Energia

Oferta, demanda e posição do petróleo brasileiro em tempos de transição energética

Um futuro descarbonizado não é um futuro sem hidrocarbonetos, escreve Fernanda Delgado

Oferta, demanda e posição do petróleo brasileiro na transição energética. Na imagem, unidade offshore da Techint em Pontal do Paraná (Foto: Cortesia/Techint)
Unidade offshore da Techint em Pontal do Paraná (Foto: Cortesia/Techint)

As transformações no panorama energético mundial são evidentes, sendo um de seus principais vetores as ações voltadas para o contexto da transição e da segurança energética.

Um dos principais impactos gerados pelo processo de descarbonização é a possibilidade futura redução da participação relativa do petróleo na matriz energética mundial.

Estudos recentes têm analisado projeções de cenários de longo prazo (2019-2050), que visam entender o comportamento da demanda mundial por petróleo (figura 1).

A maioria dos cenários confirma a tendência de redução dessa demanda, diagnosticando um ponto de inflexão no quinquênio 2025-2030, podendo marcar a última janela de oportunidade para exploração e rentabilização desses recursos.

As projeções da Agência Internacional de Energia (IEA) e da BP evidenciam uma queda ainda mais acentuada na demanda. As premissas dessas instituições consideram mudanças sociais e setoriais mais profundas, de forma a zerar as emissões líquidas de carbono do setor energético até 2050 e atingir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris.

Figura 1: Projeções de longo prazo da demanda por petróleo (Fonte: IBP, 2022)
Figura 1: Projeções de longo prazo da demanda por petróleo (Fonte: IBP, 2022)

A existência de cenários que revelam a tendência de redução na demanda por petróleo, contudo, não implica na perda do protagonismo deste na matriz energética do futuro.

O setor de óleo e gás será essencial para viabilizar a transição energética, garantindo a segurança do abastecimento bem como a expertise e os recursos para investimento em tecnologias direcionadas ao processo de descarbonização.

Nesse sentido, os esforços da indústria estão voltados para entregar um barril de petróleo mais resiliente, com um baixo custo de produção e com uma baixa taxa de emissão de CO₂.

Assim, um futuro descarbonizado não é um futuro sem hidrocarbonetos.

Tecnologias mais limpas e eficientes

Dentro desse contexto de transição energética e, consequente, redução na demanda por petróleo, países que buscam investir em tecnologias de produção mais eficientes e que emitem uma quantidade menor de CO₂ durante a produção, possuem vantagens competitivas que podem assegurar posições estratégicas na indústria mundial de petróleo.

A figura 2 apresenta os valores de intensidade de CO₂ provenientes das atividades de produção de petróleo para vários países. É importante destacar que a média global desses valores são aproximadamente vinte quilogramas de CO₂ por barril de óleo equivalente.

Países como Canadá, Irã e Iraque, que ocupam posições de destaque na lista de maiores produtores mundiais da commodity, apresentam taxas de emissão de CO₂ consideravelmente acima da média da global.

Em um cenário de longo prazo, essa característica pode ser um fator decisivo para o deslocamento do mercado internacional.

Figura 2: Intensidade de carbono (kg CO₂/boe) da produção de petróleo em 2019 (Fonte: bp, 2022)
Figura 2: Intensidade de carbono (kg CO₂/boe) da produção de petróleo em 2019 (Fonte: bp, 2022)

… ainda em fase inicial

Segundo a IEA, quase metade da redução das emissões necessária para atingir o cenário Net Zero até 2050 vem de tecnologias que ainda estão em estágio de demonstração ou protótipo, sendo de suma importância um grande incremento na inovação no campo de energia limpa.

Uma das tecnologias com maior potencial para descarbonizar a economia global é justamente a de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS, na sigla em inglês). O Brasil detém um dos maiores projetos de CCUS do mundo, localizado no pré-sal da bacia de Santos.

Além de reduzir as emissões, o dióxido de carbono pode ser utilizado para produção de combustíveis sintéticos, potencializar a produção de hidrogênio ou ser reinjetado em reservatórios subterrâneos.

Óleo do Brasil é um dos mais descarbonizados

É sempre bom lembrar que o Brasil ocupa uma posição de destaque no que se refere à transição para uma economia de baixo de carbono.

Isso ocorre devido a fatores como: expressiva participação de fontes renováveis na matriz energética nacional (cerca de 48%, ante média global de 14%), baixo teor de emissão de CO₂ na produção de petróleo e investimento em tecnologias pioneiras de descarbonização.

O petróleo brasileiro está entre os mais descarbonizados do mundo, sendo produzidos com teores de emissão em torno de 16 kgCO₂/boe. Essa média torna-se ainda mais atrativa quando é considerado apenas o petróleo do pré-sal, que produz com 40% menos emissões por barril do que a média mundial.

Para se ter uma ideia, as correntes dos campos de Tupi e Búzios, que representaram cerca de 53% da produção total da Petrobras em 2021, produzem petróleo com taxas abaixo de 10kgCO₂/boe (figura 3).

Devido a essas características, o petróleo brasileiro tende a atender de forma mais competitiva à demanda persistente durante a transição energética, visto que consumir petróleo produzido com menos emissões é uma oportunidade imediata de contribuir para uma economia de baixo de carbono.

Figura 3: Intensidade de emissões de CO₂ por barril de petróleo no Brasil (Fonte: Petrobras, 2022)
Figura 3: Intensidade de emissões de CO₂ por barril de petróleo no Brasil (Fonte: Petrobras, 2022)

P&D para transição

Para além do deslocamento de óleos menos eficientes do ponto de vista da emissão de CO₂ na sua produção, vale destacar os compromissos, aportes tecnológicos e investimentos que o setor de óleo e gás enseja na direção de sua obrigação com a transição energética.

Os aumentos de eficiência energética em seus processos industriais, incluindo o refino, a neutralização das queimas de flaring, redução nas emissões de metano, investimentos em energias renováveis e no mercado de carbono, e claro, o comprometimento de emissões liquidas zero, estão entre os exemplos mais simples perseguidos pelo setor.

Não se deve esquecer, entretanto, que o sucesso do futuro dependerá da manutenção de um ambiente de estabilidade regulatória e de segurança jurídica, de modo a garantir o desenvolvimento sadio do setor, pautado na racionalidade econômica e nas boas práticas internacionais, e promovendo uma indústria competitiva, sustentável e comprometida com a sociedade.

Referências

— IBP. Projeções de longo prazo de demanda por petróleo. IBP, 2022. Disponível em: Projeções de longo prazo de demanda por petróleo – Snapshots – IBP.

— Energy Outlook 2022. Bp, 2022. Disponível em: Energy Outlook 2022.

— Petrobras. Caderno de Mudança do Clima. Petrobras, 2022. Disponível em: Petrobras – Fatos e Dados – Divulgamos o Caderno de Mudança do Clima com resultados e ações em curso para redução de emissões.

Fernanda Delgado é diretora executiva Corporativa do IBP