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Editada por André Ramalho
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PIPELINE EPE estima que a oferta de gás da Bacia de Santos pode ser 19 milhões de m3/dia maior que o previsto, na virada da década, se houver estímulos para redução dos níveis de reinjeção.
Com presença de empreiteiras, Abegás e Abiquim, coalizão defende gás como matéria-prima, larga na frente e lidera articulações com o novo governo. Ministros fazem acenos à pauta da redução da reinjeção. E mais. Confira:
Menos reinjeção, mais gás
Quantos metros cúbicos de gás seria possível trazer para o mercado, a partir da redução do percentual de reinjeção dos campos produtores? A pergunta é um ponto de partida para o debate — que começa a ecoar na agenda econômica do governo Lula — sobre a criação de políticas públicas para estimular o aumento da oferta nacional.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) se debruçou sobre o assunto e estima que a oferta de gás do pré-sal da Bacia de Santos pode ser 19 milhões de m3/dia maior que o previsto, na virada da década, se houver estímulos para que os produtores reduzam o percentual de gás reinjetado.
São 19 milhões de m3/dia a mais que o crescimento esperado da oferta de gás nacional, no cenário base, já considerada a entrada em operação das novas rotas de escoamento do pré-sal (Rota 3 e Pão de Açúcar) nos próximos dez anos.
A estatal do planejamento energético parte da premissa de que a produção líquida de gás — aquela de fato disponível ao mercado — é baixa no Brasil: o equivalente a 41% da produção bruta em 2032, num cenário base.
A EPE fez, então, uma análise de sensibilidade, para incorporar um cenário alternativo, de reinjeção mais baixa, na Bacia de Santos.
Nessa linha, reduziu o percentual de reinjeção — da média atual de 49%, usada no cenário base — para 35%. O suficiente, na visão da estatal, para manter a economicidade dos projetos.
Resultado: a produção líquida poderia atingir, então, os 153 milhões de m3/dia em 2032. Isso é 14% (ou 19 milhões de m3/dia) a mais que os 134 milhões de m3/dia projetados no cenário base — que, por si só, já é praticamente o dobro dos 68 milhões de m3/dia de 2022.
O que a EPE leva em conta nos estudos
As estimativas, em ambos os cenários, levam em conta a entrada em operação do gasoduto de escoamento Rota 3, em 2024; e a construção da rota de Pão de Açúcar (BM-C-33), na Bacia de Campos, e do projeto de Sergipe Águas Profundas.
Nas projeções, a estatal considerou tanto uma possível redução da reinjeção em campos em fase de produção quanto um aumento dos índices de oferta daquelas áreas com descobertas e previsão de entrar em operação nos próximos anos (exemplo: Bacalhau 2, da Equinor).
Projetos já concebidos com previsão de reinjeção total (como Mero, da Petrobras, e Bacalhau 1, da Equinor), por sua vez, não foram considerados.
Ao todo, a EPE calculou o potencial de aumento da produção de 20 projetos, observando as especificidades de cada um. A estatal não estimou, porém, o percentual de reinjeção necessário para manter a recuperação do óleo, nem o percentual de CO2 no gás injetado.
Incentivos
A EPE parte da premissa de que as petroleiras, hoje, optam por manter altos níveis de reinjeção por diferentes motivos: a maximização da produção de óleo — melhor precificado no mercado — é um deles, bem como limites na infraestrutura e dificuldades de se encontrar clientes dispostos a assumir o risco de contratar uma demanda firme a longo prazo.
A estatal não entra no mérito de que estímulos seriam necessários para reverter o quadro. O tema é alvo de diferentes propostas.
Como o Proescoar — que passa por questões que vão desde o lado da oferta (como a redução de royalties, para viabilizar escoamento) até o lado da demanda (desoneração de equipamentos para uso do gás em veículos pesados).
O debate da reinjeção
Agentes públicos e privados disputam há anos a legitimidade (ou não) dos níveis de reinjeção das petroleiras para recuperação de mais óleo.
- A agência epbr promoveu um debate sobre o tema no antessala, programa ao vivo que discute semanalmente temas da política energética nacional: Reinjeção de gás: solução ou desperdício?
As distribuidoras (Abegás), por exemplo, alegam que há excessos e que o Brasil desperdiça mais de 60 milhões de m3/dia por falta de infraestrutura. O discurso ecoa entre parte da cadeia. A indústria química, por exemplo, defende que a ANP fixe limites para a reinjeção.
As petroleiras, por sua vez, argumentam que a estratégia de reinjetar parte do gás contribui não só para a redução das emissões de CO2 como para o aumento da produção de óleo — o que resulta em mais participações governamentais para os cofres públicos. E que, por isso, não se deve falar em “desperdícios de gás”.
Diretor de exploração e produção da Petrobras desde abril de 2021, Fernando Borges, contudo, reconhece que, embora a reinjeção seja necessária em campos de gás associado e com altos teores de CO2, ela pode ser menor em alguns casos, se houver incentivos.
“A quantidade final de reinjeção é afetada, sim, pela precificação do gás. Ter condições de capturar mais valor do gás vai fazer com que essa equação eleve um pouco mais a produção de gás, em contrapartida a uma menor produção de óleo. Mas tem que ter vantajosidade econômica para isso”, comentou, ao participar do antessala.
Governo abre as portas para rediscutir políticas para o gás
O assunto está na ordem do dia. Segmentos do mercado, como a Coalizão pela Competitividade do Gás Natural Matéria-Prima, defendem políticas para estimular investimentos em infraestrutura e aumentar a oferta de gás.
O governo Lula ainda dá seus primeiros passos, mas já fez alguns acenos nesse sentido.
Esta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou categoricamente — mas sem entrar detalhes sobre o cálculo — que o Brasil desperdiça gás, ao reinjetar “mais do que o dobro do que o necessário para extração do óleo”.
As declarações foram dadas dias após ele se reunir com representantes da indústria química — um dos membros da coalização, que lidera as articulações com a equipe econômica de Lula.
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Para aprofundar: Fertilizantes e química lideram agenda do gás no novo governo
A coalização teve prioridade na entrega de suas propostas para os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD); e da indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Silveira, aliás, também incorporou, logo em seu discurso de posse, a defesa pelo aumento da oferta e redução de “desperdícios”.
E que papel caberá à Petrobras nessa história?
O novo presidente da estatal, Jean Paul Prates, terá um papel relevante na mediação dessas disputas.
Já deixou claro sua oposição — e trabalhou para derrubar no Senado — políticas como a da MP da Eletrobras, com as emendas que obrigam o país a contratar térmicas para construir gasodutos.
Ao mesmo tempo, é um defensor da Petrobras como indutora do desenvolvimento nacional e fala abertamente que o gás natural tem um papel a cumprir tanto na transição da matriz energética brasileira, como na indústria.
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