RIO – Ao apresentar uma proposta de R$ 10 bilhões pela Braskem, a J&F Investimentos, holding da família Batista, entrou na corrida pela aquisição do controle da petroquímica brasileira – que já reúne três concorrentes.
A Novonor (antiga Odebrecht), controladora da empresa, tem hoje, sobre a mesa, ofertas da J&F, Unipar e de um consórcio formado pela gestora americana Apollo e Adnoc, petroleira estatal de Abu Dhabi.
Além disso, a Petrobras, acionista da Novonor na Braskem, iniciou o processo de due diligence dos números da empresa, para avaliar um eventual exercício do direito de preferência na aquisição da companhia petroquímica.
A concorrência pela Braskem revela a atratividade da empresa – que é líder de mercado no Brasil e também possui polos de produção no México, EUA e Alemanha.
E há um motivo para que investidores olhem com atenção para o setor petroquímico: embora o mercado opere, desde 2022, com margens mais apertadas, é ele que vai sustentar o consumo de petróleo daqui para frente.
Setor vai na contramão do declínio dos combustíveis fósseis
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), a demanda mundial por petróleo deve atingir o seu pico antes do fim desta década. E, em particular no setor de transporte, o uso dos derivados deve entrar em declínio já a partir de 2026.
Enquanto as empresas tiram o pé dos investimentos em novas refinarias, para produção de combustíveis, a trajetória do setor petroquímico é ascendente.
O CEO da Saudi Aramco, Amin Nasser, chegou a dizer, no fim do ano passado, que a demanda por petróleo do setor petroquímico provavelmente permanecerá robusta “não importa qual seja o cenário de transição energética”. Segundo ele, mesmo num cenário net zero, os produtos petroquímicos ainda podem responder por mais da metade da demanda global de petróleo até 2050.
O mercado petroquímico global deve crescer 6,2%, na média anual, até 2027, atingindo os US$ 926,21 bilhões ao fim do período, estima a ResearchAndMarkets.com.
Esse crescimento é sustentado, dentre outros fatores, pelo aumento da população mundial e da demanda por plásticos; pela disponibilidade abundante de matéria-prima no Oriente Médio; e pelo aumento da demanda da indústria de embalagens. O aumento dos preços do petróleo e as crescentes preocupações ambientais, por sua vez, jogam pressão para baixo.
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Ásia lidera expansão
O mercado que mais atrai investimentos em novas plantas petroquímicas, hoje, é o da Ásia – que tem mais de 800 empreendimentos planejados e anunciados até 2030, dos quais mais da metade disso na China, segundo a GlobalData. A Sinopec é o grande destaque em novos projetos.
No fluxo contrário, há companhias da região buscando se internacionalizar. É nesse contexto que se insere o interesse da Adnoc pela Braskem. A petroleira estatal decidiu acelerar a produção de suas reservas de óleo e gás nos Emirados Árabes Unidos e aumentar investimentos globais em gás natural, produtos químicos e renováveis.
A consultoria McKinsey destaca que, com a recente queda nas margens do setor, podem haver oportunidades para fusões e aquisições. A sobreposição de mercados e potenciais ganhos de economias de escala, por exemplo, podem oferecer justificativas estratégicas para combinação de negócios.
Petrobras reavalia presença no setor
A Petroleira ainda avalia se pretende cobrir as ofertas pela Braskem e assumir o controle da companhia.
Durante o governo Bolsonaro, sobretudo na gestão Roberto Castello Branco, ganhou força dentro da estatal o plano de vender a petroquímica.
O planejamento estratégico de longo prazo da Petrobras está em reavaliação. Com ou sem Braskem, o novo comando da Petrobras cogita voltar a investir em petroquímica, com planos no Polo Gaslub (o antigo Comperj).
Em paralelo, o governo quer aumentar a oferta de gás natural a preços competitivos para a indústria – e os setores químico e de fertilizantes estão entre as prioridades.
A priorização setorial do programa Gás para Empregar, contudo, ainda está em aberto e não se limita aos dois segmentos.