BRASÍLIA – Mais de 50 organizações da sociedade civil divulgam, nesta sexta (8/3), um manifesto demandando paridade de gênero, raça, etnia, classe social, geração, identidade de gênero e orientação sexual nos preparativos e nas negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) que será sediada pelo Brasil.
Publicado no Dia Internacional da Mulher, o documento (.pdf) pede que, além de garantir representatividade no comitê organizador, sejam observadas seis condições: equidade e representatividade nas delegações; promoção da igualdade de oportunidades; inclusão de perspectivas de gênero em políticas climáticas; investimentos em formação; combate à violência de gênero relacionada ao clima; e transparência.
“Em ambientes dominados por homens, como o Congresso Nacional e o setor energético, a capacidade das mulheres influenciarem políticas climáticas e participarem da transição para a economia de baixo carbono são severamente limitadas”, diz Nicole Figueiredo, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara.
“Promover a igualdade de gênero é não apenas uma questão de justiça social, mas também a estratégia mais eficaz para enfrentar os desafios ambientais”, completa.
O grupo pede ao governo brasileiro que suas delegações oficiais sejam montadas de forma equitativa e adotem medidas concretas para garantir a representação de mulheres em todos os níveis de participação, considerando critérios de raça, etnia, geração, identidade de gênero e orientação sexual.
Para Isvilaine Silva, assessora de mobilização e engajamento do Observatório do Clima, depois de três COPs sediadas por países “em que ser mulher já é algo desafiador” – Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão –, o governo brasileiro tem a oportunidade de promover uma COP mais democrática.
“Começando pela delegação do Brasil e se estendendo para as negociações, cada vez mais urgentes em respostas abrangentes e efetivas”, comenta.
A COP29, que será realizada em novembro de 2024 em Baku, no Azerbaijão, foi alvo de críticas no início deste ano após anunciar um comitê organizador composto por 28 homens e nenhuma mulher. Depois da repercussão negativa, a organização decidiu incluir mulheres.
Por uma COP diversa
A mobilização para promover uma COP mais diversa no Brasil nasceu dentro do Grupo de Trabalho de Gênero e Justiça Climática do Observatório do Clima.
“Como anfitriã, é responsabilidade da delegação brasileira garantir diversidade e representatividade nas discussões sobre clima. É preciso cuidar de quem cuida e amplificar as vozes de quem luta por justiça climática, para não perpetuarmos o racismo climático”, defende Jessica Siviero, especialista em Justiça Climática na ActionAid.
O grupo também lançou a campanha Mulheres que dão as cartas pelo clima, com um baralho com a imagem de líderes envolvidas na luta contra a crise climática.
As quatorze primeiras já começaram a circular com figuras como a ministra do STF Cármen Lúcia; a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), e a ministra do Povos Indígenas, Sonia Guajajara (PSOL).