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Petroleiras pagaram mais dividendos que investiram em 2022, diz Westwood

Para consultoria, debate sobre taxação dos lucros da indústria petrolífera deve continuar aceso

Petroleiras pagaram mais dividendos que investiram em 2022, diz Westwood. Na imagem: Plataforma para exploração de óleo e gás offshore (Foto: Wiki Commons)
Petroleiras pagaram mais dividendos do que investiram em 2022 (Foto: Wiki Commons)

RIO — Enriquecidas pela valorização do barril, as grandes petroleiras globais preferiram pagar mais dividendos do que investir em 2022, num cenário oposto ao vivido pelo setor em 2013 – quando o preço do petróleo superou, pela última vez, a média anual de US$ 100 o barril.

A distribuição recorde de dividendos e o pé no freio das petroleiras na retomada dos investimentos devem manter aceso o debate sobre a criação de windfall taxes (taxação sobre lucros extraordinários), na avaliação da Westwood Global Energy Group.

Levantamento da consultoria mostra que as cinco supermajors (bp, Chevron, ExxonMobil, Shell e TotalEnergies) apostaram na disciplina de capital e conseguiram aumentar, em uma década, o fluxo de caixa operacional, mesmo com a queda na produção no período.

De acordo com a Westwood, as cinco petroleiras, juntas:

  • reduziram a produção em 5,8% em 2022, em relação a 2013, de 15,5 milhões de barris diários de óleo equivalente (boe/dia) para 14,6 milhões de boe/dia;
  • mas ampliaram o fluxo de caixa operacional em 65,5%, dos US$ 171 bilhões em 2013 (US$ 30,2/barril) para US$ 283 bilhões (US$ 53,1/barril).

A consultoria destaca que as companhias se tornaram incrivelmente eficientes na geração de caixa. E optaram por direcionar a maior parte dos lucros para dividendos e programas de recompra de ações.

Dividendo recorde e investimento aquém

Ao todo, as cinco supermajors pagaram, juntas, a cifra recorde de US$ 111 bilhões aos acionistas em 2022, o dobro dos US$ 55 bilhões em 2013.

Embora tenham crescido em relação a 2021, os investimentos, por sua vez, recuaram 55,8% na comparação com 2013, para US$ 83 bilhões em 2022.

  • o investimento por barril caiu de US$ 33,2 em 2013 para US$ 15,1 em 2022;
  • e o pagamento aos acionistas subiu de US$ 9,7 por barril para US$ 20,8/barril.

Com investidores mais avessos aos combustíveis fósseis, as petroleiras aproveitam o momento favorável de geração de caixa para aumentar a remuneração aos acionistas.

Os custos da cadeia de suprimentos, hoje, são mais baixos que em 2013.

“Mesmo assim, há claramente capacidade financeira para gastar mais se as empresas optarem por fazê-lo”, cita o relatório da Westwood.

Apenas 29 centavos em cada dólar do fluxo de caixa operacional foi reinvestido – e apenas 19 centavos disso na exploração e produção de óleo e gás.

Mas por que as petroleiras desaceleraram os investimentos?

A Westwood destaca que, diferentemente do cenário da indústria de uma década atrás, as empresas têm focado na geração de valor, acima da geração de volumes.

A ênfase é nos baixos custos, produção com menos emissões, forte geração de caixa e generosas distribuições aos acionistas.

A disciplina de capital é prometida com projetos resilientes a preços baixos.

A consultoria lembra, também, que as petroleiras têm, hoje, portfólios menores e que o sucesso exploratório nos últimos anos tem sido modesto.

Além, claro, da transição energética – que traz incertezas sobre os patamares futuros de demanda de combustíveis fósseis.

Para aprofundar:

Windfall tax em debate

A Westwood não acredita que as grandes petrolíferas vão “abrir as torneiras” dos investimentos daqui para frente, mesmo com a alta dos preços.

“Os modestos níveis de investimento de capital em comparação com as distribuições dos acionistas atraíram a atenção política em um momento de alta inflação, quando os governos da Europa estão tendo que subsidiar as contas de energia. O clamor por windfall taxes para capturar os lucros excepcionais provou ser difícil de resistir”, analisa a consultoria.

No Brasil, a taxação dos lucros do petróleo entrou no debate, em 2022, sobre o PLP 18/2022 (do teto do ICMS).

A ideia levantada pelos estados, na ocasião, era aumentar a alíquota da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) do setor de petróleo, de 9% para 20% a 30%, atrelada ao comportamento do preço do barril – uma espécie de windfall tax à brasileira.

O objetivo era abrir uma nova fonte de receitas à União e, assim, permitir a montagem de um fundo para compensar a queda de arrecadação estadual prevista com a redução das alíquotas do ICMS.

A Petrobras, em 2022, quebrou recordes de dividendos.

A proposta não avançou, mas a indústria petrolífera teme que discussões sobre o aumento da carga tributária sobre o setor volte à mesa numa eventual criação do fundo de estabilização (PL 1.472/2021) – defendido pelo ex-senador e atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

O projeto previa, originalmente, a taxação das exportações de óleo. A ideia, contudo, foi  deixada de lado na negociação para aprovação do texto no Senado. A proposta do fundo foi, posteriormente, engavetada por Arthur Lira na Câmara.