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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Preços globais do gás natural devem recuar em 2023, mas ainda em patamares elevados. No Brasil, ano começa com queda nos preços da Petrobras. Mas estatal ainda pratica preços mais altos que a concorrência. Exportações da Bolívia podem se esgotar. Europa quer se unir em consórcio para comprar gás e mais. Confira:
Para aonde vamos?
A inflação do gás natural, catapultada pela crise energética da Europa após a eclosão da Guerra da Ucrânia, deve arrefecer em 2023, mas o mercado global ainda continuará lidando com preços elevados este ano. E no Brasil, para aonde vão os preços do gás em 2023?
A seguir, a gas week mostra como o cenário externo deve influenciar nos preços internos, embora a maior parte do mercado brasileiro seja abastecida por gás nacional.
Em resumo, a expectativa, por aqui, é que os preços do gás em 2023 sigam a tendência global, na essência: ou seja, caiam em relação a 2022, mas longe de um cenário de gás barato.
Para início de conversa, precisamos falar em preços do gás natural no Brasil. No plural.
Nos últimos anos, uma dúzia de novos fornecedores entraram no jogo. E a Petrobras, embora ainda se mantenha como agente dominante, já não exerce o mesmo peso em alguns mercados locais — sobretudo no Nordeste.
Existe, hoje, uma diversidade maior não só de supridores, mas também de fórmulas de precificação no Brasil.
A maioria dos contratos, é bem verdade, ainda está atrelada aos preços do petróleo. Mas há alguns casos (poucos, mas há) de acordos vinculados ao Henry Hub, o preço de referência dos Estados Unidos.
Mas, primeiro, olhemos para fora
A Rystad Energy projeta que o déficit estrutural do mercado global, que se iniciou em 2022, deve se estender por 2023.
Embora o TTF (referência na Europa Continental) tenha começado o ano testando o patamar de US$ 20 o milhão de BTU (metade da média de preços de 2022), a consultoria destaca que o “equilíbrio do mercado ainda é precário” — uma vez que ainda são esperados novos cortes no fluxo do gás russo em direção à Europa.
“Assim, os preços do TTF e do GNL asiático permanecem em níveis que são múltiplos das médias pré-invasão [da Ucrânia]”, escreveu o analista sênior de gás e GNL da Rystad, Kaushal Ramesh.
A perspectiva de perda de cargas para a Ásia — onde países como Índia e Tailândia têm aumentado a demanda, conforme os preços baixam — incentivará a Europa a manter os prêmios elevados pelo GNL.
Já nos EUA, a Administração de Informações sobre Energia (EIA, em inglês) prevê que o preço spot médio do Henry Hub ficará em US$ 4,9 o milhão de BTU. O nível é cerca de 25% mais baixo que o patamar de preços de 2022, mas ainda está distante dos US$ 3,9 o milhão de BTU de 2021, no pré-guerra.
Será, portanto, um ano de preços menos altos, no mercado internacional, mas ainda em patamares elevados. Mesma tendência prevista para os preços do petróleo.
Na previsão da EIA, o barril do tipo Brent deve ficar em US$ 83 em 2023 — uma queda de 18% em relação a 2022, mas acima dos US$ 70 de 2021.
No Brasil, gás mais barato em fevereiro
A desvalorização do petróleo, observada desde o fim de 2022, já deve se refletir nos preços do gás a partir de fevereiro — data do próximo reajuste trimestral previsto nos contratos da Petrobras com as concessionárias de gás canalizado.
A estatal vai reduzir em 11,1% os seus preços. Reflete, assim, dois aspectos centrais: a desvalorização absoluta do petróleo e a redução do fator Brent — o percentual do preço do petróleo ao qual o gás está indexado.
Esse fator cairá de 16,75% para 14,4% em 2023, conforme previsto nos contratos assinados pela petroleira, no fim de 2021, com as distribuidoras.
O repasse da queda para o consumidor final, contudo, pode não ser imediato. Depende do calendário de reajustes tarifários de cada estado. Em Santa Catarina, por exemplo, são apenas dois ajustes por ano. O próximo é só em julho.
Além disso, algumas distribuidoras têm contratos mais antigos com a Petrobras e estão sujeitas a outras condições de preços.
A expectativa é que, mesmo com a queda dos preços, a Petrobras continue praticando valores mais altos que a concorrência, na média, estima a Gas Energy. Principalmente no Nordeste, que concentra mais supridores novos.
Para efeitos de comparação:
- a Equinor trabalha com um fator Brent de 13% no contrato com a Cegás (CE);
- a Galp adota um fator de 12,45% nos contratos de longo prazo com Cegás (CE), Sergas (SE), SCGás (SC) e Gasmig (MG);
- e a Shell trabalha com percentual de 10,5% no acordo com a Copergás (PE) — que permite arbitrar entre Brent ou H&H a 111%;
Além de indexações ao petróleo, os preços do gás vendido às distribuidoras costumam ser vinculados ao câmbio — que, pelas projeções do mercado financeiro, não devem ter movimentos bruscos em relação a 2022.
Novos contratos podem refletir alta do GNL
As distribuidoras prometem ir às compras este ano, em busca de novos fornecedores.
E a tendência é que os fornecedores locais comecem, aos poucos, a precificar o estresse do mercado global nos novos contratos.
A Petrobras, aliás, fez isso no fim de 2021. Antes mesmo da eclosão da guerra da Ucrânia, a estatal aumentou o fator Brent na renovação dos contratos com as distribuidoras, para repassar a alta dos custos com a importação do GNL — que, naquele ano, já começava a dar sinais de aquecimento.
Em 2022, o choque dos preços internacionais contaminou as negociações no mercado livre, conforme relevado pelo diretor de supply chain da Unigel, Luiz Nitschke. E o resultado foram contratos menos vantajosos que os de 2020-2021.
Depois de um 2022 de preços estressados, a Unigel espera conseguir melhores condições de negociação este ano no mercado livre. A dependência do GNL importado, contudo, limita melhores preços no mercado.
“[O fornecedor] sabe que minha alternativa é o gás importado e precifica, então, com base no gás importado”, disse à agência epbr.
A PetroReconcavo já sinalizou, no ano passado, por exemplo, que buscará precificar melhor o seu gás no mercado, devido à exposição do Nordeste à importação de GNL.
Tendência?
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GÁS NA SEMANA
Exportações de gás boliviano podem se esgotar até 2030 Produção da Bolívia cairá mais rápido que o esperado e o Brasil pode não dispor do gás do país vizinho ao fim da década, avalia a Wood Mackenzie. A consultoria estima que a produção boliviana cairá de cerca de 40 milhões de m3/dia, em 2022, para 11 milhões de m3/dia, em 2030.
— O assunto não é um consenso no mercado. A Gas Energy, por exemplo, estima que a Bolívia produzirá entre 24 milhões e 25 milhões de m3/dia em 2030, sem novas descobertas — mais que suficiente para abastecer o consumo interno, de 14 milhões de m3/dia.
Europa se une para comprar gás Países da União Europeia estudam criar consórcios para aquisição conjunta de gás natural. Objetivo é conseguir maior poder nas negociações e, com isso, melhores preços. Já a Rússia voltou a acenar para criação de um hub regional de gás na Turquia. Kremlin busca um destino para o gás antes exportado para a Europa.
Mercado continuará tumultuado Wood Mackenzie cita seis tendências para o gás natural em 2023. Dentre elas, a situação na Europa está melhor do que se temia, mas ainda não está fora de perigo. Além disso, o ímpeto de contração do GNL continuará em 2023.
Orizon entra na região Norte, de olho em biometano Expectativa da empresa é implementar, no centro de tratamento de resíduos de Porto Velho (RO), a “exploração de biogás, créditos de carbono, energia elétrica, biometano, recuperação de recicláveis, dentre outras atividades”. A Orizon estreou em 2022 na produção de biometano e prevê ampliar de 700 mil a 900 mil m3/dia a oferta de gás renovável ao mercado até o fim de 2025.
Compagas (PR) quer biometano Distribuidora recebe propostas até 31 de janeiro. Busca volumes a partir de 2 mil m3/dia firmes, em contratos de, no mínimo, cinco anos.