RIO — A Petrobras pretende relançar o processo de venda da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (MS) no mercado, de forma célere, para aproveitar a sinalização de interesse da iniciativa privada pelo ativo. Na semana passada, a estatal informou que a ideia é retomar a alienação no início de junho.
“Já temos a sinalização de atores de mercado de que há interesse [pela fábrica de fertilizantes]. É um ativo que tem novos interessados no mercado, estamos bastante otimistas com uma segunda rodada [na tentativa de vender o fábrica]. A nossa ideia é ter celeridade nesse processo [de retomada das negociações], dado o interesse do mercado nesse ativo”, comentou Araújo, durante coletiva de imprensa.
Na semana passada, a Unigel manifestou interesse na compra do projeto da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN) III, em Três Lagoas (MS), informou a Reuters. A companhia arrendou as fafens da Bahia e de Sergipe, da Petrobras.
Sem dar maiores detalhes, o diretor financeiro da estatal, Rodrigo Araújo, afirmou nesta sexta-feira (6/5) que o acordo com a russa Acron para alienação da planta foi cancelado porque esbarrou em questões relativas à “transferência de benefícios e licenças que precisavam ser endereçadas com a esfera estadual e municipal”
O negócio havia sido antecipado em fevereiro pela ex-Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que deixou o cargo para concorrer ao Senado Federal.
A negociação pela UFN-3 foi cancelada “tendo em vista que o plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação”, esclareceu a Petrobras, na semana passada.
O negócio era visto com ceticismo em razão da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Ao decidir pela invasão à Ucrânia, a Rússia passou a ser alvo de sanções, especialmente da União Europeia e dos EUA.
Jair Bolsonaro (PL), que prestou solidariedade a Vladimir Putin em visita oficial a Moscou dias antes do início da guerra, preferiu adotar uma posição oficial de neutralidade.
Guerra muda cenário dos fertilizantes
A guerra provocou um choque na oferta de fertilizantes, elevando preços com impacto no agronegócio brasileiro — setor que Bolsonaro tenta manter bem próximo na corrida eleitoral deste ano.
O plano do governo federal para industrialização do setor e redução da dependência externa, contudo, não apresentou medidas de curto prazo, nem propostas de reforma, por exemplo, na tributação.
A senadora Simone Tebet (MDB/MS) chegou a criticar abertamente a venda da UFN-3 para a Acron. Ela afirmou que a venda deveria garantir a conclusão da fábrica e o aumento da industrialização no Brasil, e servir de um polo para recebimento de produtos importados.
“Essa fábrica está sendo vendida barato, está sendo vendida sem a cláusula exigindo que a compradora termine a fábrica de fertilizantes. E mais, a pergunta é: tem alguma cláusula ali dizendo que esses equipamentos, que são os mais modernos do mundo, não vão ser depois destruídos, desmontados e levados para a Rússia? Isso é crime de lesa-pátria”, disse.