temos uma participação nesse mercado de dutos offshore. Estamos avaliando o mercado e temos feito investimentos. Temos uma planta de revestimentos nova. Vamos definindo nossos investimentos em função da demanda que vamos enxergando e esse é um mercado [de dutos para tie back] que pode ser interessante”, disse Catallini.

Continuidade de leilões

Para a presidente da petroleira norueguesa, o Brasil é um dos países onde a companhia quer crescer e ampliar o portfólio. Alguns fatores, no entanto, dificultaram o avanço de projetos nos últimos anos, como a falta de previsibilidade de leilões e problemas com o licenciamento ambiental.

“Estamos olhando com muita atenção, sim. Estamos interessados, acompanhando e avaliando a competitividade das áreas que serão ofertadas para entender como eles são priorizados dentro do nosso ranking de oportunidades”, comentou.

A prioridade, segundo a executiva, é para ofertas em bacias já conhecidas, como Santos e Campos. “Mas a gente não descarta nada, a princípio” frisou.

Os reflexos de interrupções nos leilões são sentidos por toda a cadeia, desde empresas que fazem a exploração sísmica à perfuração.

“Essa entrega que a gente comemora hoje começou em 2018 e os tubos que serão instalados daqui a 30 anos ainda estarão produzindo gás. É uma indústria que precisa de previsibilidade e continuidade para que a gente possa manter essa geração de valor”, comentou Coelho.

O executivo da Tenaris comentou ser importante a continuidade dos leilões para manter a cadeia de fornecedores ativa.

Segundo Cattalini, processos contínuos de leilões de áreas e novos projetos dão previsibilidade para planejar investimentos em médio e longo prazos.

Reforma tributária

Verônica Coelho também defendeu a previsibilidade de regras e que mudanças feitas no meio do caminho podem prejudicar investimentos que tiveram uma decisão tomada num cenário em que as regras eram diferentes.

“A decisão do projeto Raia tinha sido programada para ir ao nosso conselho uma semana depois que foi anunciado o imposto de exportação do óleo. Imagina o susto que a gente tem quando prepara todo um plano de negócios e de um dia para o outro aparece um imposto novo”, pontuou.

Ela também apontou o imposto seletivo, em discussão no projeto de lei que regulamenta a reforma tributária, como custo adicional sobre o produto.

“Quanto maior o custo sobre o produtor, maior fica o custo do produto que está sendo oferecido. Ao longo desse último ano, teve uma série de questões, como a obrigação de inserir biometano no gás e outras questões que impõem riscos e custos na tomada de decisão e torna mais difícil a competitividade dos ativos.”