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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Um consórcio formado por empresas de aviação e energia, além de operadores aeroportuários na Noruega e Suécia, vai estudar a viabilidade de uma infraestrutura de hidrogênio em aeroportos nos dois países do Norte europeu.
Airbus (fabricante europeia de aeronaves), Avinor (operadora estatal de 43 aeroportos da Noruega), Scandinavian Airlines (SAS), Swedavia (empresa pública sueca que administra 10 aeroportos) e Vattenfall (empresa estatal de energia da Suécia) assinaram um Memorando de Entendimento (MoU), nesta quarta (31/1).
A ideia é entender como funcionaria uma futura operação de aeronaves movidas a hidrogênio, identificando as necessidades de infraestrutura de abastecimento.
A Airbus é uma grande interessada no projeto porque está desenvolvendo aeronaves com propulsão a hidrogênio e eletrocombustível (e-SAF), uma espécie de querosene de aviação que não usa petróleo como insumo, e sim a combinação de moléculas de H2 e CO2.
Na semana passada, a fabricante europeia anunciou uma parceria com a empresa de energia francesa Qair para estudar a estruturação de uma cadeia de valor para o e-SAF na França.
Já no caso da parceria escandinava, o grupo pretende identificar por quais aeroportos faz mais sentido começar as adaptações para operar aeronaves movidas a hidrogênio, junto com o desenho do arcabouço regulatório para permitir essas operações.
É a primeira vez que um estudo de viabilidade do tipo abrange dois países e mais de 50 aeroportos.
Segundo Guillaume Faury, CEO da Airbus, Noruega e Suécia estão entre as regiões mais desafiadoras para a aviação e têm grande potencial para a produção de hidrogênio a partir de fontes de energia renovável, o que justifica a escolha de ambos.
Primeiros modelos em 2035
Pode parecer muito futurista, mas alguns projetos já têm data prevista para ganhar os céus: 2035. A homologação de novas tecnologias nessa indústria, contudo, é longa, dada a necessidade de demonstrar que as aeronaves são, de fato, seguras.
Além da Airbus, que pretende começar a testar a célula a combustível do avião ZEROe em meados da década, a Embraer também anunciou em dezembro de 2022 que está apostando na propulsão elétrica híbrida e elétrica a hidrogênio como alternativas de baixo carbono.
Segundo a brasileira, ainda em fase de avaliação, essas duas abordagens oferecem um caminho “tecnicamente realista e economicamente viável para o net-zero”.
Enquanto no Reino Unido, a fabricante de motores Rolls-Royce e a companhia aérea britânica easyJet confirmaram, no final de 2022, a primeira operação mundial de um motor aeronáutico movido a hidrogênio.
O teste de solo foi realizado em um demonstrador de conceito inicial usando hidrogênio verde produzido a partir de eletrólise com energia eólica e das marés em um motor de aeronave regional Rolls-Royce AE 2100-A convertido.
Por que hidrogênio?
Além da necessidade de descarbonizar o transporte aéreo, a busca por novas tecnologias de propulsão vem de uma percepção de que a oferta de matérias-primas tradicionais para produção de combustíveis tende a ficar escassa num futuro próximo.
Isso tem despertado interesse nas startups. No início de janeiro deste ano, durante a reunião do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), em Davos, na Suíça, a First Movers Coalition (FMC) deu a largada em um movimento para alavancar tecnologias consideradas mais promissoras, com a seleção de 16 startups no programa de aceleração UpLink-FMC Sustainable Aviation Challenge.
Entre os vencedores estão a Beyond Aero e a HyFlux, com projetos de propulsão a hidrogênio, e a Verne, que propõe uma solução de armazenamento de hidrogênio no seu estado de maior densidade.
Promissor e cheio de desafios
O uso do hidrogênio na aviação promete resolver alguns problemas, mas até lá, muita coisa ainda precisa ser resolvida. Todas essas tecnologias precisam ser comprovadas, certificadas e regulamentadas.
Os aeroportos terão que ser adaptados e a infraestrutura de distribuição desenvolvida. O combustível também precisará ser viável economicamente, para que as pessoas possam continuar viajando.
Mas, antes de tudo, tem a questão da oferta do próprio hidrogênio renovável, que, por enquanto, é mínima: atualmente, 99% do hidrogênio usado como combustível é produzido a partir de fontes não-renováveis, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
Embora o mundo tenha meta de dobrar a produção até 2030, o ritmo atual dos projetos está lento. No início deste ano, a IEA revisou para baixo as previsões para o mercado global, ao observar que a capacidade renovável dedicada à produção hidrogênio e derivados deverá crescer em 45 GW entre 2023 e 2028, representando apenas cerca de 7% do total de empreendimentos anunciados para o período.
Cobrimos por aqui:
- Davos: Silveira propõe agência internacional de fomento a biocombustíveis
- Brasil deve usar G20 para cobrar transição justa de países ricos
- Brasil melhora posição entre mercados mais atrativos para investimentos renováveis
- Mercado global de biorrefinarias deve ultrapassar US$ 1,4 tri até 2030
Curtas
Hidrogênio na indústria italiana
A Comissão Europeia aprovou, na terça-feira (30/1), 550 milhões de euros para que a Itália apoie investimentos na utilização de hidrogênio renovável em processos industriais, em substituição aos combustíveis fósseis. A decisão está alinhada com o REPowerEU e o Plano Temporário de Crise, iniciativas para reduzir a dependência do óleo e gás russos, que no caso italiano são a segunda maior fonte energética do país.
Eólica offshore no Google
O Google anunciou, nesta quinta-feira (1º/2), uma série de acordos de compra e venda de energia elétrica somando 700 MW na Europa, incluindo o maior contrato de eólica offshore de sua história, assinado com a Shell. Os PPAs preveem a construção de dois novos parques eólicos offshore, HKN V e HKW VI, na costa dos Países Baixos.
Lítio em Minas Gerais
A Sigma Lithium anunciou, nesta quarta (31/1), um aumento de 27% na estimativa de recursos minerais, chegando a 109 milhões de toneladas na propriedade da Grota do Cirilo no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Com isso, segundo a companhia, a mina brasileira torna-se o quarto maior complexo industrial pré-químico de beneficiamento e mineração de lítio do mundo.
Apoio à agricultura familiar
O governo federal aumentou o leque de opções de compras da agricultura familiar para produtores de biodiesel que querem obter o Selo Biocombustível Social. Publicado na terça (30/1), o decreto 11.902/2024 editado pelo presidente Lula (PT) permite contabilizar as aquisições de produtos que não fazem parte da cadeia do combustível renovável, nas regiões Norte e Nordeste e no Semiárido. Entenda o que muda