RIO — O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) acredita que a cúpula do Brics, marcada para julho no Rio de Janeiro, pode ser uma janela de oportunidade para aumento da exportação de petróleo brasileiro, intensificando as transações com Índia e China.
O Brics é formado atualmente por onze países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (membros originais), além de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã.
O bloco soma uma produção conjunta de 42 milhões de barris de petróleo por dia (boe/dia), segundo dados do Departamento de Energia dos EUA (EIA). É o correspondente a pouco menos da metade da produção mundial de cerca de 100 milhões de boe/dia.
“O Brasil está exportando 1,9 milhões de barris. Muito desse petróleo está indo hoje para a China e para a Índia. O Brasil está se impondo como um fornecedor importante para esses mercados internacionais”, avalia Roberto Ardenghy, presidente do IBP, em entrevista à agência eixos.
Ardenghy pontua que o Brasil vem se tornando um fornecedor confiável de petróleo a esses países, por não estar próximo a regiões de conflito, como no Oriente Médio.
“O Brasil tem um oceano Atlântico aberto, não temos conflitos na região, somos um fornecedor confiável para o mercado mundial. Isso está sendo cada vez mais reconhecido. Essa discussão deve aparecer lá no Brics como uma das oportunidades do Brasil”.
Ele lembra ainda que países como China e Índia dependem fortemente do carvão, que emite cerca de duas vezes mais CO2 do que o petróleo.
“Se a China e a Índia mudarem do carvão para o petróleo, elas vão descarbonizar de maneira importante a sua matriz energética”.
O executivo também chama a atenção para a possibilidade de o petróleo brasileiro substituir parte do petróleo dos EUA que hoje é importado pela China, por conta das imposições tarifárias entre os países.
Nesta segunda (10/2), a China impôs uma tarifa de 10% sobre o petróleo importado dos EUA, em resposta ao país norte-americano que taxou em 10% todas as importações chinesas.
“Esse momento de guerra comercial e de protecionismo pode criar oportunidades, inclusive para o petróleo brasileiro”, acredita Ardenghy.
“Os Estados Unidos exportam petróleo para a China e não vai mais exportar por causa das barreiras. Então vai surgir uma necessidade. A China vai continuar comprando esse petróleo. Se não comprar dos Estados Unidos, vai comprar de alguém. E pode surgir uma oportunidade aí”, detalha.
Contudo, o IBP tem o desafio de impedir a aplicação do imposto seletivo, da reforma tributária, sobre as exportações petróleo. Segundo Ardenghy, a expectativa é que o Congresso derrube o veto presidencial ao inciso I do Art. 413 do PLP 68/2024, garantindo assim a não incidência da taxação.
COP30 e o papel do óleo na transição
A aposta na exportação de petróleo também será a mensagem levada à 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP30), prevista para novembro de 2025 em Belém (PA). O IBP vai defender a continuidade da exploração e produção de óleo no Brasil, baseado em um estudo feito em parceria com a consultoria Catavento e o Instituto Clima e Sociedade (iCS).
A análise propõe uma abordagem multicritério para avaliar a continuidade da exploração de petróleo e gás no cenário de transição energética e sugere que o abandono das atividades de extração não deve ser guiado apenas pela renda dos países, mas sim por fatores como competitividade de custo, pegada de carbono e segurança energética.
A tese central é que o petróleo brasileiro, por ser de alta qualidade, com baixo teor de enxofre e baixas emissões de CO2, deve permanecer como uma opção viável, segura e estratégica na transição energética global.
“Se o petróleo vai estar presente, tem que ser o petróleo brasileiro. Essa é a tese. Porque o nosso petróleo é um petróleo competitivo, alta qualidade, baixo enxofre, baixa emissão de CO2”, defende Ardenghy.
A defesa ocorre em meio às discussões sobre a necessidade de exploração de novas fronteiras petrolíferas pelo Brasil, embaladas pela Margem Equatorial, que inclui a Foz do Amazonas.
O argumento é que o projeto da Petrobras na região seria capaz de compensar o declínio de produção esperado na próxima década nas Bacias do pré-sal de Campos e Santos, que representam hoje 95% das reservas provadas brasileiras.
“Temos que continuar procurando e, de preferência, encontrando petróleo em outras reservas e bacias sedimentares”, diz o presidente do IBP.
“Vemos tanto a Bacia de Pelotas, no extremo sul do Brasil, quanto a Foz do Amazonas, a chamada Margem Equatorial, como perspectivas positivas para fazer essa substituição das reservas brasileiras, mantendo essa liderança do Brasil como um importante produtor”, completa.
O IBP também levará à COP 30 exemplos de tecnologias avançadas em descarbonização e sustentabilidade desenvolvidas pelo setor de óleo e gás.
Entre elas estão a captura, armazenamento e utilização de CO2 (CCUS), o uso de hidrogênio e a geotermia.
“O setor de óleo e gás tem coisas impressionantes sendo feitas em termos de tecnologia, como biocombustíveis, hidrogênio e eólicas offshore”, enumera Ardenghy.
“Não queremos ficar fora do debate, esse é o nosso objetivo. Achamos que não podemos ser tirados da mesa. Somos muito importantes”.
Ardenghy lembra que o país tem uma matriz energética limpa, com apenas 0,97% das emissões nacionais provenientes da exploração e produção de petróleo e gás, um número significativamente menor do que em outros países produtores.
“O Brasil tem uma matriz energética muito limpa. Se você pegar as emissões do Brasil hoje, a produção de petróleo emite 0,97%. Enquanto tem países que esse número é 10, 20 vezes maior”.
Eólica offshore para descarbonizar O&G
O IBP também reforça o interesse de suas associadas no desenvolvimento de energia eólica offshore.
A expectativa, segundo Ardenghy, é que o primeiro leilão para cessão de áreas destinadas a esse tipo de energia ocorra ainda este ano.
“Queremos logo ajudar a fazer essa regulamentação para que em outubro possamos ter a primeira a primeira licitação de áreas”.
Uma das possibilidades no radar de petroleiras é utilizar plataformas descomissionadas para a instalação de eólicas offshore, aproveitando a infraestrutura existente, o que poderia reduzir custos e estender a vida útil dessas plataformas por até vinte anos.
“É uma linha de negócio interessante (…) Tem muitas plataformas hoje que estão sendo descomissionadas em locais como o Ceará e o Rio Grande do Norte, que poderiam ser utilizadas como fontes geradoras de energia eólica”, explica.
“São plataformas fixas que estão relativamente próximas da costa, de oito a dez quilômetros. Então, você pode puxar o cabo de energia e jogar aquela energia pra rede usando um cabo submarino”.
Outra alternativa é a instalação de eólicas offshore em plataformas ativas, como forma de eletrificar as atividades de exploração e produção de petróleo, reduzindo ainda mais a pegada de carbono do setor.
Esse modelo já é utilizado na Noruega, país que produz petróleo com o menor índice de emissões de CO2 do mundo.
“Isso é muito usado na Noruega. E é por isso que a Noruega produz o petróleo com o menor índice de emissão de CO2 do mundo”, comenta Ardenghy.