BRASÍLIA – A cidade de Itacuruba, no sertão pernambucano, é a localização preferencial do governo para receber uma futura nova usina nuclear. A cidade de aproximadamente cinco mil habitantes é banhada pelo Rio São Francisco e está localizada a 270 quilômetros de Petrolina.
De acordo com o assessor da Diretoria Técnica da Eletronuclear, Álvaro Travassos, a decisão ainda não está tomada e precisa ser amadurecida considerando requisitos para construção de uma planta nuclear, como a abundância de água e o acesso à infraestrutura de transmissão para escoar a energia elétrica gerada na usina.
“Já visitamos vários sítios no Nordeste e no Sudeste e Itacuruba está sendo tratada como sítio preferencial”, disse durante o XI Seminário Internacional de Energia Nuclear, nesta quarta (28).
O debate não é novo. A escolha da localidade já tinha sido discutida pela equipe técnica e por integrantes da própria Eletronuclear durante a gestão de Dilma Rousseff, em 2013.
Antes disso, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha determinado em 2008 a preferência pelo Nordeste para os próximos empreendimentos nucleares e avaliava locais em diferentes estados da região.
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Assim como o planejamento, os desafios atuais são parecidos. Além do debate ambiental de estocagem de lixo radioativo e possibilidade de acidente às margens do São Francisco, a legislação de Pernambuco proíbe a construção de usinas nucleares “enquanto não se esgotar toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e oriunda de outras fontes”.
Para seguir com a construção, o governo do estado precisaria comprar a proposta e articular junto a deputados da assembleia local a aprovação de mudanças na constituição do estado.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), chegou a afirmar no final de 2019 que foi procurado por representantes do governo federal para debater o assunto, mas acredita que o tema precisa ser discutido “com um olhar a longo prazo”.
A possibilidade mobilizou até a Igreja Católica na região. A CNBB Nordeste 2, formada por 21 arquidioceses de quatro estados, se juntou à OAB para construir um documento em que se coloca contrária à instalação do empreendimento, caso escolham o sertão nordestino como destino da nova usina.
A carta foi entregue à vice-governadora de Pernambuco e foi construída após debates com moradores das cidades de Itacuruba e Floresta.
O esgotamento da produção de eletricidade, uma possível justificativa, também não parece estar perto de acontecer, pelo menos no setor de energias renováveis.
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No ano passado, Pernambuco foi o sexto maior produtor de energia eólica do país e teve o terceiro maior fator de capacidade de geração, segundo dados da Abeeólica. No mês de outubro deste ano, o estado foi o terceiro do Nordeste com maior produção de energia em geração distribuída, de acordo com a Aneel.
Outro problema para o governo são as dificuldades para concluir a Transnordestina. O meio ferroviário seria o mais adequado para levar os equipamentos do empreendimento, explicou no ano passado o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães. As obras da ferrovia estão com dez anos de atraso e já custaram R$ 6,7 bilhões aos cofres públicos.
Ainda em 2019, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Reive Barros, avaliou que Pernambuco poderia abrigar usinas com um total de 6.600 megawatts e demandar investimentos de R$ 30 bilhões nos próximos dez anos.
O Plano Decenal de Energia para 2030 considera que o Brasil tem um potencial para o crescimento da energia nuclear. Em um cenário de retomada do Plano Nuclear Brasileiro, a EPE avalia que seria necessária a construção de pelo menos três novas usinas que tenham capacidade total de 1.900 megawatt.
A expectativa é que o Plano Nacional de Energia, que traz um horizonte de mais longo prazo para 2050 e ainda sem previsão de publicação pelo Ministério de Minas e Energia e pela EPE, dê maiores indicações de quantas usinas serão necessárias já levando em consideração a demanda por energia elétrica pós-covid.
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