Energia

O que a compra da Celse significa para os planos da Eneva

Eneva assina contrato para aquisição da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse), que opera maior usina a gás do Brasil

O que a compra da Celse pode significar para os planos da Eneva. Na imagem, usinas a gás no Complexo Parnaíba (Foto: Divulgação)
Com 1,9 GW, o Complexo Parnaíba [na foto] é, hoje, o principal ativo de geração a gás da Eneva (Foto: Divulgação)

RIO — Uma potencial aquisição da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) pode representar uma expansão imediata de 66% na capacidade contratada de geração a gás natural da Eneva, para cerca de 3,9 GW. Além disso, garante acesso à infraestrutura de importação de gás, para os planos da empresa de se consolidar como uma comercializadora.

A ampliação do parque termelétrico a gás é um dos vetores de crescimento da empresa em seu plano estratégico, cuja direção é consolidar a Eneva como uma companhia integrada de energia.

A Eneva confirmou, nesta terça-feira (31/5), que assinou contrato de R$ 6,1 bilhões pela Celse — sociedade formada pela New Fortress Energy e EBrasil e que opera a termelétrica a gás natural Porto de Sergipe (1,551 GW).

A companhia possui, hoje, 3,7 GW contratados, dos quais 2,34 GW são termelétricas a gás — o restante do parque é composto por usinas de energia solar e a carvão.

Com uma eventual aquisição da Celse, a geradora pode atingir uma capacidade contratada de 5,23 GW — dos quais cerca de 3,9 GW a gás natural. A usina Porto de Sergipe é a maior térmica a gás em atividade, hoje, no Brasil, de acordo com dados da Aneel.

A compra da termelétrica sergipana — abastecida por GNL importado — diversificará a forma como a companhia se posiciona na geração a gás. A Eneva opera, hoje, apenas projetos de termelétricas integradas à produção própria de gás em terra.

Este é o caso, por exemplo, do Complexo Parnaíba (MA), que reúne quatro usinas em operação e mais duas em construção — todas elas somam 1,9 GW e estão localizadas próximas aos campos de produção de gás operados pela empresa na Bacia do Parnaíba.

No campo de Azulão, na Bacia do Amazonas, a Eneva replicou o modelo e está construindo uma térmica de 295 MW próxima aos poços produtores. A empresa opera também uma térmica menor, a Jaguatirica II, de 141 MW — que, embora localizada em Boa Vista (RR), a mais de 1 mil km de distância de Azulão, é abastecida pela produção do campo.

A negociação para a aquisição da Celse não inclui a aquisição do terminal de GNL de Sergipe, que abastece a usina Porto de Sergipe, mas o ativo continuará afretado à termelétrica até 2044. Da capacidade total da planta de regaseificação, de 21 milhões de m³/dia, cerca de 6 milhões de m³/dia estão dedicados à usina.

Em nota, o presidente da Eneva, Pedro Zinner, afirmou que a aquisição da Celse é um “passo fundamental” para que a companhia tenha sua “primeira infraestrutura de hub de gás”.

“Assim, a aquisição garante à Eneva acesso a gás importado e infraestrutura com capacidade disponível que permite a gestão de flexibilidade de suprimento com confiabilidade, contribuindo adicionalmente para a expansão do segmento de comercialização de gás”, esclareceu a empresa, em fato relevante publicado na noite desta terça-feira (31/5).

Hoje, a planta de regaseificação está isolada da rede de gasodutos, mas a Transportadora Associada de Gás (TAG) tem planos de interligar o ativo à sua malha de transporte.

Isso significa, no futuro, que a termelétrica da Celse poderá ser abastecida não só por GNL, mas também pelo gás nacional. A Eneva, vale lembrar, tem planos de se consolidar como uma empresa verticalizada, com atuação na produção, comercialização e geração a gás. A companhia mira, inclusive, a aquisição de campos maduros da Petrobras na Bahia.

Do gás onshore ao GNL

Para além da aquisição da Celse, a Eneva tem planos de participar dos próximos leilões de energia, com novos projetos termelétricos. E, em paralelo, estuda a construção de terminais próprios de importação de GNL em São Luís (MA) e em Macaé (RJ). A ideia é desenvolver novos hubs de gás, com um mix de gás nacional e importado, para atendimento tanto a novas termelétricas quanto a consumidores industriais.

Os planos da Eneva passam por explorar também novos negócios no gás natural, como a comercialização e distribuição de GNL de pequena escala. A companhia deu, na semana passada, um passo importante nesse sentido, ao fechar um contrato para venda de gás à Suzano, no Maranhão.

Nos próximos leilões de energia, o plano é negociar o projeto de expansão do parque de Azulão (AM). Em dezembro, a empresa negociou, no leilão de reserva de capacidade, a térmica Azulão 1, com capacidade de 295 MW, mas a geradora vê potencial para atingir uma capacidade de 1 GW no local.

A empresa monitora também oportunidades nos leilões de contratação compulsória de termelétricas a gás — exigência prevista na lei que aprovou a privatização da Eletrobras.

O plano estratégico da Eneva

A estratégia da companhia 2022-2030 é dividido em três fases: num primeiro momento, até 2024, o foco da Eneva está nos mercados e produtos existentes, como os projetos de geração de energia integrada à produção de gás no Parnaíba (MA) e Azulão (AM); e no início do desenvolvimento da carteira de projetos de energias renováveis – possível graças à aquisição da Focus Energia.

Numa segunda fase, entre 2024 e 2027, a Eneva se concentrará no desenvolvimento dos novos negócios do mercado de gás natural, como a comercialização, distribuição de GNL de pequena escala e a implementação de novos hubs de gás. É dentro dessa estratégia que se encaixa a aquisição da Celse.

Num terceiro momento, entre, 2026 e 2030, a Eneva quer investir em novos mercados e novos produtos. E aposta no hidrogênio (verde e azul) e no segmento de captura de carbono (CCUS).

A previsão da companhia é investir, até o fim da década, cerca de R$ 500 milhões em tecnologias de baixo carbono.

Nesse sentido, a Eneva investiu, em 2021, R$ 5 milhões num projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) numa planta-piloto para captura de CO2 da pós-combustão do carvão mineral e do gás natural, realizado em parceria com a Universidade Federal do Ceará e a Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina.

Para 2022, a Eneva pretende começar a investir numa planta-piloto de hidrogênio, em conjunto com a Universidade Federal do Pernambuco e a Hytron. A iniciativa engloba, dentre outros pontos, um eletrolisador para geração de hidrogênio verde no Parnaíba e a avaliação de modelos de negócio e estudos de entraves regulatórios e legais. O valor total do projeto, previsto para começar a produzir no primeiro trimestre de 2023, é de 17 milhões.

A diretora de gente, ESG, saúde e segurança, comunicação e cultura da Eneva, Anita Baggio, conta que a empresa busca parceiros para futuros investimentos em hidrogênio e CCUS.

“Olhando para a nossa meta de atingirmos o net zero em 2050, não há uma única bala de prata, vamos precisar avançar em várias frentes”, disse a executiva à agência epbr, ao comentar sobre o relatório de sustentabilidade 2021 da companhia, divulgado no dia 3 de junho.

Ao todo, a Eneva assumiu três compromissos macros na agenda ESG: reduzir as emissões; melhorar o Índice de Progresso Social (IPS) nos municípios a empresa atua; e apoiar a conservação da Floresta Amazônica — com a consolidação de 500 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia Legal até 2030.

Atualizada para incluir informações oficiais da Eneva, após a confirmação da assinatura do contrato; e informações sobre o relatório de sustentabilidade da empresa.