BRASÍLIA – O presidente Lula (PT) voltou a defender a exploração de petróleo na margem equatorial durante evento em Macapá nesta quinta (13/2). Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), e de 12 ministros, Lula rejeitou que o avanço do licenciamento prejudique a imagem do Brasil na COP 30 e afirmou ter incumbido a Casa Civil de chegar a um denominador comum que possibilite a perfuração de poço exploratório pela Petrobras.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas deste ano irá acontecer em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro. Para Lula, o fato de países desenvolvidos estarem ampliando investimentos para aumentar a produção de petróleo e gás natural enfraquece o argumento de que o Brasil deveria desistir da nova fronteira exploratória.
“Tem gente que me fala: mas presidente, vai ter a COP aqui, vai ser muito ruim. Veja se os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Inglaterra estão preocupados. Não, eles exploram o quanto puder. É a Inglaterra que está aqui na Guiana. Então só nós que vamos comer pão com água?”, questionou.
Lula também afirmou que está longe o futuro em que o setor de energia não precisará de combustíveis fósseis e tornou a reforçar o papel dos recursos deste setor para a transição energética e a responsabilidade ambiental ao explorar.
“Eu quero preservar, mas eu não posso deixar uma riqueza, que a gente não sabe se tem e quanto é, a dois mil metros de profundidade, enquanto o Suriname e a Guiana estão ficando ricos às custas do petróleo que está a 50km de nós”, comentou o presidente.
Assim como fez em entrevista concedida a rádio de Macapá na quarta (12/2), Lula voltou a exaltar a competência técnica da Petrobras na exploração em águas profundas e escalou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para mediar a situação.
“Lenga-lenga” do Ibama
Declaração de Lula feita durante a entrevista à rádio repercutiu mal entre ambientalistas, servidores do Ibama e organizações de proteção ambiental.
“Na semana que vem, ou esta semana ainda, vai ter uma reunião da Casa Civil com o Ibama e nós precisamos autorizar que a Petrobras faça a pesquisa. É isso que nós queremos, se depois a gente vai explorar, é outra discussão. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, disse Lula.
Servidores e ambientalistas reagiram
A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional) rebateu as declarações do presidente.
“O Ibama é um órgão de Estado, cuja missão é a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais do Brasil, e todas as suas decisões são baseadas em critérios técnicos, científicos e legais”, escreveu a Ascema, em nota.
O Instituto Arayara também reagiu às críticas de Lula ao Ibama, classificando como “ofensa às autoridades ambientais” a declaração do presidente durante entrevista a uma rádio de Macapá (AP).
“O Instituto Internacional Arayara lamenta o posicionamento do presidente da República. Para usarmos a expressão adotada pela maior autoridade do país, lenga-lenga é a postura dúbia de governantes que se dizem preocupados com o aquecimento mas não resistem ao canto da sereia do poderoso setor de combustíveis fósseis, causa maior das mudanças climáticas que ameaçam o planeta”, disse a instituição em o comunicado.
Mais pressão
O Observatório do Clima e o Greenpeace engrossaram o coro das entidades que criticaram a fala de Lula.
O Greenpeace divulgou nota em que alega “extrema preocupação” das disputas de narrativas políticas envolvendo a bacia da Foz do Amazonas.
“Além de colocarem em xeque a credibilidade e competência de órgãos importantes, como o Ibama, e confundirem a opinião pública ao afirmar que trata-se apenas de uma “fase de pesquisa”, tais polêmicas desviam a atenção para a falta de um plano concreto e eficiente sobre transição energética no Brasil” disse a ONG por meio de nota.
Para o Observatório do Clima, o Brasil “dobra a aposta” na expansão da exploração de petróleo, na contramão de compromisso assumido no Acordo de Paris.