CHICAGO – Previstos para começar a decolar já em 2024, nas Olimpíadas de Paris, os veículos de pouso vertical (também chamados carros voadores) vão precisar encontrar mercados onde possam transportar o máximo de pessoas para serem econômica e ambientalmente viáveis.
“Alguns dos primeiros passageiros a voar nesses veículos serão pessoas ricas. Mas a única forma que este negócio faz sentido é se tiver muitas pessoas voando”, afirma David Shilliday, vice-presidente de Mobilidade Aérea Avançada da Honeywell.
“[As fabricantes] precisam encontrar um modelo de negócio onde possam transportar muitas pessoas, a um preço em que elas possam voar, ou tudo vem abaixo”, completa.
A empresa estadunidense de tecnologia está trabalhando em sistemas de propulsão para o que acredita que será a mobilidade aérea do futuro – desde aviação comercial usando biocombustíveis até drones de entregas com baterias ou hidrogênio.
No caso dos veículos de pouso e decolagem vertical, uma espécie de táxi-aéreo, a Honeywell tem mais de US$ 10 bilhões em pipeline nos próximos cinco anos, com potencial para gerar aproximadamente US$ 2 bilhões em receitas até 2030.
A expectativa da Honeywell e das suas clientes – as fabricantes de aeronaves – é que o custo para o usuário deste tipo de transporte seja equivalente ao de uma viagem de Uber Black, a categoria executiva do aplicativo de mobilidade urbana.
“Estamos fazendo análises com os nossos clientes sobre quão eficiente os motores precisam ser, quão eficiente a operação precisa ser, de forma a chegarmos ao custo de assento/milha comparável ao Uber Black”, conta Shilliday.
“Não é uma meta aspiracional. Estamos entregando tecnologia para ajudar nossos clientes a chegar lá”, enfatiza o executivo.
A Honeywell calcula que a combinação de eletrificação e automação com o voo de cruzeiro de asa fixa reduzem o custo operacional em 35% a 75%.
No Brasil, a prefeitura do Rio de Janeiro estuda como integrar os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL) ao turismo da cidade.
Segundo o governo municipal, a Eve, subsidiária de aeronaves elétricas da Embraer, está preparando os documentos legais para a futura operação dos eVTOLs no transporte de pessoas de/para aeroportos, além de voos panorâmicos sobre pontos turísticos.
Certificação global
Falta, no entanto, avançar com a regulação mundialmente. Nenhum dos novos veículos projetados por empresas como Embraer e Airbus conseguiram completar a certificação ainda, por ser uma tecnologia totalmente nova e carecer de um arcabouço de regras.
O vice-presidente da Honeywell acredita que o setor está “a dois minutos” de conseguir aprovação dos reguladores.
“Estamos quase perto da conclusão. Precisamos que alguém consiga completar a certificação nas agências reguladoras e todo mundo depois disso terá um modelo a seguir”.
Cobrimos por aqui:
- Califórnia terá carros voadores elétricos em três anos, anunciam Eve e United Airlines
- Estacionamento solar em Sorocaba se prepara para receber carros voadores
- Eve conclui testes com ‘carro voador’ eVTOL em túnel de vento
- Airbus fecha com Magicall para desenvolver motores elétricos de ‘carros voadores’
Por que um carro voador?
Segundo Shilliday, além da redução no custo operacional, este tipo de aeronave é mais sustentável do que os helicópteros convencionais.
“O trem de força totalmente elétrico elimina poluentes e emissões de carbono no ponto de aplicação”, afirma.
Como a maioria dos veículos que estão sendo projetados são totalmente elétricos – apenas um é híbrido – a fonte de emissões vem da eletricidade usada para carregar as baterias. Se for renovável, a redução de CO2 chega a 80% em alguns estados dos EUA.
Outra característica é a redução de ruídos. As operações chegam a ser 100 vezes mais silenciosas que as de um helicóptero, por causa dos rotores pequenos com baixa velocidade.
Drones a hidrogênio
Na semana passada, a Honeywell anunciou uma parceria com o Departamento de Energia dos EUA (DoE) para prototipar e apoiar a comercialização de uma solução de armazenamento de hidrogênio para veículos aéreos não tripulados (UAVs).
A colaboração vai durar um ano e pretende qualificar a tecnologia para o projeto Flash, que estuda o transporte de hidrogênio para aviação elétrica. O objetivo é melhorar o alcance do transporte e elevar a quantidade de carga a ser transportada.
“Os drones de longo alcance de hoje são normalmente movidos por motores de combustão interna. Embora forneçam o alcance necessário que falta aos UAV elétricos a bateria, esses motores têm problemas com ruído, vibração e emissões excessivas, incluindo emissões de carbono”, explica Katherine Hurst, cientista sênior do Laboratório de Energias Renováveis do DoE.
A jornalista viajou para a 2023 Global Sustainability Week a convite e com despesas pagas pela Honeywell