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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Na 20ª posição no ranking de estados que mais contribuem para as emissões de gases de efeito estufa do Brasil, Pernambuco quer chegar a 2050 com emissões líquidas zero e promete aumentar em 6% seu Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado até lá — um incremento de R$ 20 bilhões.
Para isso, o estado desenhou em março seu Plano de Descarbonização (PDPE), com metas, prazos e ações para mitigar as emissões, ao mesmo tempo em que gera emprego e alavanca a economia local.
O PDPE prevê a implementação de tecnologias de baixo carbono nos diferentes setores da economia, que serão responsáveis por evitar 75% das emissões projetadas para 2050 no cenário de linha de base. Os outros 25% devem ser compensados pela remoção de carbono da atmosfera, a partir da introdução da bioenergia com captura de CO₂.
“Essas escolhas tecnológicas de descarbonização apontam para uma economia mais próspera, com aumento do PIB, de empregos e da renda das famílias”, explica Samanta Della Bella, superintendente de Clima da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas).
Em entrevista à agência epbr, Samanta conta que as emissões do estado são baixas comparadas ao resto do país, mas a alta vulnerabilidade climática está colocando o tema no centro da agenda política local.
Em agosto passado, Pernambuco se juntou a outros três estados brasileiros na campanha Race to Zero das Nações Unidas.
Para contornar a dificuldade de um diálogo com o governo federal quando o assunto é clima e meio ambiente, governos subnacionais se mobilizam em fóruns para construir compromissos que ajudem o Brasil a alcançar as metas de descarbonização pactuadas no Acordo de Paris, em 2015.
“No grupo de estados, estabelecemos uma carta de compromisso para que todos sejam atores na busca das metas baseadas no Acordo de Paris. Essas ações vão desde agricultura sustentável, transporte, energia. Esse grupo tem discutido como os estados podem avançar nos compromissos. Dessas conversas surgem várias parcerias”, diz Samanta.
“Precisamos utilizar as ferramentas que existem hoje para analisar a vulnerabilidade, detectar os pontos mais sensíveis e propor ações emergenciais, mas precisamos trazer isso também para um planejamento de Estado e colocar na prática”, completa.
Em resumo, as propostas se dividem em quatro eixos temáticos:
Energia & Indústria: ampliação da geração elétrica renovável, produção industrial de baixo carbono, nova matriz de combustíveis e desenvolvimento da captura, transporte, utilização e armazenamento de CO₂.
Transportes: mobilidade urbana de baixo carbono, redução da pegada de carbono das atividades portuárias e de navegação, redução da pegada de carbono do transporte rodoviário de cargas e transição para biocombustíveis nos transportes pesados.
Resíduos: melhorias na gestão dos resíduos sólidos urbanos e conscientização da população, e avanço da recuperação e aproveitamento de biogás e biometano.
Afolu (agricultura, florestas e uso do solo): descarbonização pelo uso da terra e agropecuária de baixo carbono.
E para cada medida de descarbonização prevista nos eixos estratégicos, o estado propõe ações específicas para superar as barreiras à implementação das soluções tecnológicas.
No eixo Energia & Indústria, por exemplo, o PDPE sinaliza para o potencial do setor de energia como gerador de créditos de carbono, que poderiam vir tanto da geração elétrica renovável, quanto da produção de biocombustíveis com captura e armazenamento de CO₂ (BECCS).
A produção de biocombustíveis avançados — diesel verde e combustível sustentável de aviação — é outro ponto que ganha destaque no documento, que vê a possibilidade de atender parcialmente a demanda projetada no setor de transportes a partir de 2035.
“A demanda por bioquerosene é similar ao potencial de oferta estimado e o potencial de oferta de diesel verde corresponde a cerca de um terço da demanda projetada em 2050. A adição da tecnologia de BECCS a parte da produção de etanol e dos biocombustíveis avançados supre a demanda por emissões negativas para compensar o residual de GEE emitido pelos demais setores em 2050”, estima o PDPE.
Ainda sobre a produção de combustíveis, será também preciso limitar o processamento de petróleo na refinaria do estado (RNEST) a uma parcela de cerca de 30% de sua capacidade atual.
“São muitas camadas de ações que precisam ser trabalhadas. São mudanças que têm que acontecer no setor público e privado, em várias áreas”, comenta a superintendente da Semas. Leia a entrevista completa
Cobrimos por aqui
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Pauta anti-ambiental no Senado
Organizações da sociedade civil pediram nesta semana que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), cumpra a promessa feita em março, durante o Ato Pela Terra, de não pautar de forma apressada nenhum dos projetos sobre meio ambiente em tramitação na casa.
Em ano eleitoral e pouco antes do recesso parlamentar, pelo menos três projetos que alteram o Código Florestal, liberam mais agrotóxicos e esvaziam a fiscalização agropecuária entraram em pauta, sem passar nem mesmo pela Comissão de Meio Ambiente.
Após pressões, dois deles — PL 1459/2022 (agrotóxicos) e PL 1293/2021 (autocontrole agropecuário) — foram adiados para a semana que vem.
O PL 1282/2019, no entanto, que altera o Código Florestal para permitir desmatar Áreas de Proteção Permanente (APPs) para a construção de reservatórios e obras de irrigação, foi aprovado de forma terminativa — ou seja, sem necessidade de ir a plenário — e pode virar lei se nada for feito, alerta o Observatório do Clima.
Perda de biodiversidade com juros
Pesquisa publicada nesta quinta (23/6) por um grupo de universidades britânicas alerta que grandes perdas de biodiversidade podem causar danos econômicos suficientes para cortar mais da metade dos ratings de crédito soberano do mundo — incluindo o da China, até 2030.
Em um cenário de colapso parcial de ecossistemas-chave, por exemplo, indústrias dependentes da natureza, como agricultura e pesca, seriam devastadas e o impacto negativo resultaria em 58% dos 26 países estudados enfrentando pelo menos um rebaixamento no seu rating de crédito soberano.
Como as classificações afetam quanto os governos têm que pagar para tomar empréstimos nos mercados de capitais globais, os rebaixamentos resultariam em entre US$ 28 e US$ 53 bilhões em custos de juros adicionais anualmente. Reuters
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