Diálogos da Transição

O que as petroleiras estão fazendo para descarbonizar o pré-sal?

Equinor anuncia US$ 455 milhões em contratos para Bacia de Santos. Na imagem: FPSO instalado no campo de Peregrino, operado pela Equinor na Bacia de Campos (Foto: Øyvind Hagen/Equinor)
FPSO Peregrino, operado pela Equinor na Bacia de Campos, atingiu a capacidade máxima de 110 mil barris por dia de petróleo (Foto: Øyvind Hagen/Equinor)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 24/11/21
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Editada por Nayara Machado
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Com metas globais de redução de emissões, grandes operadoras no pré-sal brasileiro traçam estratégias para reduzir a intensidade de carbono da produção. Em comum, está a busca por mais eficiência, eletrificação e automação de sistemas.

Hoje, a intensidade de carbono na exploração de petróleo no Brasil varia entre 20 a 30 kg de CO2 por barril, acima da média mundial de 18 kgCO2/barril e das das metas globais das petroleiras.

A Equinor, por exemplo, planeja atingir 6 kgCO2/barril até o fim da década; a Petrobras tem entre as suas metas climáticas chegar a 15 kgCO2/barril. As empresas participaram do 4º Fórum Técnico Pré-Sal Petróleo, que também trouxe cases da Total Energies e da ExxonMobil.

“É natural que após a COP26 haja uma pressão ainda maior sobre a indústria de petróleo e gás por redução de emissões, especificamente CO2 e metano”, diz Diogo Sandy, gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde do projeto Bacalhau, da Equinor.

Eletrificação. A lógica é conhecida: com a eletrificação, a conversão de energia é mais eficiente e abre-se a possibilidade de usar menos óleo e mais gás como combustível. Desafio é levar para o offshore.

Na plataforma de 220 mil barris/dia de Bacalhau, a Equinor encomendou um módulo de geração de energia elétrica a ciclo combinado — isto é, combinar turbina a gás com turbina a vapor para aproveitar o calor excedente que seria perdido nas turbinas a vapor.

Quatro turbinas a gás e duas turbinas a vapor serão responsáveis por uma geração maior de energia com a mesma quantidade de gás.

A estimativa é de redução em 25% das emissões de CO2. Com outras soluções, o projeto de Bacalhau parte de uma emissão-base de 500 mil toneladas para 110 mil toneladas de CO2 por ano — ou 8,8 kg de CO2 por barril produzido.

O ciclo combinado também está no radar da Petrobras. A empresa já pretende encomendar FPSOs para Búzios, no pré-sal, com os sistemas 100% eletrificados, mudança que demandou uma alteração recente na regulamentação ambiental – Conama revoga limites de emissão para eletrificação de FPSOs

Algumas iniciativas são de baixo custo… Operadora do campo de Lapa, comprado da Petrobras, a Total Energies identificou 33 iniciativas capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa do FPSO Caraguatatuba, a maioria de baixo ou nenhum custo e com potencial de redução anual de 15% das emissões de GEE.

“O papel da eficiência energética é muito relevante, da ordem de 40%. É uma variável que tem que ser muito bem trabalhada porque realmente o ganho é muito grande, e às vezes com baixo investimento”, explica Anidio Correa, gerente de Meio Ambiente e Licenciamento da empresa.

Vão desde mudanças em processos até a automação de serviços de manutenção offshore, por exemplo, para reduzir a demanda por viagens de barcos de apoio e, consequentemente, do consumo de combustíveis.

…Outras são caríssimas e precisam de escala. Alberto Ferrin, vice-presidente da ExxonMobil, destaca o conceito dos hubs de captura e armazenamento de carbono (CCS).

A ideia é que indústrias de alta emissão possam compartilhar a infraestrutura de armazenamento, com benefícios de economia de escala. O primeiro hub, lançado este ano em Houston, capital do petróleo no Texas (EUA), atraiu o interesse de mais uma dezena de empresas.

“O hub tem potencial de capturar e armazenar permanentemente cerca de 100 milhões de toneladas de CO2 anualmente até 2040, o equivalente à quantidade de CO2 armazenada por cerca de 500 mil km² de floresta (1/3 do estado do Amazonas)”, diz Ferrin.

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Mais descarbonização no mercado de óleo. Até agora, mais de 100 novas instalações CCUS foram anunciadas e o projeto global de capacidade de captura de CO2 está a caminho de quadruplicar, afirma Samantha McCulloch, chefe da Unidade de CCUS da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

A IEA tem insistido no papel da tecnologia de CCUS para que o setor de óleo e gás possa alcançar emissões líquidas zero e para apoiar a competitividade da produção de hidrogênio com baixo teor de carbono.

“No entanto, as esperanças anteriores de que o CCUS estava prestes a cumprir seu potencial se esgotaram”, diz.

A última década foi marcada pelo cancelamentos de projetos e programas de financiamento de governos que não deram certo.

Em média, foi adicionada em todo o mundo a capacidade de captura de menos de 3 milhões de toneladas de CO2 (MtCO2) a cada ano desde 2010. A capacidade de captura anual hoje é de pouco mais de 40 MtCO2.

“Isso precisa aumentar para 1,6 bilhão de toneladas (GtCO2) em 2030 para se alinhar com um caminho para o zero líquido até 2050”, completa.

E transição para amenizar choques de energia. O diretor executivo da IEA, Fatih Birol, disse nesta quarta que os preços atuais dos combustíveis estão na “zona de perigo” para grande parte dos países emergentes e que a energia limpa pode ajudar a superar desafios.

“Os recentes aumentos nos preços da energia resultam de vários fatores, incluindo uma rápida recuperação econômica que impulsiona a demanda, bem como interrupções e impactos relacionados ao clima”, explica.

O executivo afirma ser enganoso culpar as políticas de energia limpa pelos aumentos de preços.

“Algumas das tensões nos mercados de hoje também podem ser ‘rigidez artificial’ devido às estratégias de alguns grandes produtores [de óleo]”.

Para apoiar uma transição “rápida e ordenada” de energia limpa, o executivo anunciou que em fevereiro a IEA lançará uma nova versão do Rastreador de Metano para adicionar dados detalhados sobre carvão à cobertura de petróleo e gás.

Por aqui, diesel verde. Vibra e Brasil BioFuels (BBF) firmaram contrato de compra e venda de diesel verde, também conhecido como HVO, que será fornecido pela primeira biorrefinaria para produção de HVO no Brasil.

A planta ficará localizada na Zona Franca de Manaus. A primeira fase do projeto está prevista para entrar em operação em janeiro de 2025 e contará com investimentos industriais a serem realizados pela BBF da ordem de R$ 1,8 bilhão.

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