Para aonde vai o mercado?

Dez tendências da indústria de óleo e gás para 2025

Setor deve conviver com cenário de sobreoferta, mudanças na política dos EUA, tensões geopolíticas e mais

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante coletiva de imprensa na reunião anual do Fórum Econômico Mundial de 2020 em Davos-Klosters, Suíça, em 21/1/2020 (Foto Valeriano Di Domenicor/Fórum Econômico Mundial)
Donald Trump durante coletiva de imprensa na reunião anual do Fórum Econômico Mundial 2020 em Davos, Suíça, em 21 de janeiro | Foto Jakob Polacsek/Fórum Econômico Mundial

RIO – Para aonde vai a indústria de óleo e gás em 2025? Ao menos nos fundamentos do mercado de petróleo, a tendência é de sobreoferta – o que pode ajudar a pressionar os preços para baixo e a comprimir as margens no refino.

Mas o piso é movediço. As eleições em grandes economias globais em 2024, com destaque para a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, marcam uma mudança no cenário político para 2025 – com possíveis desdobramentos sobre o shale e o mercado de gás natural liquefeito (GNL), por exemplo.

Adicione-se a isso a persistência do quadro de conflitos geopolíticos em curso no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia – guerra prestes a completar três anos em fevereiro. Ou seja, a geopolítica continuará quente.

Nesse cenário, as petroleiras devem manter a disciplina de capital e o foco na remuneração dos acionistas, enquanto os investimentos em exploração e produção devem cair.

O protagonismo do setor deve vir das NOCs (estatais), tanto na produção de óleo e gás quanto nos negócios de baixo carbono.

Num ano de decisões na política climática, com a COP30, aliás, a expectativa é que o mercado de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS) ganhe tração.

A seguir, a agência eixos apresenta dez grandes tendências para a indústria de óleo e gás em 2025, com base em relatórios recentes da Rystad Energy e Wood Mackenzie. Confira:

1) Incertezas geopolíticas continuam

Os conflitos em curso no Oriente Médio e a guerra entre Rússia e Ucrânia continuarão a chamar atenção no cenário global. 

Mas a dinâmica entre China e EUA, sob uma nova administração de Donald Trump, será o destaque, cita a Rystad. 

A ameaça de uma guerra comercial global desencadeada por tarifas dos EUA pode, potencialmente, paralisar o crescimento econômico mundial e alimentar políticas protecionistas.

A Rystad, aliás, cita que a desaceleração econômica da China – impulsionada por um setor imobiliário em dificuldades e pela confiança do consumidor reprimida – corre o risco de criar efeitos cascata sobre outras economias ao redor do mundo.

A consultoria destaca, nesse sentido, que a era da China como impulsionadora do crescimento do consumo de petróleo acabou: a demanda por diesel no país asiático já atingiu o seu pico e o consumo de gasolina e carvão está se estabilizando. 

2) Sobreoferta pressiona preços para baixo

O CEO e fundador da Rystad Energy, Jarand Rystad, acredita que estamos passando de uma época de escassez de energia para uma época de abundância de energia – o que deve pressionar para baixo os preços do petróleo.

A Agência de Informações Energéticas (EIA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, prevê o Brent em US$ 74 o barril, na média, em 2025 – ante os US$ 79 de 2024.

A Rystad estima que a demanda global por líquidos deve crescer 1 milhão de barris/dia, enquanto a oferta não-Opep+ de óleo deve aumentar num ritmo maior, de 1,4 milhão de barris/dia. 

“Diante de um mercado de petróleo com excesso de oferta, a Opep+ pode precisar estender seus cortes de produção até 2025 para proteger os preços do petróleo”, comenta.

3) Margens de refino comprimidas

A Rystad prevê que as margens das refinarias provavelmente persistirão achatadas, particularmente durante a calmaria sazonal de demanda no 1º trimestre.

A perspectiva de crescimento do consumo – sobretudo na China – permanece moderada, impulsionada pela crescente participação de veículos elétricos e ganhos em eficiência no consumo de combustível.

Para o 2º semestre, contudo, o cenário pode mudar.

“Este ambiente prolongado de margem fraca já contribuiu para atritos de refinarias na China, EUA e Europa – uma tendência que deve continuar durante o ano novo. Atrasos no comissionamento de capacidade adicional também são cada vez mais prováveis”

“Esses fatores podem resultar em aperto de produto no 2º semestre de 2025, potencialmente impulsionando um grau de recuperação nas margens”, cita a analista sênior de Mercados de Commodities – Petróleo da Rystad, Valerie Panopio.

4) Investimento em E&P deve cair

Os investimentos globais em exploração e produção devem recuar 2% em 2025, sinalizando para um platô após o crescimento robusto do início da década, estima a Rystad. 

Em águas profundas, contudo, a previsão é que o capex cresça 3%, impulsionado pelo desenvolvimento de novos projetos no Suriname, México e Turquia. 

Por outro lado, a Rystad estima um declínio de 8% nos investimentos em shale oil em 2025, devido a uma combinação de menor atividade e preços unitários reduzidos. 

A Wood Mackenzie acredita que as petroleiras devem se manter cautelosas e focadas em disciplina de capital, à medida que o setor entra em 2025 em meio a tensões geopolíticas e potenciais guerras comerciais.

As empresas darão ênfase ainda maior ao crescimento do fluxo de caixa livre para dar suporte aos retornos dos acionistas, prevê a consultoria.

5) NOCs serão protagonistas

A Wood Mackenzie destaca que, enquanto majors como bp, Equinor e Shell estão recalibrando suas estratégias em direção ao E&P, as NOCs (estatais) liderarão os investimentos em baixo carbono – com gastos combinados superiores a US$ 25 bilhões.

As NOCs também impulsionarão o crescimento da produção de óleo e gás em 2025, com destaque para empresas como a Saudi Aramco e Petrobras.

A expectativa é que a Adnoc e a Aramco continuem seus movimentos de expansão internacional de gás; e que as NOCs do Oriente Médio apostem mais no downstream.

A consultoria também cita que a Petrobras pode intensificar seus esforços de reinternacionalização – comprando ativos, por exemplo, na Namíbia; e que as chinesas finalmente ressurjam como compradoras internacionais.

E a Arábia Saudita parece pronta para abrir suas portas para investimentos internacionais. 

A exploração e produção não-convencional continuará sendo um tema de crescimento fundamental para a CNPC e Sinopec, na China, YPF na Argentina e Aramco na Arábia Saudita.

6) Shale não será movido pelo “drill, baby, drill”

Embora possam ser encorajados pela retórica de apoio de Donald Trump à produção de óleo e gás nos EUA, os executivos do setor estão menos propensos do que nunca a aumentar os orçamentos para mais perfuração.

Especialmente porque um potencial excesso de oferta paira sobre o mercado e a produtividade dos poços estagna, destaca a Rystad.

A Wood Mackenzie acrescenta que a tendência é de desaceleração na onda de fusões e aquisições no shale.

Quem comprou ativos nos últimos dois anos deve se concentrar na integração e execução do portfólio em 2025.

7) Cadeia fornecedora deve continuar pressionada

Mesmo com a expectativa de redução dos investimentos em E&P, a Rystad pontua que os desafios da cadeia de suprimentos ainda se manterão.

No offshore, gargalos na entrega de FPSOs, equipamentos submarinos, sondas de perfuração e outras embarcações continuarão a inflar e atrasar projetos. 

Na América do Norte, o aumento da otimização e eficiência de capital está alimentando ainda mais o excesso de capacidade e pressionando os lucros das empresas de serviços.

8) Cautela na retomada de projetos de GNL 

A Wood Mackenzie acredita que as decisões finais de investimento para novos projetos de liquefação nos EUA virão mais lentamente do que o governo Trump espera.

A revisão da moratória temporária anunciada em 2024 por Joe Biden (entenda) foi uma das promessas de campanha republicana.

A consultoria, porém, destaca que a retomada das licenças para novos projetos pode não ser o suficiente para tirá-los do papel. A pressão de ambientalistas, a judicialização do tema e os desdobramentos da eleição de Trump sobre a guerra comercial são alguns dos fatores que devem manter a névoa sobre o GNL nos Estados Unidos.

Além disso, cita a Wood Mackenzie, os novos projetos precisarão fechar seus contratos de engenharia, aquisição e construção num momento em que os custos estão aumentando, possivelmente criando problemas com compradores de gás e financiadores de projetos. 

“A próxima onda de novos investimentos em GNL dos EUA pode se materializar apenas em 2026”, escreveu Massimo Di Odoardo, vice-presidente de Pesquisa de Gás e GNL da Wood Mackenzie.

A Rystad acrescenta que acelerar esses projetos pode piorar o cenário de excesso de oferta global de GNL no médio prazo – e desestabilizar, assim, os preços.

Do ponto de vista geopolítico, segundo a consultoria, Trump enfrenta um equilíbrio delicado entre impulsionar as exportações de GNL dos EUA para a Europa e administrar sua posição sobre a Rússia. As exportações americanas de gás podem, nesse sentido, se tornar uma moeda de troca fundamental no comércio global.

“Com a crescente demanda de GNL da Europa, Trump vê uma oportunidade de reduzir a influência russa, mas acabar rapidamente com a guerra na Ucrânia, como ele repetidamente afirmou, pode exigir o alívio das sanções”

“Independentemente disso, a agenda energética de Trump em 2025 provavelmente remodelará os mercados de energia dos EUA e do mundo, mas o equilíbrio cuidadoso dos fundamentos do mercado e da geopolítica será crucial”, destacou Emily McClain, vice-presidente de Pesquisa de Mercado de Gás e GNL da América do Norte da Rystad.

9) Ano será decisivo para política climática

Em 2025, os países devem enviar suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), delineando ações climáticas até 2035. 

Na avaliação da Rystad, a COP30, a ser realizada em Belém (PA), em novembro, testará se esses planos se traduzem em progresso mensurável, especialmente em meio a desafios como mudanças políticas e inflação.

A consultoria cita que concluir as regras para o comércio de carbono será fundamental para aumentar a credibilidade e desbloquear novos mercados.

Na Europa, a expectativa é que a implementação do CBAM (o mecanismo de ajuste de fronteira de carbono) abra caminho para decisões finais de investimento em projetos envolvendo hidrogênio de baixo carbono e CCUS.

“No entanto, 2025 pode ser outra verificação da realidade para energias renováveis ​​e tecnologia limpa, com mudanças de políticas favorecendo combustíveis fósseis, ações de energia verde sob pressão e incerteza sobre financiamento e subsídios”, escreveu Artem Abramov, chefe de Pesquisa em Tecnologia Limpa da Rystad.

10) CCUS deve ganhar tração

O mercado de CCUS está pronto para um rápido crescimento. A Rystad espera, para 2025, uma onda de aprovações de decisão final de investimento (FIDs) no setor. 

Esse ímpeto decorre de políticas de apoio e financiamento na Europa; aumento da atividade de crédito de remoção de CO2; e a clareza do mercado pós-eleição nos EUA. 

Os principais desafios permanecem, incluindo a lacuna entre a demanda de captura de CO2 e a prontidão da infraestrutura – o que pode atrasar os projetos. 

A Rystad espera, nesse sentido, um progresso nas regulamentações de CCUS, particularmente na região da Ásia-Pacífico, e aprovações de licenças mais rápidas na América do Norte e na Europa.

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