Biocombustíveis

Petrobras e Equinor veem oportunidades na captura de carbono a partir de biocombustíveis 

Brasil tem alto potencial para implantação de BECCS, como a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e milho

Petrobras e Equinor veem oportunidades na captura de carbono a partir de biocombustíveis (BECCS). Na imagem: Foto aérea das instalações na fábrica da Archer Daniel Midland na cidade americana de Decatur, em Illinois (EUA), única instalação BECCS de grande escala do mundo (Foto: Google Earth)
Fábrica da Archer Daniel Midland na cidade americana de Decatur, em Illinois (EUA), única instalação BECCS de grande escala do mundo (Foto: Google Earth)

A tecnologia BECCS (Sistemas de Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, na sigla em inglês), pode ser uma grande oportunidade para o Brasil no mercado de carbono, avaliam executivas da Petrobras e Equinor.

O modelo envolve qualquer via energética onde o CO2 é capturado de uma fonte biogênica e armazenado permanentemente. O Brasil, por exemplo, tem alto potencial para implantação de BECCS, como a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e milho, pois esses processos geram fluxos de CO2 de alta pureza.

“Acho que o potencial BECCS no Brasil é único. A possibilidade de utilizar os BECCS como um potencial para ter emissões negativas…o Brasil está numa posição única na esfera dos biocombustíveis”, avaliou Claudia Brun, vice-presidente da Equinor no Brasil, durante evento promovido pela Innovation Norway e pela Norwep (Norwegian Energy Partners), nesta segunda (23/10).

Ao capturar permanentemente o carbono absorvido da atmosfera através da fotossíntese, o BECCS pode ser caracterizado como uma tecnologia de emissões negativas que é combinada com geração de energia e/ou biocombustíveis.

“Temos muito potencial de soluções baseadas na natureza. Mas existem algumas indústrias que são muito difíceis de descarbonizar, é aí que penso que o papel do carbono perto de onde está localizada a fonte de carbono será muito importante”, pontua a executiva da Equinor.

A petroleira norueguesa, que encabeça uma das maiores iniciativas de CCS do mundo, anunciou este ano um projeto de BECCS, o Njord Carbon, em parceria com uma empresa que atua com florestas plantadas, para armazenar permanentemente no subsolo, o CO2 originalmente capturado pelo cultivo de árvores e produção de celulose e papel.

Vantagens do BEECS

Para a Gerente executiva de Mudança Climática e Descarbonização da Petrobras, Viviana Coelho, este modelo de captura de carbono deve ser encarado como uma prioridade, pelo menor custo econômico e por utilizar parte da infraestrutura existente na produção de biocombustíveis.

“É definitivamente uma oportunidade ter acesso a algo que é 99% CO2 puro, por isso penso que tanto o processamento de gás como o BECCS devem ser sempre uma prioridade, porque a captura é muito relevante em termos do custo total da cadeia de valor para CCUS, e é definitivamente uma oportunidade para poder ter emissões negativas associadas à produção de biocombustíveis”, explica Viviana.

O processo de fermentação para produzir etanol permite o resgate de um CO2 com 98% de pureza para armazenamento. No Brasil, associações do setor calculam que a cada tonelada de milho é possível capturar 320 kg de CO2.

Segundo Viviana há um enorme potencial da tecnologia para viabilizar a emissão de créditos de carbono que compensem outras atividades emissoras.

“Achamos que isso poderia levar a créditos, o que talvez ajudaria também a descarbonizar algumas outras indústrias que não têm acesso a eles. A última tonelada de carbono fica cada vez mais cara, por isso é sempre bom ter ancorado algo que possa ter 30 milhões de toneladas de CO2 em emissões negativas, o que é obviamente bastante significativo”, explica a gerente da Petrobras.

Desafios da tecnologia

Entretanto, ela aponta para os desafios em relação aos reservatórios de estocagem desse carbono.

“Estamos falando de pequena escala, pequenas operações, e principalmente em terra, e principalmente em áreas que não são necessariamente produtoras de petróleo ou que possuem infraestruturas que poderiam ser reaproveitadas”, diz Viviana.

Uma alternativa seria o compartilhamento de infraestrutura que permita o barateamento do custo.

“Quanto mais pudermos pensar em infraestruturas partilhadas nas quais se possam ter âncoras maiores que justifiquem o transporte, e depois aproveitar quantidades menores da produção de biocombustíveis, mais sucesso poderá ter, também como CCUS de pequena escala”, pontua a executiva da Petrobras.

Claudia Brun, VP da Equinor, também aponta para o desafio de investimentos em conhecimento geológico, que permita identificar estruturas aptas para armazenamento de CO2 onshore.

“Fizemos muitos levantamentos sísmicos e geofísicos e todos offshore, muito pouco onshore, e como vai ser essa atividade também financiada é algo que será muito importante para que possamos realizar o potencial BECCS que o Brasil tem”, avalia Claudia.

Projetos em desenvolvimento

Por aqui, a produtora de etanol de milho FS Agrisolutions está investindo R$ 350 milhões em um sistema para capturar, comprimir e transportar o CO2 emitido pela fábrica de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, até um local de armazenamento subterrâneo.

O projeto está em fase de confirmação geológica. Para isso, é preciso perfurar um poço de estudos de dois quilômetros de profundidade, o que deve ser feito em meados deste ano.

Usinas de etanol nos Estados Unidos e Reino Unido já investem na solução. Em Decatur, Illinois (EUA), o BECCS é aplicado em dois projetos da Archer Daniels Midland (ADM). Mais de 3,5 milhões de toneladas de CO2 foram armazenadas a mais de 2 km de profundidade desde 2011.

Esses projetos estão servindo de base para a expansão das redes ou hubs de captura e armazenamento de carbono, especialmente na parte central dos Estados Unidos, conta Sallie Greenberg, pesquisadora da Universidade de Illinois.