RIO – Na primeira entrevista coletiva após assumir a presidência da Petrobras, Magda Chambriard reforçou a aposta da estatal na exploração de petróleo e gás natural.
A executiva afirmou que a abertura de novas fronteiras, como na Margem Equatorial e na Bacia de Pelotas, é fundamental para garantir que o país continue a repor reservas, e disse que a decisão final sobre a entrada nessas regiões deve ser tomada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).
Na coletiva, afirmou que os eventos climáticos extremos, como o que ocorre no Rio Grande Sul, não podem ser atribuídos à produção brasileira de óleo e gás, marcando uma oposição aos ambientalistas dentro e fora do governo.
E reforçou que na precificação dos preços dos combustíveis, a Petrobras continuará buscando a estabilidade no mercado interno.
A executiva substitui Jean Paul Prates no comando da estatal, demitido no começo de maio. Chambriard disse que recebeu do presidente Lula (PT) a missão de gerir a empresa com “respeito à sociedade brasileira”.
Segundo ela, uma de suas missões será o aproveitamento de recursos petrolíferos e nisso está incluída a reposição de reservas.
“Para nós, é essencial repor reservas e isso significa que é essencial continuar explorando petróleo”, afirmou.
A liberação ambiental pelo Ibama para a perfuração de um poço em águas profundas na Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, tem colocado em lados opostos o Meio Ambiente e outras alas do governo, como Ministério de Minas e Energia (MME).
Parte da base de apoio do governo é contra a abertura de novas fronteiras, enquanto Lula apoia publicamente e é cobrado pelos estados da Margem Equatorial, onde estão aliados como Davi Alcolumbre (União), senador pelo Amapá.
Na semana passada, a secretária do MMA, Ana Toni, afirmou que a decisão sobre novas fronteiras vai ser do CNPE, mas precisa estar alinhada ao Plano Clima, que vai estabelecer as políticas para o país atingir as metas de descarbonização.
“O Ministério do Meio Ambiente precisa ser mais esclarecido sobre a necessidade do país e da Petrobras de perfurar esses poços, de explorar petróleo e gás, até para liderar a transição energética”, disse Chambriard hoje.
“Vamos ter que conversar com o MMA, mostrar que a Petrobras está ofertando muito mais do que a lei demanda em termos de cuidados com o meio ambiente”, acrescentou
Para a executiva, o CNPE tem “se reunido pouco”. Nesse caso, o “árbitro” da discussão é o presidente Lula, dado que toda decisão do conselho precisa sair assinada pelo presidente da República.
“Esses assuntos têm que ser discutidos à luz da sua contribuição para sociedade brasileira. Toda vez que se restringe a discussão a uma instituição única e não expande essa discussão pros interesses nacionais, a gente sai perdendo”, disse.
Chambriard ressaltou que a Petrobras vai continuar investindo na exploração do pré-sal, mas que diminuiu o potencial de descobertas tão grandes quanto as que já ocorreram.
“Enquanto uma empresa de petróleo, temos que pensar em repor reservas. Petróleo é uma energia não renovável, é daí que vem o grosso do retorno da empresa, não queremos perder esse retorno, é isso que sabemos fazer, produzir em águas profundas”, afirmou.
Ela fez questão também de retirar da conta do petróleo a responsabilidade pelos desastres climáticos recentes no Rio Grande do Sul.
É consenso entre cientistas que as mudanças climáticas são aceleradas pela emissão de gases de efeito estufa decorrentes das atividades humanas, sobretudo pelos combustíveis fósseis.
“Essa questão da transição energética é curiosa porque tem questões e causas e muita coisa é colocada nessa mesa não estando diretamente ligada a ela”, disse.
“Não vou botar esse desastre na conta do pré-sal porque seria injusto”, argumentou Chambriard.
Veja a seguir alguns dos principais pontos da entrevista coletiva:
Preços de combustíveis
Sob a gestão de Chambriard, a estatal vai continuar a seguir a mesma política de preços, que foi atualizada na gestão de Prates. Ela ressaltou que é “altamente indesejável” para a sociedade brasileira uma grande instabilidade nos preços, com alterações diárias.
“A Petrobras sempre zelou por essa estabilidade”, disse.
Investimento em renováveis
A executiva reforçou a aposta da Petrobras na diversificação de fontes de energia, no contexto da transição energética, e refutou a afirmação de que as renováveis dão prejuízo. “Isso tem valor empresarial, atrai financiamentos mais baratos”, disse.
Fertilizantes
A executiva indicou que as discussões sobre o tema vão passar pela ampliação do gás natural na matriz nacional, incluindo a expansão da infraestrutura, e afirmou que a petroleira pode inclusive baixar os preços do energético para conquistar mercado. Ressaltou, no entanto, que investimentos nesse segmento não vão ocorrer “a qualquer preço”.
A empresa segue tendo interesse no contrato de tolling com a Unigel para manter as fábricas de fertilizantes da Bahia e de Sergipe em operação.
“O caso da Unigel está sendo estudado. Mas se eu tenho que desbravar mercados, começar por algo que já existe é sempre mais fácil”, disse.
No entanto, vai respeitar a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o tema. O órgão de controle apontou que a estatal pode ter prejuízo com o acordo assinado ao final do ano passado.
“Vamos ter que respeitar o TCU. Não existe não respeitar órgão de controle”, disse.
Conteúdo local e indústria naval
Sob o comando de Chambriard, a Petrobras vai buscar dar “igualdade de oportunidades” a fornecedores, afirmou a executiva ao ser questionada sobre o tema do conteúdo local. Ela disse ainda ter “compromisso com o reforço nas cadeias produtivas nacionais”.
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