RIO – A Fluxus, subsidiária de óleo e gás do grupo J&F, dos irmãos Batista, mira oportunidades de negócios na Venezuela a médio prazo, mesmo diante do quadro de instabilidade política no país vizinho, afirmou nesta terça-feira (6/8) o presidente da companhia, Ricardo Savini.
A Venezuela vive uma forte turbulência política, agravada nos últimos dias pela indefinição sobre as eleições presidenciais de 28 de julho. O atual presidente, Nicolás Maduro, e o candidato da oposição, Edmundo González, se proclamaram vencedores.
Apesar disso, a Fluxus aposta no alto volume de reservas do país. Savini acredita que há um potencial para estabilização na Venezuela no longo prazo.
“O ambiente é complexo do ponto de vista político interno da Venezuela, mas um problema que eles não têm é a ausência de hidrocarbonetos”, disse o executivo a jornalistas, após participar do Fórum de Energia da S&P Global Commodity Insights, no Rio.
“Eles precisam do apoio da iniciativa privada”, completou.
Majors estão presentes na Venezuela
Savini lembrou que grandes petroleiras internacionais, como Chevron e Shell, possuem investimentos na Venezuela. Para ele, isso mostra que não é difícil dialogar com a estatal PDVSA, sócia obrigatória de todos os projetos no país.
“A Chevron está lá. Se fosse assim tão difícil, por que ela está lá? Não é”, acrescentou.
Savini acredita que surgirão oportunidades para investimentos em exploração e produção de petróleo na Venezuela no médio prazo. Não há perspectivas, no entanto, para investimentos no curto prazo.
“O Brasil, no meu entender, está tentando ser uma solução. Tudo aqui sobre a Venezuela se politiza extremamente, mas é um país irmão, um país vizinho, um país muito querido e forte na nossa indústria, que vai ter que encontrar seus caminhos”, disse, ao ser questionado sobre a postura diplomática do Brasil ante a crise política no país vizinho.
Fluxus monta portfólio na América Latina
A Fluxus foi fundada por Savini – que foi fundador também da 3R Petroleum.
A companhia foi comprada pela J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e no momento está numa fase de montagem de portfólio.
A empresa busca ativos para atender, sobretudo, às termelétricas da Âmbar Energia, do mesmo grupo. A demanda das usinas da empresa e da ordem de 15 milhões de m3/dia.
A Fluxus anunciou, recentemente, um plano de investir R$ 100 milhões na Bolívia até 2028, depois da compra da Pluspetrol Bolívia, para recuperar a produção dos campos.
Savini afirma que ainda existe um potencial “altíssimo” de descobertas de gás no país e que o governo boliviano tem se mostrado aberto aos pleitos dos investidores.
Segundo o executivo, a mudança mais relevante que a Bolívia precisa fazer para voltar a atrair investimentos é reduzir a parcela dos ganhos que fica com o governo local (o government take), que hoje varia de 60% a 92%.
A expectativa é que as alterações ocorram em cerca de dois anos.
“A gente aposta que o modelo econômico boliviano chegou ao fim”, disse
A Fluxus também quer atuar como operadora na Argentina, na Bacia de Neuquén, onde estão concentradas as grandes reservas não convencionais de óleo e gás da formação Vaca Muerta. No ano passado, a empresa comprou ativos da Pluspetrol no país, mas com foco em exploração e produção convencionais.
Oportunidades de aquisição no Brasil são menores
Segundo ele, a J&F mira ativos nos países vizinhos porque a indústria brasileira, hoje, oferece menos oportunidades de aquisições – sobretudo depois da interrupção do processo de venda de ativos da Petrobras.
“Aqui está todo mundo posicionado. Tudo que tinha que ser vendido foi vendido. Quem comprou não está vendendo”, disse
Savini diz ainda que o potencial de exploração terrestre no Brasil, incluindo recursos não convencionais, é menor do que em outras regiões na América Latina.
“O fracking [o fraturamento hidráulico, técnica de exploração e produção não convencional] aqui no Brasil ainda tem o imbróglio jurídico. E, ainda que destravasse, a produtividade do nosso não convencional é muito pior que o da Argentina. No meu entender, também é pior que o da Bolívia, do qual muito pouco se fala”, disse.
Ele também conta que a Fluxus não tem planos, no momento, de entrar na Guiana, nem na Margem Equatorial brasileira.
“A gente conhece profundamente [a Guiana], mas é um lugar que hoje é uma ‘briga de cachorro grande’”, explicou.
Sobre a Margem Equatorial, por sua vez, Savini pontua que o risco geológico da região ainda é superior ao risco de outras fronteiras exploratórias na América Latina.