No setor de petróleo e gás, especialmente na área de manutenção, existe uma cultura silenciosa, mas profundamente enraizada: a cultura da emergência. Em muitos campos e bases operacionais, a rotina ainda gira em torno do “apagar incêndios”, das respostas rápidas e improvisadas que substituem o planejamento preventivo.
É uma forma de operar que pode parecer eficiente no curto prazo, mas que cobra um preço alto em segurança, produtividade e reputação.
Em um ambiente onde ativos complexos operam sob alta pressão, qualquer falha não planejada pode significar perdas milionárias e, principalmente, riscos à integridade das pessoas.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), cerca de 65% dos incidentes reportados em operações terrestres têm origem em falhas de manutenção corretiva, ou seja, problemas que poderiam ter sido evitados com inspeção e monitoramento adequados.
A manutenção preventiva e preditiva são pilares da segurança operacional. No entanto, ainda é comum ver equipes agindo de forma reativa, com planos de ação elaborados apenas após o evento.
Esse comportamento é reflexo direto da falta de cultura de planejamento. As agendas são dominadas por urgências, os recursos são deslocados às pressas e a análise de causa raiz acaba substituída por soluções paliativas.
Empresas que operam com maturidade em gestão de ativos sabem que segurança não se improvisa.
O International Association of Oil & Gas Producers (IOGP) aponta que organizações com programas estruturados de manutenção preventiva reduzem em até 40% o número de incidentes operacionais e prolongam em até 20% a vida útil dos equipamentos críticos.
Isso significa menos paradas inesperadas, menos exposição a riscos e mais confiabilidade operacional.
A cultura da emergência nasce, muitas vezes, da crença de que planejar custa caro. Mas os números mostram o oposto. Estudos da Society for Maintenance & Reliability Professionals (SMRP) indicam que o custo de uma manutenção corretiva é, em média, quatro vezes maior do que o de uma manutenção planejada.
Além disso, o tempo médio de inatividade dos equipamentos em ações emergenciais é 70% superior, afetando diretamente o cronograma e o faturamento.
Outro ponto crítico é o impacto humano. Operar sob constante estado de urgência desgasta equipes, aumenta a fadiga e reduz a atenção aos procedimentos. Na indústria do petróleo, onde a segurança depende da disciplina operacional, o cansaço e a pressão são inimigos silenciosos.
O Bureau of Safety and Environmental Enforcement (BSEE), dos Estados Unidos, já alertou que 80% dos acidentes em plataformas e bases terrestres têm o erro humano como fator contribuinte, e muitas das vezes está ligado à pressa ou à falta de planejamento.
Superar essa mentalidade exige uma mudança cultural. É preciso migrar do “corrigir depois” para o “prevenir antes”. Isso passa por treinar equipes, integrar dados de manutenção em sistemas digitais e, principalmente, reconhecer que segurança operacional é resultado de constância, não de heroísmo em momentos de crise.
A previsibilidade deve ser vista como ativo estratégico, não como luxo de grandes empresas.
O mercado onshore brasileiro tem avançado em tecnologias de monitoramento remoto, uso de sensores IoT e análise de dados para manutenção preditiva. Mas tecnologia sem cultura não resolve.
O maior desafio ainda é transformar a mentalidade das equipes e lideranças, para que enxerguem o planejamento como ferramenta de eficiência, e não como burocracia.
A segurança operacional não nasce da velocidade da resposta, mas da inteligência do preparo. Enquanto o setor insistir em reagir ao invés de planejar, continuará desperdiçando tempo, recursos e, principalmente, segurança.
Maria Gabriela de Moraes é diretora comercial da Private Log.
