Gás Natural

Petrobras recorre a contratos mais longos, de olho na abertura do mercado de gás

Novos fornecedores ampliaram em cerca de 85% os volumes firmes contratados com as distribuidoras para 2023

Petrobras recorre a contratos mais longos, de olho na abertura do mercado de gás. Na imagem: Dutos da unidade de processamento de gás natural no pólo industrial de Guamaré (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)
Dutos da unidade de processamento de gás natural no pólo industrial de Guamaré (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Novos fornecedores ampliam volumes contratados em 2023. De olho na competição no futuro, Petrobras recorre a contratos de longo prazo.

Privatização da ES Gás marcada para março. ANP reabre debate sobre especificação do gás. E mais. Confira:

Novos agentes ampliam volumes e Petrobras responde

Os novos fornecedores de gás natural ampliaram em cerca de 85% os volumes firmes contratados com as distribuidoras de gás canalizado para 2023, em relação aos patamares que estavam sob contrato ao fim de 2022.

Ao todo, os novos agentes já somam compromissos de suprimento de até 9,7 milhões de m3/dia este ano.

Em paralelo, a Petrobras – que vinha, em geral, trabalhando com contratos de curto e médio prazos – passou a apostar em acordos mais longos com as concessionárias.

Recentemente, a Petrobras fechou contratos até 2032 com a Gasmig (MG), Compagas (PR) e Sulgás (RS).

E também com a Cegás (CE), ES Gás (ES), SCGás (SC), dentro do  arranjo das negociações para encerrar as disputas judiciais com as três distribuidoras.

A Petrobras já garantiu, assim, um consumo firme para 3,735 milhões de m3/dia entre 2029 e 2032. O volume representa cerca de 10% da atual oferta de gás nacional da empresa.

Os contratos de longo prazo da Petrobras vêm num momento em que a abertura do mercado brasileiro ainda dá seus primeiros passos. E em que novos fornecedores, como Galp e PetroReconcavo, também lançam mão de acordos mais longevos.

Petrobras estabelece as bases

Como agente dominante, a Petrobras funciona como um importante precificador do mercado, estabelecendo as condições de base para os demais supridores.

Em todos os novos contratos, a petroleira fixou em 12,9% o percentual do preço do petróleo ao qual o gás é indexado (o fator Brent).

Acordos de longo prazo, no contexto atual do mercado, ajudam a “travar” um mercado consumidor, diante das perspectivas de abertura do setor — sem, contudo, fechar possibilidades de que a petroleira venha a explorar, no futuro, o mercado livre.

Os novos contratos de longo prazo da Petrobras permitem a redução dos volumes contratados pelas distribuidoras em casos em que usuários livres venham a contratar gás da petroleira.

E fixa ainda alguns mecanismos que reduzem a exposição da empresa aos riscos, em casos em que o consumidor livre contratar gás diretamente de outros fornecedores.

Portfólio diversificado. Em geral, as companhias optam por diversificar riscos e compor uma carteira que equilibra contratos com diferentes prazos.

“A nossa estratégia é de ofertar produtos comerciais diversificados, com prazos, indexações e flexibilidades de acordo com as necessidades dos clientes”, destacou a Petrobras, em nota.

A petroleira fechou contratos de longo prazo com:

  • Compagas, para fornecimento de 208 mil m3/dia entre 2024-2032;
  • Gasmig, para envio de 1 milhão de m3/dia entre 2024-2032;
  • Sulgás, para venda de 350 mil m3/dia entre 2024-2025 e 480 mil m3/dia entre 2026-2032.

Quem comprou e quem vendeu

Os novos fornecedores somam até 9,7 milhões de m3/dia em compromissos de entrega com as distribuidoras em 2023. O número inclui tanto os novos acordos mais recentes quanto os volumes já previstos em contratos passados. É cerca de 22% da demanda não-termelétrica das distribuidoras estaduais.

A principal contribuição para o aumento dos volumes de gás de terceiros em 2023 virá da Compass, que inaugura este ano o Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP) e tem contrato para venda de até 3,125 milhões de m3/dia com a Comgás (SP) a partir deste ano.

De uma forma geral, apesar da entrada de novos agentes, o mercado ainda se mantém bastante concentrado. E parte da cadeia, como as indústrias e distribuidoras, vê com bons olhos a criação de um programa de gas release (para desconcentração da oferta).

O assunto está em avaliação na ANP. A consultoria internacional Brattle Group, em estudo encomendado por 14 entidades do setor produtivo, apontou que para que o Brasil chegue num nível adequado de competição e atratividade de investimentos é preciso que a fatia da Petrobras no mercado braasileiro caia para 25%, entre cinco e dez anos.

A seguir, a gas week apresenta um panorama atualizado do mercado, com o resumo de todos os contratos de gás firme entre os novos fornecedores e distribuidoras. Não incluímos, aqui, os acordos nas modalidades PUT (opção de venda) e interruptível.

3R Petroleum: tem contrato com a Bahiagás, para envio de 177 mil m3/dia em 2023 e 200 mil m3/dia no 1º semestre de 2024.

Alvopetro: contrato de longo prazo com a Bahiagás prevê a entrega de 150 mil m³/dia.

Compass: tem compromisso para venda de 3,125 milhões de m3/dia à Comgás em dez anos, a partir do TRSP. O GNL será fornecido pela TotalEnergies.

Equinor: Fechou um novo contrato com a Bahiagás, para 200 mil m3/dia em 2023 e 50 mil m3/dia entre 2024-2025. Também tem acordo com Cegás, para 150 mil m3/dia até 2024.

Galp: É o produtor privado com maior número de contratos com distribuidoras. Tem compromissos de suprimento com:

  • Bahiagás, para 900 mil m³/dia em 2023 e 860 mil m³/dia em 2024;
  • Cegás, para 50 mil m3/dia em 2023; e pico de 180 mil m3/dia entre 2026 e 2031;
  • ES Gás, para 100 mil m³/dia em 2023-2024; e pico de 300 mil m³/dia entre 2026-2032;
  • Gasmig, para 450 mil m3/dia em 2023 e um pico de 900 mil m3/dia entre 2026 e 2032; até encerrar em 250 mil m3/dia em 2042;
  • Potigás, para até 24 mil m3/dia no 1º bimestre e 1 mil m3/dia até o fim de 2023;
  • SCGás, para 60 mil m3/dia em 2023, e pico de 800 mil m3/dia entre 2027-2032;
  • e Sergas, para venda de 40 mil m3/dia até o fim 2023 e 50 mil m3/dia entre 2024-31

New Fortress: tem um acordo com a Copergás (PE), para entrega de 40 mil m³/dia entre 2023 e 2026; e contrato com a SCGás para venda de 150 mil m³/dia por cinco anos, a partir da entrada em operação do terminal de GNL de São Francisco do Sul (SC) – previsto inicialmente para 2022, mas que atrasou. A demora da NFE para definir um supridor de GNL tem preocupado consumidores de Santa Catarina.

Origem: Tem compromisso de 640 mil m³/dia com a Algás até o fim de 2024; e contrato com a Bahiagás para 1 milhão de m3/dia em 2023; e 1,5 milhão de m³/dia entre 2024 e 2026. A Origem também tem mais um segundo contrato com a Bahiagás, por meio de sua controlada Eagle, para 150 mil m³/dia.

PetroReconcavo: tem acordos com cinco distribuidoras diferentes:

  • Bahiagás, para 800 mil m³/dia em 2023; 1,1 milhão de m³/dia entre 2024 e 2025; e 1 milhão de m³/dia em 2026;
  • Cegás, para 30 mil m3/dia em 2023;
  • PBGás, para 120 mil m3/dia em 2023;
  • Potigás, para 236 mil m³/dia até o fim de 2023;
  • e Sergas, para 50 mil m³/dia no 2º semestre de 2023 e 100 mil m³/dia entre 2024-32.

Shell: Tem contratos com a Copergás para 1 milhão de m³/dia em 2023, e com a Cegás, para 100 mil m3/dia firmes a partir de 2023.

GÁS NA SEMANA

ES Gás será privatizada por pelo menos R$ 1,3 bilhão. O edital do leilão da distribuidora capixaba foi publicado na semana passada. O leilão, na B3, foi marcado para 31 de março.

Cigás vai investir R$ 282 milhões para expandir rede. Serão instalados 30 km de gasodutos nas zonas Norte e Leste de Manaus, ainda estão isoladas do sistema. A Crítica

ANP reabre discussões sobre a especificação do gás natural. Agência vai colocar em consulta pública, por 45 dias, o relatório preliminar da análise de impacto regulatório (AIR) sobre a revisão da resolução 16/2008 — dos teores de hidrocarbonetos presentes no gás. Debate mexe diretamente com as perspectivas de oferta de gás nacional.

Aggreko começa a operar gerador para reaproveitamento de gás. Contrato em Linhares (ES) é o primeiro do grupo no Brasil a utilizar o combustível, que seria queimado em flare, para gerar energia num campo de óleo e gás.

Exportações de gás da Rússia caíram 25% em 2022. Por outro lado, as vendas de petróleo russo ao exterior aumentaram 7,6%, de acordo com o governo russo. Valor

Queda do preço do gás faz UE elevar projeção de PIB. Comissão Europeia aumentou a previsão de crescimento do PIB na zona do euro de 0,3% para 0,9% em 2023. Dow Jones

Paquistão quer quadruplicar energia a carvão, por falta de gás natural. Altos preços do gás têm deixado grandes áreas do país, de 230 milhões de habitantes, em longos e constantes blecautes. Por isso, o país deixará de implantar térmicas a gás. Reuters

Projeto mistura hidrogênio verde ao gás natural na Alemanha. A empresa Netze BW espera atingir, em breve, uma mistura de 30% de H2V no gás usado no aquecimento doméstico, num projeto no sudoeste do país. A iniciativa ainda está em teste, mas a expectativa é que o modelo possa ser replicado no resto da Alemanha. Reuters