Diálogos da Transição

Petrobras e Aker Solutions de olho na criação de hubs de CCUS no Brasil

Estatal está de olho na regulamentação do mercado de carbono e na descarbonização da produção e exploração de O&G

FPSO Pioneiro de Libra (foto: André Ribeiro/Agência Petrobras)
FPSO Pioneiro de Libra com flare aberto, para queima do excesso de gás (foto: André Ribeiro/Agência Petrobras)

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Editada por Gabriel Chiappini
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em julho.
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De olho na regulamentação do mercado de carbono e na descarbonização da produção e exploração de óleo e gás, a Petrobras espera implementar, no longo prazo, hubs de captura e armazenamento de carbono (CCUS) no Brasil.

“Usamos CCUS apenas para recuperação de óleo, mas estamos estudando os hubs de CCUS também”, disse Izabel Ramos, Gerente de Mercados de Carbono da companhia, durante evento promovido na quarta (29/6) pela norueguesa Aker Solutions, no Paraná.

  • Na injeção de fluídos para gestão dos reservatórios — e elevação da produção de óleo — a Petrobras calcula que injetou, desde 2021, cerca de 8,7 milhões de toneladas de CO₂, separado do gás natural, em campos do pré-sal.

Há duas semanas, representantes da Petrobras visitaram o projeto de CCUS Northern Lights, desenvolvido pela Aker Solutions em conjunto com a Equinor, Shell e TotalEnergies, na Noruega.

O projeto prevê a construção de uma infraestrutura de transporte de CO₂ dos locais de captura — em polos industriais — até seu armazenamento permanente, feito em um reservatório a 2.600 metros abaixo do leito marinho.

Inclusive, a árvore de natal — equipamento submarino de controle do fluxo nos poços — utilizada no projeto de injeção de CO₂ foi produzida pela Aker Solutions em São José dos Pinhais, no Paraná.

  •  As operações do Northern Lights estão programadas para começar em 2024. A expectativa é oferecer um serviço de transporte e armazenamento para emissores industriais de toda a Europa.

“A Petrobras esteve visitando recentemente a planta da NorthernLight e eles têm sim por objetivo fazer algo similar”, disse Maria Peralta, vice-presidente Subsea da Aker Solutions Global, em entrevista à agência epbr.

A replicação do modelo no Brasil, contudo, depende da regulação do mercado de carbono. “É fato que eles [Petrobras] têm muitas plantas que produzem carbono. Então o potencial existe. Mas tem que ter a regulamentação e já teve o primeiro pontapé de partida”, disse a executiva.

O ponto de partida é o decreto presidencial publicado no mês passado e que prevê que os setores como energia, transporte e indústria apresentem propostas para as “curvas de redução de emissões de gases de efeito estufa, considerado o objetivo de longo prazo de neutralidade climática informado na NDC”.

Incentivos serão necessários…“Uma vez colocada em prática, tem que ter também os incentivos. (…) Têm que ter com certeza incentivos governamentais, de operadoras, para que isso [CCUS] evolua de uma forma mais ativa”, defende Maria Peralta.

Para aprofundar

Em um cenário otimista, Izabel Ramos espera que projetos de CCUS no modelo do Northern Lights, possam ser implementados aqui no Brasil.

“Esperamos ter esse estudo pronto em alguns meses, e ter essa boa imagem do framework do CCUS no Brasil”, explicou a gerente da petroleira.

  • De acordo com o relatório Global Status of CCS 2021 (Situação Global do CCS 2021), a capacidade dos projetos de CCUS em operação no mundo é de 36,6 milhões de toneladas de CO₂ por ano.

Tem mais

Na quarta (29/6), a Petrobras e a Braskem anunciaram que iriam fazer uma análise técnico-econômica preliminar para desenvolvimento de um hub que capturaria o CO₂ resultante das operações da Braskem.

A ideia é, em seguida, armazenar o gás de forma permanente em reservatórios depletados (esgotados) de petróleo da estatal.

“Vamos tirar o CO₂ da refinaria e colocar na tubulação existente e reinjetar em um reservatório vazio. Era um reservatório de gás que estava mandando gás natural para refinaria, mas o reservatório está fechado agora, e podemos reverter a logística”, explicou Izabel.

Nesse modelo, as próprias refinarias da Petrobras também poderiam ter seu carbono capturado, transportado e armazenado. Aliás, parte da estratégia da companhia para descarbonização está justamente na redução de emissões nas refinarias com a modernização das instalações.

No offshore

A companhia abriu, no início do ano, a contratação de fornecedores para execução do projeto Hisep. A tecnologia tem o objetivo de separar e reinjetar, ainda no fundo do mar, o gás com elevado teor de CO₂ que é produzido junto com o petróleo.

Captura de carbono no setor sucroalcooleiro

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram sistemas capazes de capturar CO₂ de gases provenientes da combustão de biomassa da cana-de-açúcar.

A adsorção já é utilizada para outras finalidades na indústria nacional e internacional, como, por exemplo, limpar uma corrente de ar contaminada por amônia ou purificar gás natural.

“Porém, é um processo que ainda não foi aplicado para capturar CO₂ a partir da biomassa que gera o etanol. Essa é uma das novidades da nossa pesquisa”, explica o engenheiro químico Marcelo Martins Seckler, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

O projeto é desenvolvido no Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), centro de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Shell.

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