Diálogos da Transição

Países podem explorar capital natural para superar exposição à transição; Brasil é um deles

Desafio brasileiro está em equilibrar as necessidades de uso da terra com a proteção das florestas e apoio às comunidades locais

Países podem explorar capital natural para superar exposição à transição e viabilizar mercado de carbono; Brasil é um deles. Na imagem: Floresta de bambus vista de baixo para cima. Mercado voluntário de carbono é uma oportunidade para levar recursos e desenvolvimento econômico de baixo carbono a países que abrigam florestas tropicais (Foto: Thanapat Pirmphol/Pixabay)
Floresta de bambus (Foto: Thanapat Pirmphol/Pixabay)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 08/02/22

Editada por Nayara Machado
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Estudo da McKinsey alerta que países em desenvolvimento e regiões produtoras de combustíveis fósseis têm uma exposição relativamente grande à transição, o que aumenta o nível de preocupações sobre desenvolvimento e desigualdade na hora de formular políticas públicas. Mas há uma luz no fim do túnel.

Alguns países podem se beneficiar da transição com seus ricos estoques de capital natural, como luz solar e vento, florestas, recursos minerais e potencial de sequestro de CO2, e apostar na produção de energia renovável e desenvolvimento de mercados voluntários de carbono.

Outros já conquistaram posições fortes nos mercados de produtos de baixo carbono, como painéis solares e mobilidade elétrica, mas têm um potencial de crescimento considerável como exportadores de tecnologia.

“Por exemplo, a Coreia do Sul tem aproximadamente 6.600 patentes de tecnologias relacionadas à mitigação das mudanças climáticas e capital humano. Países como China e Cingapura têm uma alta proporção de graduados em STEM na população, o que fornece uma indicação da habilidade técnica da força de trabalho”, diz o relatório.

Além disso, infraestrutura e sistemas industriais de baixas emissões também podem criar oportunidades no novo mercado, com os consumidores mudando suas preferências ou em um cenário de aplicação de impostos de fronteira de carbono.

Para os analistas, mesmo uma infraestrutura intensiva em carbono pode ser vantajosa no futuro, se puder ser prontamente adaptada, por exemplo, para operar com combustíveis de baixas emissões.

O estudo identifica seis grupos de países, com base na natureza comum de sua exposição à transição, e aponta os diferentes ajustes econômicos e sociais para reduzir a exposição ao risco:

  • Produtores de recursos de combustíveis fósseis
  • Produtores intensivos em emissões
  • Economias baseadas na agricultura
  • Países de uso intensivo da terra
  • Fabricantes de emissões a jusante
  • Economias baseadas em serviços

O Brasil está no grupo de uso intensivo da terra, ao lado dos vizinhos latinoamericanos Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, entre outros.

Nesses países, o desafio está em equilibrar as necessidades de uso da terra com a proteção das florestas e apoio às comunidades locais.

“Com seus estoques de capital natural, esses países teriam potencial de crescimento em setores como energia renovável, minerais necessários para a transição e manejo florestal; projetos de reflorestamento e florestamento podem gerar valiosos créditos de carbono e serviços ecossistêmicos”.

mercado voluntário de carbono, aliás, é uma oportunidade para levar recursos e desenvolvimento econômico de baixo carbono a países que abrigam florestas tropicais.

A aposta na compensação por soluções baseadas na natureza está, inclusive, na agenda de empresas de petróleo, onde a transição energética e para tecnologias de baixo carbono tem um alto custo e não vai ocorrer de um dia para o outro — embora não seja uma solução por si só(mais sobre isso abaixo)

O Brasil, por exemplo, detém 20% do potencial global de oferta de soluções climáticas naturais, segundo a Catavento, consultoria de estratégia e ESG.

Esse potencial está principalmente em projetos de conservação ou restauração de florestas.

No entanto, para ser visto como um emissor de créditos de carbono com credibilidade, será preciso acabar com o desmatamento ilegal e atingir a meta de reflorestamento da Contribuição Nacionalmente Determinada apresentada no Acordo de Paris.

Por aqui, o governo Bolsonaro tenta emplacar a concessão de parques e florestas à iniciativa privada, enquanto mantém congelados recursos que deveriam ser aplicados em uma estratégia de conservação.

Em outra frente, Congresso e setor produtivo correm para criar um mercado regulado de carbono.

Projetos de baixa qualidade estão puxando os preços do carbono para baixo. Os mercados voluntários de carbono negociaram cerca de 300 milhões de toneladas de emissões em 2021, por um valor de US$ 1 bilhão, aponta a Wood Mackenzie.

O valor representa cerca de 0,8% das emissões globais de GEE. O preço médio das compensações comercializadas está atualmente em torno de US$ 5/tonelada de carbono.

“Este preço é insustentavelmente baixo. Por quê? Os mercados de carbono são um grande conceito, mas na prática têm sido assolados por inconsistências”, explica a chefe de carbono da Wood Mackenzie, Elena Belletti.

“Muitos créditos foram criados, muitas vezes de projetos de baixa qualidade. À medida que a confiança no mercado diminuía, os preços afundavam”.

Segundo a especialista, a regulamentação do Artigo 6 do Livro de Regras de Paris, na COP26, pode mudar esse cenário, ao abrir caminho para uma estrutura de transparência com metas consistentes de contabilidade e relatórios.

“Na próxima década, esperamos ver uma evolução dos mercados a nível nacional e regional. Um mercado verdadeiramente global, integrado e cooperativo com um preço mínimo de carbono pode estar à frente”.

A consultoria vê os mercados regulados e os voluntários coexistindo, ambos com aumentos significativos em preços e escopo.

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