Gás Natural

O raio-x da distribuição de GNL em pequena escala no Brasil

Novos projetos de GNL small scale despontam no mercado brasileiro

O raio-x da distribuição de GNL em pequena escala no Brasil. Na imagem: Caminhão para transporte de GNL conectado a terminal com mangueira espessa e trabalhador na operação. Distribuição de GNL de pequena escala (Foto: Divulgação Galileo)
Distribuição de GNL de pequena escala (Foto: Divulgação Galileo)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Novos projetos de distribuição de GNL em pequena escala despontam no Brasil. Empreendimentos baseados na liquefação de gás nacional largam em vantagem, diante da alta dos preços internacionais.

Suape homologa proposta da OnCorp para novo terminal de GNL em PE. GasOcidente prepara chamada pública para 2023. E mais. Confira:

GNL em pequena escala no olho do mercado

A distribuição de gás natural liquefeito (GNL) em pequena escala entrou, de vez, no radar dos novos agentes do mercado brasileiro. Mais de dez companhias, de diferentes portes e perfis estratégicos, traçam seus planos nesse negócio ainda pouco explorado como forma de interiorizar o gás.

A lista de interessados na atividade inclui tanto importadores de GNL quanto produtores de gás onshore e de biometano que apostam na distribuição de GNL como estratégia de monetização de reservas nacionais. Além disso, companhias de logística e infraestrutura querem se posicionar como prestadores de serviços para esses agentes.

São projetos em diferentes estágios de maturidade. Os preços internacionais do GNL estão, hoje, pouco convidativos e projetos baseados na liquefação de gás nacional largam em vantagem.

Numa perspectiva de mais longo prazo, contudo, o negócio de distribuição small scale chegou para ficar. E há razões para crer nisso.

Por que cresce o interesse?

O analista sênior de gás e GNL da Wood Mackenzie, Henrique dos Anjos, conta que o crescimento do número de empresas interessadas em investir na distribuição de GNL em pequena escala pode ser atribuído a dois fatores principais:

  • A natureza da malha de gasodutos do Brasil, em si, ainda pouco desenvolvida e muito concentrada no litoral – o que garante um potencial de substituição, no interior do país, de combustíveis mais sujos, como diesel, GLP e óleo combustível, sobretudo num momento em que as indústrias traçam estratégias de descarbonização;
  • e o crescimento do número de terminais de regaseificação no Brasil, nos últimos anos. Ancorados em termelétricas, essas plantas têm no GNL em pequena escala uma oportunidade de melhorar seus níveis de utilização e economicidade.

Henrique dos Anjos afirma que, neste momento, o cenário de preços globais do gás pode dificultar os planos de interiorização do GNL importado.

“O fornecedor acaba esbarrando no custo de oportunidade. O carregamento que ele joga no Brasil deixa de ser vendido no mercado spot, a preços altos nesse momento. Mas o cenário da guerra não vai ser para sempre”, ressalva.

Quem já está por aqui

No Brasil, o início do modelo de GNL em pequena escala remonta ao projeto da GásLocal, do consórcio Gemini — originalmente formado por Petrobras e White Martins, e que opera desde 2006 uma planta de liquefação em Paulínia (SP). A unidade abastece clientes num raio de cerca de 800 km, em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Centro-Oeste.

Em 2020, a Petrobras saiu da sociedade – que foi objeto de questionamentos da Comgás no Cade por quase uma década, envolvendo acusações de práticas anti-concorrenciais.

Agora, a White Martins opera a GásLocal sozinha e traça planos de expansão — que passam não só por ampliar a capacidade da planta de liquefação de Paulínia, atualmente em 440 mil m³/dia.

A White Martins também estuda investir num projeto de liquefação em outros locais. A empresa mira com atenção o crescimento econômico do Centro-Oeste. A velocidade da expansão vai depender do ritmo da demanda.

Mais recentemente, ressurgiu o interesse pelo GNL em pequena escala, com a entrada de mais dois players no negócio:

New Fortress Energy

Após comprar os ativos da Golar no Brasil, em 2021, a NFE assumiu as operações do terminal de regaseificação de Barra dos Coqueiros (SE) e começou a atuar na distribuição do GNL via carretas. Assinou um contrato com a Copergás, para entrega de 40 mil m3/dia até 2026.

Este ano, contudo, a NFE vendeu o terminal sergipano para a Eneva. E o plano de construir uma nova planta de regaseificação em Suape (PE) ficou mais distante, depois que a OnCorp venceu a disputa para instalar um terminal de GNL no porto pernambucano.

O reposicionamento da New Fortress – cada vez mais focada nas oportunidades do mercado europeu – lança dúvidas sobre a continuidade da empresa no negócio de GNL em pequena escala no Brasil. Procurada, a companhia preferiu não comentar.

Eneva

Estreou no segmento em 2021, com o início das operações do projeto integrado Azulão-Jaguatirica. O gás produzido pela companhia no campo de Azulão, no Amazonas, é transportado até a termelétrica Jaguatirica II (117 MW), em Boa Vista (RR), via carretas.

A companhia quer, agora, captar novos clientes na região e está investindo também no GNL em pequena escala no Maranhão, a partir da liquefação do gás produzido no Parnaíba. A Eneva já assinou contrato para fornecimento do gás local para a Suzano e Vale. Para suprir os novos clientes, a partir de 2024, vai investir R$ 980 milhões num projeto de liquefação de 600 mil m3/dia.

Em paralelo, quer atuar na distribuição de GNL em pequena escala a partir do terminal de regaseificação de Sergipe.

“O investimento na Celse vai nos dar acesso aos gasodutos de transporte, que, por sua vez, vão nos permitir entregar em outros estados do país. E, além disso, eventualmente tendo acesso ao GNL, também conseguimos interiorizar esse gás via GNL de pequena escala”, disse a gerente geral de comercialização de energia, gás e líquidos da Eneva, Camila Schoti, em setembro.

Eneva e VirtuGNL negociam parceria

Para explorar o potencial de GNL em pequena escala, na região Amazônica, a Eneva negocia uma joint venture com a VirtuGNL – empresa controlada pelo grupo Coencil. A sociedade deve se chamar GNL Brasil.

A VirtuGNL é, atualmente, fornecedora da Eneva: é a responsável pela solução logística do abastecimento de GNL à térmica de Jaguatirica. Agora, traça planos de expandir o negócio para outros mercados fora da Amazônia.

O CEO da empresa, Hamilton Amadeo, afirma que a companhia quer se posicionar como uma “solução de monetização para produtores” de gás e operadores de terminais de importação de GNL. A companhia está aberta a novas parcerias estratégicas.

Na Amazônia, com a Eneva, a VirtuGNL mira, como potenciais clientes, térmicas de sistemas isolados e o uso do GNL na logística fluvial. “Um dos projetos que a gente mais acalenta são empurradores que transportam soja na Amazônia e que têm consumo de diesel grande”, conta Amadeo.

Quem é quem no mercado

GásLocal, Eneva, VirtuGNL e New Fortress Energy largaram na frente. Mas algumas outras empresas têm monitorado de perto oportunidades no mercado brasileiro de GNL em pequena escala. São prospecções em diferentes estágios de maturidade:

Blueshift

Pretende fechar este ano uma parceria com um produtor argentino para a construção de uma planta de liquefação no país vizinho. O plano é iniciar em 2024 a distribuição de GNL em pequena escala, no Sul do Brasil. Projeto terá capacidade para distribuir 40 mil m³/dia, inicialmente, mas pode ser escalonado para até 200 mil m³/dia.

bp

A intenção é instalar uma planta de 2,4 milhões de m³/dia no Porto do Açu (RJ). A bp é uma das sócias da GNA – que opera o terminal de regaseificação do Açu. A petroleira negocia a formação de uma joint venture para atuar no small scale a partir de 2024. Uma das principais tradings globais de GNL, a empresa não tem planos de atuar na distribuição em si, via carretas. Quer se concentrar na infraestrutura e comercialização.

CDGN

Tradicional no gás comprimido (GNC), mira o potencial de projetos de GNL, inclusive por cabotagem. Chegou a fechar um pré-acordo para transportar gás do Pecém (CE) até uma termelétrica no Maranhão, via barcaças, mas o projeto, cadastrado no leilão das usinas a gás previstas na lei de privatização da Eletrobras, não vingou. A CDGN reconhece que o momento dos preços do GNL não é favorável. “A dificuldade é conseguir a molécula a preços competitivos. Infelizmente, nunca conseguimos encontrar essa condição [para entrar no small scale]. Mas não temos dúvida que esse mercado vai acontecer”, afirma o diretor da MDC, Luciano Vilas Boas.

Excelerate Energy

Empresa opera o terminal de regaseificação da Bahia, arrendado da Petrobras até o fim de 2023, e mira o GNL em pequena escala como um dos vetores de seu plano de expansão no Brasil. Está de olho no potencial de distribuição via caminhões e cabotagem. “Com o atual preço do GNL é mais difícil implementar e construir infraestrutura para desenvolvimento de soluções de curto prazo”, ressalva a vice-presidente da Excelerate Energy para a América Latina, Gabriela Aguilar.

Macaw Energy

Empresa recém-fundada pela Golar, com foco na liquefação, transporte e regaseificação. A companhia também mira o potencial da cabotagem de GNL. Aposta em pequenas plantas de liquefação, com capacidades de 20 mil m3/dia a 1 milhão de m3/dia. No Brasil, a Macaw quer se posicionar como prestadora de serviços de GNL de pequena escala, de olho, num primeiro momento, na demanda de produtores onshore e de biometano por soluções de monetização.

Migratio

A comercializadora fechou acordo vinculante com a Nimofast, desenvolvedora de um projeto de terminal de regaseificação no Paraná, para aquisição de 1 milhão de m³/dia de gás natural. O plano é monetizar esse gás no varejo, com foco, sobretudo, em pequenos e médios clientes industriais e comerciais interessados em usar o insumo na cogeração. A estratégia depende, contudo, do sucesso da Nimofast de tirar o terminal do papel.

Origem Energia

Os planos para monetização do gás do Polo Alagoas prevê, dentre outros pilares, a aposta na liquefação do gás onshore. O diretor técnico, Nathan Biddle, diz que a intenção é crescer com os novos negócios “passo a passo” e que vê oportunidades na substituição de térmicas a carvão e diesel por gás, bem como desenvolver o GNV e captar clientes que usam GLP no interior.

Urca Energia

A companhia entrou em 2021 com pedido de autorização na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), para atuar na distribuição de GNL a granel. A empresa tem um braço de comercialização de gás natural e é também a controladora da Gás Verde – produtora de biometano que mira oportunidades na área de liquefação do combustível renovável (bioGNL).

Vibra Energia

Tem feito um movimento de diversificação de portfólio, de olho nas oportunidades de negócio geradas pela transição energética: entrou no capital da Comerc (comercialização de energia) e ZEG Biogás (biogás) e formou uma joint venture com a Copersúcar (comercialização de etanol). Em maio, o então CEO da Vibra, Wilson Ferreira Jr., disse que o gás ainda é “um pedaço faltante” dentro desse reposicionamento. A empresa aposta na sua capilaridade logística e na grande base de cliente como vantagens competitivas. A Vibra chegou a iniciar, em 2020, conversas  com a Golar, para formação de uma sociedade no de GNL em pequena escala, mas a parceria ficou no papel.

Regulação precisa ser aperfeiçoada

No Brasil, a atividade de GNL em pequena escala é classificada como distribuição de gás natural liquefeito a granel e está sujeita à autorização da ANP, nos termos da portaria 118/2000. Felipe Boechem, sócio da área de energia e infraestrutura do Lefosse, escreve que a portaria precisa ser revisitada, a fim de acolher as profundas transformações do mercado e as novas tecnologias e modelos de negócio.

Ele cita, por exemplo, que a atual regulação exige que a sociedade autorizada possua uma central de distribuição. E que, hoje, é possível que um projeto de GNL em pequena escala seja estruturado sem a necessidade desse tipo de instalação. É o caso de projetos baseados em containers – içados de navios diretamente para um caminhão.

Boechem também destaca que, apesar de a Nova Lei do Gás deixar claro que o monopólio estadual previsto pela Constituição abrange somente a distribuição de gás canalizado, alguns estados – como o Maranhão – atribuem à agência reguladora estadual a competência para regular e fiscalizar a atividade de distribuição de GNL.

E que, em alguns casos, preveem a exclusividade ou responsabilidade da concessionária estadual dos serviços de gás canalizado para a execução da atividade.

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O GÁS NA SEMANA

Suape conclui concorrência por novo terminal de GNL

O porto homologou a proposta da Oncorp, que prevê o pagamento de R$ 131 mil por mês, ao longo de 48 meses, para exploração do Cais de Múltiplos Usos (CMU), onde deverá ser instalado a planta de regaseificação. A Oncorp propôs, em julho, investir R$ 220 milhões num terminal de GNL com capacidade de 4 milhões a 9 milhões de m³/dia de gás natural.

– Não houve concorrência no preço. O Porto de Suape rejeitou as manifestações de interesse da CH4 Energia (New Fortress Energy) e Edge (Compass) pelo contrato de uso temporário para implantação do terminal. Última etapa será a aprovação da Antaq.

GasOcidente abre chamada para Gasoduto Bolívia-Mato Grosso

Transportadora do grupo J&F pretende abrir em 2023 chamada pública para contratação da capacidade firme do gasoduto. Já encaminhou à ANP os modelos de contrato e edital da oferta de capacidade para o período entre 2024 e 2028. Os dois clientes da GasOcidente são a termelétrica Cuiabá, da Âmbar Energia, e a MTGás.

Aneel revoga medida favorável à Âmbar

A empresa havia pedido autorização para substituir quatro usinas novas, negociadas pela companhia no leilão emergencial de energia, de 2021, mas que atrasaram, pela UTE Cuiabá – usina merchant (que vende energia no mercado de curto prazo). A agência, porém, revogou a medida, que valeria enquanto as quatro novas usinas não entrassem em operação. Ainda cabe recurso. [g1]

Governo pode reduzir prazos de leilões de energia

O Ministério de Minas e Energia avalia reduzir os prazos contratuais dos leilões regulados de energia, diante do cenário de baixa demanda e mudança no perfil de atendimento às distribuidoras observado este ano. As distribuidoras avaliam que o governo deveria rever a política de novos contratos de energia, que amarram o suprimento das áreas de concessão a custos de longo prazo, enquanto o próprio governo avança com a abertura do mercado livre. [Valor]

– No leilão A-5, da semana passada, apenas duas distribuidoras – Cemig (MG) e Equatorial Pará – contrataram energia. Dos 2.044 projetos cadastrados (83 GW), 22 foram contratados (0,6 GW), totalizando 177 MW médios. As usinas a biogás não tiveram sucesso e as térmicas a gás natural ficaram de fora.

Abegás propõe gas release, limites à queima e incentivo a gasodutos

Às vésperas do 2º turno das eleições, a associação das distribuidoras encaminhou aos presidenciáveis um pacote com 11 propostas para desenvolvimento do mercado. Sugestões incluem: incentivar a construção de novos gasodutos de transporte; fixar limites para a reinjeção de gás; e estabelecer um programa de venda obrigatória da produção nacional.

— Na lista de propostas, também está a regulamentação do acesso obrigatório às infraestruturas essenciais; acelerar a agenda regulatória da ANP; e políticas públicas para incentivo do uso do biometano em veículos pesados.

Novo comando para a TBG

A Petrobras contratou a empresa de head hunter Fesa para encontrar um novo presidente para a subsidiária. A atual presidente, Cynthia Silveira, cujo mandato termina em abril, é candidata a ficar. [O Globo]

bp compra produtora de biogás nos EUA

Aquisição da Archaea Energy vai custar cerca de US$ 4,1 bilhões à petroleira. Com sede em Houston, a Archaea produz gás natural renovável a partir de resíduos de aterros e fazendas. [Bloomberg]