Biocombustíveis

Petrobras vai revisar plano estratégico ao final do ano, diz Tolmasquim

Companhia estuda novos investimentos, reposicionamento em renováveis e abandono de políticas de governos passados

Maurício Tolmasquim assume área responsável por plano estratégico da Petrobras. Na imagem: Maurício Tolmasquim, gerente executivo de Estratégia da Petrobras, foi coordenador executivo do GT de Minas e Energia da transição de governo (Foto: José Cruz/Agência Senado)
Maurício Tolmasquim, novo gerente executivo de Estratégia da Petrobras, foi coordenador executivo do GT de Minas e Energia da transição de governo (Foto: José Cruz/Agência Senado)

RIO – A Petrobras começou a revisão do plano estratégico quinquenal e vai divulgar ao final de 2023 o novo planejamento para o período 2024-2028, nos moldes das últimas revisões, disse Maurício Tolmasquim, atual gerente executivo de Estratégia da Petrobras.

Tolmasquim foi indicado para a diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis, nova área criada na empresa, mas que ainda precisa da aprovação do conselho de administração para ser implantada de fato.

Segundo Tolmasquim, a elaboração do novo plano ainda está no início. O executivo afirmou que a transição energética “não era prioridade” para a Petrobras e que a empresa “está atrasada” em relação às emissões de escopo 3, que envolvem os produtos oferecidos ao mercado – no caso, majoritariamente, derivados de petróleo.

Necessidade de diversificar o portfólio

“Nosso desafio é recuperar o tempo perdido”, disse o executivo, nesta terça (18/4).

Em evento no Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Tolmasquim ressaltou que a descarbonização dos produtos da empresa é um dos temas que devem ter mais espaço no novo plano.

“Sem dúvida o petróleo ainda vai gerar renda durante algum tempo para a Petrobras, mas isso não significa que a empresa deva olhar só para isso. É necessário diversificar o portfólio, as atividades, porque é inelutável que a longo prazo a demanda de petróleo no mundo caia e a Petrobras tem que estar preparada para essa nova realidade”, disse.

O plano estratégico 2023-2027 da Petrobras estabeleceu como áreas prioritárias a serem estudadas pela companhia na transição energética os segmentos de eólicas offshore, hidrogênio, biorrefino e captura de carbono. Entre essas áreas, a única que teve valores de investimento definidos foi o biorrefino, com a previsão de um aporte de US$ 600 milhões até 2027.

O relatório de transição de governo havia elencado a revisão do plano estratégico 2023-2027 da Petrobras entre os temas prioritários do novo governo, com a necessidade de indicação de um novo planejamento em até 60 dias após a posse do presidente Lula.

O objetivo, segundo o grupo de transição, deve ser retomar a participação da companhia em setores como refino, distribuição e biocombustíveis.

A Petrobras, no entanto, tem mecanismos internos de elaboração e aprovação de propostas para o planejamento quinquenal que demandam um período mais longo do que os 60 dias propostos pelo grupo de transição.

A reformulação do conselho de administração, área responsável por revisar o plano, ainda está em curso e só deve ser concluída na próxima semana, em 27 de abril, quando os acionistas vão decidir qual será o novo conselho da Petrobras.

Produtos no radar da novas diretorias

A diretoria da Petrobras fechou nesta quinta (6/4) a proposta de reformulação do comando executivo da companhia, com a criação da diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis.

A nova diretoria “coordenará as atividades de descarbonização, mudanças climáticas, novas tecnologias e sustentabilidade e incorporará as atividades comerciais de gás natural”, informou a empresa. A mudança era esperada desde o início do governo Lula.

Em artigo recente, Jean Paul Prates defendeu que a companhia deve “aplicar a experiência e a excelência técnica da Petrobras no desenvolvimento de bioprodutos e em novas fronteiras de energia renovável, em busca de oportunidades para diversificação das nossas operações”.

Ele cita que o gás natural é “o combustível de transição para o hidrogênio”. E os planos da Petrobras para “converter nossas unidades de refino em bio-petro-gás refinarias, onde processaremos combustíveis de nova geração”.

O executivo reforça que novos negócios em energia, como o investimento da companhia em eólicas offshore, estão integrados com o perfil da Petrobras.

“Nossas operações em águas profundas e ultraprofundas nos colocam em posição privilegiada para a geração de energia eólica offshore, inclusive de forma integrada à produção de petróleo e gás”, diz.

Biorrefino e o fim da venda das refinarias

A Petrobras reforçou a intenção de rever os compromissos com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a venda de suas refinarias – e traça planos de investimentos em biorrefino em unidades colocadas à venda no governo de Jair Bolsonaro (PL).

A companhia estuda plantas dedicadas de diesel renovável na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca (PE), e no Polo Gaslub (antigo Comperj), em Itaboraí (RJ), além de expandir a produção do diesel coprocessado na Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais. Já produz na Presidente Vargas (Repar), no Paraná.

São unidades que foram colocadas à venda.

“Nós respeitamos as alegações do Cade, mas temos agora que nos defender, tanto no caso dos combustíveis, que nos obrigaram a vender refinarias, a nosso ver indevidamente, sem a defesa à altura que o caso merecia, como na questão do gás”, afirmou Prates, ontem, a jornalistas, após evento na Fiesp

A Petrobras esclareceu ao mercado que buscará “construir em conjunto com o Cade uma solução para conciliar os compromissos assumidos anteriormente com as novas propostas a serem consideradas no planejamento estratégico”.

O que muda na diretoria da Petrobras?

A diretoria de Desenvolvimento da Produção, ocupada por Carlos José do Nascimento Travassos, será a nova diretoria de Engenharia, Tecnologia e Inovação. Incorpora o Cenpes, centro de P&D da Petrobras.

Refino, Gás e Energia, de William França da Silva, passa a ser a diretoria de Processos Industriais e Produtos. Será responsável pela produção de derivados de petróleo, de gás natural e biocomponentes.

A diretoria de Comercialização e Logística, de Claudio Romeo Schlosser, será a de Logística, Comercialização e Mercados.

A proposta prevê a extinção da diretoria de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade. A atual diretora, Clarice Coppetti, que tomou posse no fim do mês passado, será indicada para a diretoria de Gestão Corporativa.

Ficará responsável por gestão de pessoas, saúde, meio ambiente e segurança (SMS) e serviços compartilhados. Assume assim, a estrutura de transformação digital e tecnologia de informação.

Carlos Augusto Barreto segue, portanto, responsável pela área de Transformação Digital, ligada à diretoria de Gestão Corporativa, de Coppeti.

A diretoria Financeira e de Relacionamento com Investidores, de Sergio Caetano Leite, passa a ser responsável também pela gestão de portfólio, área que cuida, entre outros pontos, da venda de ativos da Petrobras.

Ficam mantidas as diretorias de Exploração e Produção, com Joelson Falcão. e de Governança e Conformidade, com Salvador Dahan.