RIO – O balanço entre oferta e demanda de gás natural liquefeito (GNL) deve continuar apertado em 2024, mas com preços menos pressionados em relação aos anos recentes, de acordo com projeções de mercado. A volatilidade, contudo, deve se manter no radar em meio a um quadro geopolítico ainda incerto.
Do lado da oferta, a perspectiva é de crescimento, mas ainda limitado. Relatório recente da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que o fornecimento de GNL aumentará 3,5% este ano – bem abaixo da taxa de expansão de 8% de 2016-2020.
Atrasos em novas plantas de liquefação e restrições relacionadas ao fornecimento de gás para unidades já existentes poderão atrasar a rampa de crescimento da oferta global até 2025 – no ano passado, a expansão já havia ficado aquém das expectativas e foi insuficiente para compensar o declínio da oferta de gás russo à Europa.
A ICIS, empresa de inteligência em mercado de commodities, também vê restrições no crescimento da oferta. A previsão é que o suprimento global de GNL suba apenas 2%, para 413 milhões de toneladas este ano, deixando o mercado subabastecido, já que a perspectiva de alta da demanda global é de 5%, para 424 milhões de toneladas.
As análises são anteriores à decisão do governo dos Estados Unidos de pausar as licenças para novos projetos de exportação de GNL. A previsão no mercado, contudo, é que a moratória de Biden não deve ter impactos significativos a curto e médio prazos.
- Para aprofundar: Como a moratória de Biden à exportação de GNL afeta o mercado
Demanda com sinais moderados
Do lado da demanda, a ICIS destaca que a Europa e a China devem continuar impulsionando a procura pela commodity.
A China manterá o seu status de principal compradora de GNL do mundo, com crescimento de 9% na procura – acompanhada da Índia, com alta de 7%.
Os dois países devem ajudar a compensar o declínio das compras do Japão e da Coreia do Sul, no continente asiático.
A IEA projeta uma aceleração da demanda por gás (não só GNL) em relação à alta de apenas 0,5% de 2023. A previsão para 2024 é de crescimento de 2,5%.
O clima mais frio esperado para o inverno de 2024 no Hemisfério Norte, em comparação com as temperaturas mais amenas registradas em 2023, deverá aumentar a demanda de gás para aquecimento nos setores residenciais e comerciais.
Além disso, os preços menos estressados, embora ainda permaneçam acima das médias históricas, também devem apoiar a recuperação da procura de gás, sobretudo nos setores industriais sensíveis a preço.
“Esperamos ver um crescimento sólido na procura global de gás este ano, uma vez que os preços desceram para níveis relativamente administráveis. Mas a velocidade com que esta nova demanda possa ser satisfeita será crítica, especialmente porque a oferta é escassa e uma nova capacidade substancial de GNL só estará operacional depois de 2024”, comentou o diretor de Mercados Energéticos e Segurança da IEA, Keisuke Sadamori, em nota.
Inflação do gás começa a cair
A IEA destaca que os preços do gás, depois do pico de 2022 provocado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, começaram a ceder.
Foi uma combinação de alguns fatores, como o declínio do consumo de gás na Europa, dada as condições climáticas mais amenas, e a rápida expansão das energias renováveis e maior disponibilidade de energia nuclear – tanto na Europa como na Ásia.
Em paralelo, a IEA cita que, embora o inverno em 2024 deva ser menos ameno, a Europa convive com elevados níveis de armazenamento que ajudarão a compensar a pressão sobre os preços.
O armazenamento de gás na região deverá atingir 55% até abril e provavelmente atingirá a meta de 90% da União Europeia antes do inverno de 2024/2025.
Na avaliação da Wood Mackenzie, complementar, o crescimento da oferta global de GNL permanecerá limitado em 2024, mas com a procura asiática de GNL ainda fraca, é pouco provável que a concorrência pelo GNL aqueça. A consultoria trabalha com o cenário de preços em viés de baixa este ano.
As incertezas geopolíticas, por sua vez, devem continuar como principal fator de risco para os mercados globais de gás em 2024, segundo a IEA.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, o aumento das tensões no Oriente Médio e as preocupações sobre a interferência deliberada em infraestruturas críticas, como os gasodutos, têm o potencial de gerar ainda mais volatilidade.
Europa mantém dependência do GNL
De acordo com a ICIS, a Europa dependerá fortemente do GNL para abastecer o aumento esperado de 8% na demanda de gás em 2024.
A previsão é que as importações de GNL da Europa Ocidental crescerão 15%, para 1.743 TWh em 2024.
O continente busca no GNL, sobretudo dos Estados Unidos, uma alternativa ao gás russo. A expectativa é que a Europa Ocidental expandirá a capacidade de regaseificação, com destaques para a Alemanha e a Bélgica.
Já o fornecimento de gás russo para a Europa, por gasodutos, deve permanecer em níveis reduzidos semelhantes aos de 2023. Países da Europa Central devem manter a relação comercial com Moscou.