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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O Congresso Nacional volta do recesso na próxima semana e, com ele, a discussão sobre o mercado regulado de carbono brasileiro. O governo federal prometeu para agosto a apresentação da sua proposta para criação de um sistema de comércio de emissões, que pode vir na forma de um projeto de lei ou um substitutivo.
Entre os setores que passarão a ter suas emissões reguladas, a indústria de óleo e gás conta com o avanço de um outro marco legal: o da captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês).
Em entrevista à agência epbr, Rafaela Guedes, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), aponta que a tecnologia é uma importante rota para descarbonizar as atividades do O&G, mas a ausência de uma regulação dificulta sua integração ao sistema de comércio de emissões.
O PL 1425/2022, que dá os primeiros passos na regulação do CCS no Brasil, aguarda votação terminativa da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado.
O CCS também é objeto de uma minuta de projeto de lei do programa Combustível do Futuro, conjunto de propostas de políticas públicas de descarbonização da matriz de transportes.
A minuta está na Casa Civil e o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, promete apresentá-la ao Congresso também em agosto.
“Para atingir a neutralidade em carbono até 2050, não podemos prescindir de nenhuma rota de compensação e o Brasil ainda não regulamentou como vão funcionar os nossos hubs de CCS. Não tem uma regulação redonda e nem os incentivos necessários”, defende a especialista do Cebri.
Rafaela Guedes acredita que, até 2030, as práticas de compensação para a indústria de O&G devem continuar sendo as soluções baseadas na natureza, como o reflorestamento e outras alternativas de estocagem de carbono.
“A melhor maneira de fazer isso no curto prazo são as soluções baseadas na natureza até 2030, e, em diante, bioenergia com captura e armazenamento de carbono [BECCS] e captura com utilização do carbono [CCUS]”, diz. “É preciso começar a capturar carbono”. Leia a entrevista completa no site
Oportunidade de bilhões
Levantamento da CCS Brasil calcula que a adoção de tecnologias de captura e armazenamento de CO2, aliada à regulação do mercado de carbono, pode ser uma fonte adicional de receita para as empresas em seus esforços rumo a emissões líquidas zero.
Na agenda de empresas de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão, o CCS também é uma alternativa para a bioenergia e hidrogênio de baixo carbono. Na indústria, a produção de metais está entre os segmentos mais relevantes para a aplicação.
O cenário mais conservador do estudo, com o preço do crédito de carbono a US$ 70 por tonelada de CO2, estima que as receitas possam chegar a quase US$ 14 bilhões por ano com a aplicação de CCS por setores-chave.
Já o horizonte mais otimista, em que os títulos são negociados a US$ 100/tonelada, indica um potencial de lucro próximo a US$ 20 bilhões/ano.
No início de julho, a CCS Brasil assinou uma carta aberta junto com cientistas de diferentes partes do mundo que trabalham com a tecnologia em defesa do CCS em larga escala como um “instrumento seguro, eficaz e economicamente sustentável para combater as mudanças climáticas”.
Enviado aos líderes do Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, o documento afirma que alcançar um mundo net-zero requer o uso de todas as ferramentas à disposição, incluindo o CCS.
“Embora muita atenção esteja voltada para o alto preço inicial da construção de infraestrutura de CCS em grande escala, o que muitas vezes se perde na discussão sobre o tema são os custos para nossa sociedade se não prosseguirmos no ritmo da construção maciça necessário para cumprir os compromissos do Acordo de Paris”, defende a cofundadora da CCS Brasil, Nathalia Weber, uma das signatárias da carta.
Em expansão
No mundo, a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) vê um interesse crescente pela tecnologia, com cerca de 300 projetos em vários estágios de desenvolvimento em toda a cadeia de valor.
Até o ano passado, 47 projetos estavam em operação, com uma capacidade anunciada que varia de 74 a 82 MtCO2 capturados por ano, no total.
Os anúncios estão em alta: mais de 200 novas instalações são planejadas para entrar em operação até 2030, capturando mais de 220 milhões de toneladas CO2/ano. Em 2022, foram 159 novos projetos anunciados.
Um dos mais recentes vem da petroleira dos EUA ExxonMobil, que comprou a Denbury, especializada no desenvolvimento de soluções de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), além de recuperação avançada de petróleo.
A transação avaliada em US$ 4,9 bilhões faz parte da estratégia da petroleira para descarbonizar suas operações. A expectativa é reduzir mais de 100 milhões de toneladas de emissões ao longo do tempo.
Cobrimos por aqui:
- CCUS precisa de regulação para avançar no país, diz gerente da Petrobras
- Entenda o marco legal da captura e armazenamento de carbono
- bp adquire participação em projeto de captura de carbono no Reino Unido
- Começa o armazenamento de CO2 no Mar do Norte
Curtas
Comércio de hidrogênio
O Ministério de Minas e Energia (MME) assinou, no último sábado (22/7), uma declaração conjunta com mais de 15 países para acelerar o desenvolvimento do comércio internacional de hidrogênio renovável e de baixo carbono, durante reunião ministerial de energia na Índia.
Segundo o MME, o objetivo é construir regras equilibradas e que efetivamente permitam destravar investimentos em larga escala.
Austrália, Bélgica, Chile, Alemanha, Japão, Omã, Portugal, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Holanda, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai, Comissão Europeia e Canadá também assinaram a declaração.
Mercado livre
O mercado livre de energia bateu recorde de novos consumidores no primeiro semestre de 2023, segundo a CCEE. Foram 3.330 migrações entre janeiro e setembro, alta de 52% em relação ao mesmo período do ano passado.
GD compartilhada
A AXS Energia anunciou nesta segunda (24/7) a captação de R$ 144 milhões para geração de energia solar, por meio de certificados de recebíveis. A estratégia da companhia do segmento de geração distribuída compartilhada (energia por assinatura) prevê um investimento de R$ 1,5 bilhão para 302 MWp em 96 usinas até 2025.
Braskem aumenta produção de eteno renovável
A empresa investiu US$ 87 milhões na expansão de 30% da capacidade de produção de sua planta de eteno de origem renovável, no Polo Petroquímico de Triunfo, Rio Grande do Sul. O eteno bio-based da Braskem é produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar, que remove o CO2 da atmosfera e o armazena em uma variada gama de produtos de uso diário.
Bionegócios na Amazônia
O MDIC assinou um contrato de gestão com a Fundação Universitas de Estudos Amazônicos (Fuea) para administração do Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA). O secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, foi nomeado para presidir o Conselho de Administração do CBA.
A Fuea terá metas a cumprir nos próximos quatro anos, como captação de R$ 120 milhões de recursos privados, geração de R$ 6 milhões de receitas e aplicação de um percentual mínimo de recursos em índices crescentes até atingir 40% no último ano. MDIC