Diálogos da Transição

O que os governos estão fazendo para cortar emissões de metano?

Pelo menos 50 países desenvolveram planos nacionais de metano ou planejam fazê-lo até a COP28

Crise energética pode contribuir para redução de fósseis nas próximas décadas. Na imagem: plataforma com flare aberto, para queima do excesso de gás (Foto: Pixabay)
IEA: choque energético de hoje é um lembrete da fragilidade e insustentabilidade de nosso atual sistema de energia (Foto: Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Lançado este mês, o rastreador global de metano da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostra um número crescente de países desenhando planos de ação para combater as emissões de metano – embora elas sigam em alta.

No ano passado, a indústria de energia foi responsável por 135 milhões de toneladas do gás de efeito estufa liberadas na atmosfera, apenas um pouco abaixo dos recordes registrados em 2019.

Hoje, o segmento responde por cerca de 40% do metano atribuível à atividade humana, perdendo apenas para a agricultura.

Nem mesmo a combinação de altos preços de energia, preocupações com a segurança do abastecimento e incerteza econômica foram suficientes para melhorar o cenário no ano passado.

Alcançar cortes significativos depende da indústria, mas também de políticas de Estado, defende a agência.

Desde 2021, cerca de 150 países aderiram a um acordo internacional para reduzir coletivamente as emissões de metano em 30% em relação aos níveis de 2020 até 2030.

E, apesar de 30% estar bem abaixo do ideal, pelo menos 50 países desenvolveram planos nacionais de metano ou planejam fazê-lo até a COP28, em novembro, incluindo Brasil, Vietnã, Canadá, Finlândia, Suécia, Noruega, EUA e a UE.

O metano é responsável por cerca de 30% do aumento das temperaturas globais desde a Revolução Industrial. Ele se dissipa mais rápido que o dióxido de carbono, mas é um gás de efeito estufa muito mais poderoso no curto prazo.

Somente em 2022, mais de 500 eventos superemissores foram detectados por satélites de operações de petróleo e gás e outros 100 foram vistos em minas de carvão.

Como os países estão agindo?

Entre os que já colocaram sua estratégia na mesa, o Canadá planeja combinar regulamentações e incentivos aos setores de combustíveis fósseis, resíduos e agricultura para alcançar 35% de redução geral até 2030.

Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação estabelece uma taxa sobre o metano emitido por empresas de petróleo e gás, além de disponibilizar US$ 1,55 bilhão em assistência financeira e técnica para esse setor.

Ambos os países, além da União Europeia, devem apresentar novas propostas regulatórias em 2023.

Vale dizer: nesta segunda (27/2) o enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, encontrou o ministro da Agricultura brasileiro, Carlos Fávaro, para discutir agro de baixo carbono e redução das emissões de metano na pecuária esteve em pauta.

Vizinha do Brasil, a Colômbia tornou-se o primeiro país sul-americano a regulamentar as emissões de metano de seu setor de petróleo e gás, incluindo padrões de equipamentos, requisitos para mitigação e limites para queima de gás, além de metodologias para quantificar a queima, ventilação e emissões fugitivas.

Na Ásia, o Vietnã traçou metas específicas de redução em 2025 e 2030 para emissões de extração de petróleo e gás, mineração de carvão e consumo de combustíveis fósseis, visando o corte de 30% no final da década.

Enquanto na África, Angola reduziu os volumes de queima em cerca de 60% entre 2016 e 2021, após o seu endosso à iniciativa Zero Routine Flaring do Banco Mundial.

E a Nigéria emitiu diretrizes para a gestão de emissões no upstream para apoiar a eliminação da queima de gás de rotina até 2030 e uma redução de 60% nas emissões fugitivas até 2031.

O Norte africano concentra também algumas das maiores oportunidades de redução da queima identificadas pela IEA.

“Cerca de 10 bcm de gás natural foram queimados em ativos upstream na Argélia e no Egito. A maioria dos flares opera de forma contínua e mais de três quartos estão em locais dentro de 20 km de gasodutos existentes que têm acesso imediato a um gasoduto de exportação existente ou instalação de GNL”, diz o relatório.

Gás que poderia ser direcionado com “políticas certas e a implementação no local de queima de medidas de redução das emissões de metano”, completa.

Falta ação da indústria

Menos de 3% da receita acumulada pelas empresas de petróleo e gás em todo o mundo no ano passado seria suficiente para cobrir os US$ 100 bilhões em investimentos em tecnologias necessárias para reduzir as emissões de metano do setor, defende a IEA.

Segundo a agência, as emissões do O&G sozinhas poderiam ser reduzidas em 75% com as tecnologias existentes e de forma relativamente barata.

Uma das medidas de impacto é a interrupção das queimas e descargas não emergenciais.

A organização calcula que cerca de 260 bilhões de metros cúbicos (bcm) de metano são perdidos para a atmosfera a cada ano nessas operações. E três quartos disso poderiam ser retidos e colocados no mercado usando políticas e tecnologias testadas e comprovadas.

“Os cortes de metano estão entre as opções mais baratas para limitar o aquecimento global a curto prazo”, comenta o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.

Ele afirma que a explosão do oleoduto Nord Stream no ano passado liberou uma enorme quantidade de metano na atmosfera, mas as operações normais de O&G em todo o mundo liberam a mesma quantidade de metano todos os dias.

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Curtas

Restauração da Mata Atlântica

A Casa dos Ventos vai investir na restauração de uma área de Mata Atlântica no sul da Bahia, com plantio inicial de 10 mil mudas de espécies nativas, entre elas o pau brasil, o pau ferro e diversas espécies frutíferas. O desenvolvimento das árvores será monitorado remotamente, por meio de um código de geolocalização. A ação é uma parceria com a greentech Muda, com pesquisadores e cientistas que trabalham para recompor a área cortada pelo Rio Jequiriçá.

Renas ameaçadas

Greta Thunberg e dezenas de outros ativistas bloquearam as entradas do ministério de energia da Noruega, protestando contra as turbinas eólicas construídas em terras tradicionalmente usadas por criadores de renas indígenas. Thunberg, uma defensora do fim da dependência mundial de energia baseada em carbono, disse que a transição para a energia verde não pode ocorrer às custas dos direitos indígenas. Reuters

Enquanto isso na China…

Mais 106 gigawatts de capacidade de energia a carvão foram aprovados no ano passado, o maior número desde 2015, de acordo com o Global Energy Monitor. Especialistas estão preocupados que o país asiático continue aumentando as aprovações nos próximos anos, mesmo que grande parte do mundo tente se afastar do combustível fóssil. Reuters

Green-X

Inovação aberta da Galp está procurando soluções para os principais desafios das energias renováveis no Brasil. A chamada é exclusivamente destinada a estudantes, investigadores e startups brasileiras que estejam a trabalhar na inovação verde. Os melhores projetos terão mentorias e poderão receber prêmios num total de R$ 60 mil. As candidaturas estão abertas até amanhã (28 de fevereiro) e podem ser apresentadas no site Green-X.