Diálogos da Transição

Oxigênio no fundo do mar aumenta pressão por moratória na mineração submarina

Oxigênio no fundo do mar aumenta pressão por moratória na mineração submarina (Foto: Rov Kiel 6000, Geomar)
Nódulos de manganês na Zona Clarion-Clipperton (Foto: Rov Kiel 6000, Geomar)

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Editada por Nayara Machado
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A publicação de um estudo na Nature, esta semana, revelando a produção de “dark oxygen” a quatro mil metros de profundidade no oceano adicionou pressão às negociações da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, em inglês) para uma moratória na exploração de minérios em águas profundas.

A pesquisa de cientistas do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos descobriu que os nódulos polimetálicos, que as empresas de mineração querem extrair do oceano, podem estar produzindo o oxigênio escuro nas profundezas do mar.

É uma evidência indicando uma fonte adicional de oxigênio no planeta além do produzido pela fotossíntese de plantas e algas.

Em um vídeo publicado pela agência Al Jazeera, o líder da pesquisa e professor da Associação Escocesa de Ciências Marinhas (SAMS), Andrew Sweetman, explica que a descoberta traz mais um elemento a ser levado em consideração nas discussões sobre exploração mineral submarina.

“Para impulsionar a economia verde, precisamos extrair metais do solo ou potencialmente do oceano profundo. Então, o que descobrimos significa que teremos que pensar cuidadosamente”.

“Se a mineração no oceano profundo for adiante, onde essa mineração deve ocorrer, porque esse oxigênio provavelmente está sendo usado em qualquer quantidade que seja produzida pelo ecossistema”, completa o professor.

Durante a reunião do conselho da ISA na quinta, o embaixador do Panamá, Roger González, defendeu que estudos de impacto são mais urgentes que a abertura para a exploração.

“Esta notícia [de descoberta do oxigênio] reafirma que precisamos desacelerar as urgências pela exploração e dar tempo para que a ciência continue estudando os fundos marinhos para que possamos cuidar do tesouro que é o patrimônio comum da humanidade. É importante que a autoridade, no futuro próximo, faça uma apresentação sobre o impacto e a importância dessa descoberta”.

Sem consenso

A ISA está reunida há duas semanas em Kingston, na Jamaica, para discutir um código de mineração segura e se libera ou não a exploração do leito marinho internacional, no que o grupo definiu como Area.

Mas as negociações terminaram hoje sem acordo sobre um código de mineração.

27 dos 36 países que compõem o conselho da ISA se manifestaram a favor de uma moratória até que se conheça os possíveis impactos dessa atividade no mar e se desenhe um código de mineração segura.

Na semana que vem, começa a reunião ampliada, onde será discutida a proibição, liberação ou moratória. É também um momento de eleger o próximo (ou próxima) secretário-geral da ISA, o que pode ter implicações na velocidade e nos rumos da extração de minérios no fundo do mar.

Gestão turbulenta

Alemanha, Costa Rica, Países Baixos, Irlanda e Chile levantaram questões sobre a má gestão financeira do atual secretário, o britânico, Michael Lodge, e preocupações sobre transparência e responsabilidade. Ele busca reeleição.

Na reunião desta sexta, ao receber perguntas de jornalistas, Lodge disse no plenário que lhe pediram para comentar sobre “citações repreensíveis de pessoas sentadas nesta sala” e disse “esse tipo de vazamento de mídia, intimidação da secretaria tem que acabar”.

No X (antigo Twitter), Gina Guillen-Grillo, embaixadora da Costa Rica, comentou a atitude de Lodge: “esta é a única instituição onde, se os membros fizerem perguntas, isso é considerado um ataque. Isso resulta em declarações ameaçadoras do SG que elegemos e, portanto, temos o direito de fazer perguntas que são necessárias, especialmente para o dinheiro do contribuinte”.

Pró-mineradoras

Uma das acusações é o favorecimento de mineradoras. Até agora, já foram concedidos 31 contratos de exploração mineral em alto mar, cobrindo um total de mais de 1,5 milhão de km² – quatro vezes o tamanho da Alemanha. Em um folheto (.pdf) publicado em julho de 2023, a organização aponta que esses acordos cobrem cerca de 1% do leito marinho.

Desses, 17 miram a exploração na Zona Clarion-Clipperton (CCZ), área no Pacífico equatorial entre o Havaí e o México, potencialmente rica em materiais essenciais à fabricação de baterias para carros elétricos e painéis solares, como manganês, níquel, cobre e cobalto.

Na página oficial da ISA há uma série de publicações em defesa da atividade mineral submarina.

A mais recente data de 24 de julho, um anúncio de apoio de Gana, Índia, Jamaica e três entidades internacionais de pesquisa e exploração, ao Call for Action da entidade para “para a administração da Area e dos seus recursos para o benefício de toda a humanidade”.

Embora não tenha um poder formal para ação, a iniciativa formada por países contra a moratória busca legitimidade para as pesquisas levadas a cabo pelas mineradoras.

Na visão de observadores internacionais, é também uma tentativa do atual secretário de formar coalizões para enfrentar a crescente onda a favor de uma pausa na exploração.

Descoberta de oxigênio foi financiada pela Metals Company, que vai contestar

Boa parte dessa pressa em torno de um código de mineração foi motivada pela empresa canadense The Metals Company, que planeja solicitar uma licença para extrair minerais do fundo do oceano antes do final deste ano (Reuters).

O grupo também financiou parcialmente a pesquisa que descobriu a produção de oxigênio pelos minerais, o que jogou água fria sobre seus planos.

Agora, ela vai contestar os resultados. Em comunicado, a Metals Company questiona a metodologia, aponta que a pesquisa foi rejeitada por outros periódicos e diz que os estudos são contraditórios em relação a outros trabalhos.

“Em vez de ouvir a ciência, eles querem desacreditá-la e avançar com seus planos de destruir o fundo do mar. Se permitirmos que a mineração em águas profundas comece, quem sabe quantas descobertas sobre os mistérios do fundo do oceano como esta poderiam ser perdidas”, comenta Louisa Casson, ativista da campanha Stop Deep Sea Mining do Greenpeace International.

Curtas

Alemanha vai importar hidrogênio azul

O governo alemão aprovou na última quarta (24/7) a Estratégia de Importação de Hidrogênio e seus Derivados, que inclui tanto hidrogênio verde (produzido a partir da eletrólise com eletricidade renovável), como o azul (reforma do gás natural com captura e armazenamento de carbono). A iniciativa reforça a Estratégia Nacional de Hidrogênio revisada há um ano. Leia na epbr

Ofensiva contra térmicas fósseis no RS

O Instituto Internacional Arayara entrou com uma Ação Civil Pública contra o estado do Rio Grande do Sul para impedir a reconstrução do parque termelétrico de Candiota. A unidade abriga as usinas de Pampa Sul e Candiota III. A Arayara pede a instauração de um comitê participativo para a elaboração de um plano de transição energética justa que elabore medidas para o descomissionamento do setor termoelétrico movido a combustíveis fósseis. Veja detalhes

Parceria Brasil-EUA pelo Clima

O Ministério da Fazenda do Brasil e o Tesouro dos Estados Unidos divulgaram, nesta sexta (26/7), uma declaração conjunta em que anunciam a criação de uma Parceria para o Clima, com quatro pilares: cadeias de suprimento de energia limpa; mercados de carbono; finanças da natureza e da biodiversidade; e fundos climáticos multilaterais.

CO2 para combustíveis sustentáveis

Para o diretor-executivo de Marketing da Noxis Energy, Márcio Dutra, a captura do CO2 antes de ser emitido deve servir de matéria-prima na produção de gasolina, SAF e diesel nas refinarias do futuro. O complexo processo envolve a quebra e rearranjo de moléculas de CO2 com hidrogênio para a formação dos hidrocarbonetos líquidos, que têm composição idêntica ao derivado fóssil.

Transição justa

O Programa Luz para Todos (LPT) alcançou um recorde de investimentos no primeiro semestre de 2024, com R$ 998 milhões aplicados, superando os valores investidos no mesmo período desde sua criação em 2003. Os dados foram divulgados pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e incluem aportes realizados por entidades do setor elétrico entre janeiro e junho.