newsletter
Diálogos da Transição
eixos.com.br | 19/08/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) indica que o hidrogênio com baixo teor de carbono pode ser um dos impulsionadores da próxima fase das transições de energia limpa da América Latina.
Segundo o documento (.pdf), até o momento, onze países na região publicaram ou estão preparando estratégias e roteiros nacionais para o hidrogênio: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Paraguai, Trinidad e Tobago e Uruguai.
E 25 projetos de hidrogênio de baixo carbono estão nos estágios iniciais de desenvolvimento.
Em 2019, antes da pandemia de covid-19, a produção de hidrogênio de baixo carbono estava limitada a três projetos-piloto na Argentina, Chile e Costa Rica.
Com a entrada em operação nos próximos anos dos 25 projetos mapeados pela IEA, a estimativa é de acréscimo de mais de 2 milhões de toneladas de hidrogênio limpo ao ano — quase metade da produção regional de hidrogênio fóssil em 2019.
A regulação do setor é um ponto importante para que os projetos saiam do papel.
Na Costa Rica, em 2018, o roteiro para uso do hidrogênio no transporte estabeleceu uma estrutura legal para que o setor público iniciasse ao desenvolvimento da atividade.
O plano indicou a frota de veículos públicos como um foco inicial para a aplicação.
Lançada no ano passado, a estratégia chilena identificou as principais oportunidades de substituição do hidrogênio fóssil nas refinarias do país e novas aplicações no transporte de longa distância e de carga pesada.
Com a meta de chegar a 25 GW de capacidade de eletrólise em desenvolvimento até 2030, o Chile é o único país não pertencente à União Europeia com uma meta para eletrolisadores.
As estratégias nacionais também podem ser complementadas por programas subnacionais, especialmente em países federativos como a Argentina, Brasil e México, indica a IEA.
No caso do Brasil, além do recém lançado Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2), governos do Ceará, Rio Grande do Norte e Minas Gerais estão costurando estratégias para atrair investimentos nessa área.
O custo da energia é outro ponto fundamental.
Segundo a análise, “os abundantes e competitivos recursos de energia renovável” em parte dos países da AL tornam a região atrativa para os projetos.
“O Chile tem a ambição de produzir e exportar o hidrogênio mais competitivo do mundo a partir de eletricidade renovável até 2030, e muitos países da América Latina compartilham as condições que podem tornar a região uma líder global na produção de hidrogênio de baixo carbono”, aponta.
Demanda local
Além da possibilidade de exportação para mercados como o europeu, que está investindo pesado em projetos de hidrogênio verde, a região também pode usar o combustível para descarbonizar setores intensivos em energia.
A IEA calcula que os setores industriais e de refino de petróleo da América Latina exigiram mais de 4 milhões de toneladas de hidrogênio em 2019 (cerca de 5% da demanda global), principalmente para produzir amônia, metanol, aço e derivados de petróleo refinados.
Em 2019, a produção de hidrogênio na região exigiu mais gás natural do que o suprimento total de gás do Chile e liberou mais CO2 na atmosfera do que todos os veículos rodoviários da Colômbia.
Além disso, diz o relatório, quase todos os países da região precisarão descarbonizar o transporte para atender às suas ambições climáticas e o hidrogênio pode ser uma solução para este setor.
As oportunidades na indústria pesada estão concentradas em alguns países, como Brasil e México, que produziram mais de 80% do aço da região em 2019.
Ao todo, a demanda brasileira por hidrogênio ficou em cerca de 400 mil toneladas em 2019.
Praticamente toda essa demanda foi por hidrogênio puro, com o refino de petróleo respondendo por 83% da demanda total.
Os volumes restantes foram utilizados para a produção de fertilizantes à base de amônia, setor que operava bem abaixo de sua capacidade instalada em 2019.
Já em Trinidad e Tobago, a indústria química produz e consome grandes volumes de hidrogênio de combustíveis fósseis e é responsável por quase metade das emissões do país.
Outros exemplos vêm do Chile e Peru, onde o uso de hidrogênio limpo na mineração pode deslocar grandes volumes de diesel e permitir reduções significativas de emissões a longo prazo.
A agência também vê o hidrogênio de baixo carbono desempenhando um papel na segurança energética e integração adicional das energias renováveis nos sistemas elétricos.
“O hidrogênio produzido a partir da eletricidade renovável pode substituir as importações de gás natural em alguns países. Ele também pode fornecer armazenamento de eletricidade sazonal e pode fornecer energia renovável estável em sistemas isolados e ilhas”, diz o relatório.
PUBLICIDADE
Projetos-piloto
Três projetos-piloto, na Argentina, Chile e Costa Rica, produzem hidrogênio verde (H2V) a partir de eletricidade renovável.
Argentina
Desde 2008, o projeto Hychico na Patagônia vem produzindo cerca de 52 toneladas de H2V por ano a partir de eólica.
O hidrogênio é misturado ao gás natural para geração de energia usando uma unidade de geração de 1,4 MW que pode operar com diferentes misturas de gás e hidrogênio, incluindo hidrogênio puro.
O Hychico também tem o único sistema de dutos dedicados de hidrogênio da América Latina, com 2,3 km e uma instalação de armazenamento subterrâneo.
Costa Rica
O projeto da companhia de propulsão de foguete Ad Astra Rocket na Costa Rica produz cerca de 0,8 toneladas de H2V por ano a partir de energia solar e eólica na cidade da Libéria, desde 2011.
O hidrogênio é usado para abastecer o primeiro ônibus com célula a combustível da região, e outros quatro veículos leves com célula a combustível.
Chile
A 4,5 mil metros acima do nível do mar, o projeto piloto de microrrede Cerro Pabellón no deserto do Atacama está usando energia solar para produzir 10 toneladas de H2V/ano.
Em operação desde 2019, o projeto fornece eletricidade renovável despachável para uma microrrede que atende mais de 600 trabalhadores de uma usina geotérmica.
Curtas
O governo do Reino Unido lançou esta semana um plano para liderar a economia global do hidrogênio. A primeira Estratégia de Hidrogênio do Reino Unido tem como ambição chegar a 5 GW de capacidade de produção de hidrogênio de baixo carbono e desbloquear investimentos de £ 4 bilhões até 2030.
A Chevron está investindo em uma startup para produção de hidrogênio verde a partir de resíduos e combustível sintético renovável no norte da Califórnia. O investimento na tecnologia é de US$ 20 milhões. S&P Global Platts
A falta de gás natural para abastecer térmicas levou o governo a pedir a autorização para uso de óleo diesel, mais caro e poluente, como combustível em algumas usinas do país. A mudança deve pressionar ainda mais a conta de luz. Folha
A Neoenergia iniciou a operação de quatro sistemas de minigeração solar em Pernambuco. Juntos, os sistemas de geração distribuída têm capacidade instalada de 851 kWp e usam rastreador solar para aumentar a captação de radiação. Neoenergia
A Comissão de Meio Ambiente do Senado promove audiência pública nesta sexta (20), às 10h, para avaliar a política climática do governo federal. Debate vai abordar ações de prevenção e controle de desmatamentos e queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal. Agência Senado
Também na sexta, às 10h30, o Observatório do Clima lança uma nova ferramenta do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa. O SEEG Soluções traz 87 ações para os municípios brasileiros reduzirem emissões. Transmissão no Youtube
[sc name=”news-transicao” ]