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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Nenhum dos planos climáticos das 24 grandes corporações responsáveis por cerca de 4% das emissões globais recebeu uma pontuação de alta integridade no monitor que avalia a responsabilidade climática corporativa (CCRM, na sigla em inglês), desenvolvido pela Carbon Market Watch (associação internacional de precificação de carbono).
A edição de 2023 do relatório analisou companhias que se afirmam líderes climáticas na campanha Race to Zero da ONU.
São grupos de diversos segmentos de negócios — automóveis, varejo de moda, supermercados, alimentos e agricultura, tecnologia e eletrônica, naval e aeronáutica, além de aço e cimento — com uma receita combinada de mais de 3 trilhões de euros.
Mas, enquanto se afirmam defensores da ação climática, duas dúzias das mais ricas corporações do mundo estão “escondendo sua inação climática por trás da folha de figueira de planos ‘líquidos zero’ que soam verdes”, alerta o CCRM.
Assim como na edição de 2022, apenas uma empresa, a gigante marítima dinamarquesa Maersk, obteve uma classificação de integridade razoável.
Apple, ArcelorMittal, Google, H&M Group, Holcim, Microsoft, Stellantis e Thyssenkrupp conseguiram obter uma pontuação de integridade moderada, enquanto as 15 empresas restantes variaram entre baixa e muito baixa.
“No vital médio prazo, quando o mundo precisa reduzir quase pela metade sua pegada de carbono se quisermos manter o aumento da temperatura dentro do relativamente seguro 1,5°C, as 22 empresas avaliadas que têm uma meta para 2030 se comprometem a entregar uma redução mediana de míseros 15% em suas emissões reais até 2030”, criticam os analistas.
No longo prazo, a perspectiva continua ruim.
Até 2050, as corporações precisam reduzir suas emissões em 90-95% em comparação com os níveis atuais. No entanto, o CCRM calcula que, em conjunto, as promessas líquidas de zero das 24 corporações chegam a 36% em meados do século.
Armadilha da compensação
Metade das empresas avaliadas — incluindo Apple, DHL, Google e Microsoft — estão fazendo declarações de neutralidade de carbono, mas essas declarações cobrem apenas 3% das emissões dessas empresas, mostra o CCRM.
E três quartos delas planejam compensar ou neutralizar uma parte significativa de suas emissões usando créditos de carbono de silvicultura e outros projetos de uso da terra.
“Essas soluções não apenas armazenam carbono temporariamente e são vulneráveis a reversões, como precisaríamos de um segundo planeta Terra para absorver as emissões globais se todos decidissem compensar como essas corporações”, diz o diretor de políticas da CMW, Sam Van den plas.
Pequenos avanços
O documento também destaca que algumas companhias estão se saindo melhor na liderança de iniciativas climáticas.
H&M, Maersk e Stellantis, por exemplo, estabeleceram compromissos potencialmente credíveis para uma descarbonização profunda a longo prazo.
O Google tem uma tecnologia pioneira que monitora e combina o consumo e a produção de energia renovável 24 horas por dia, enquanto a DHL está investindo na eletrificação de sua frota e na produção de combustível com baixo teor de carbono.
“No entanto, esses avanços são muito poucos e distantes entre si para fornecer o tipo de mudança radical necessária com urgência”, observa.
Oportunidade para a UE
A União Europeia está atualizando a legislação de proteção ao consumidor contra práticas generalizadas de greenwashing, o que pode ser uma oportunidade para o bloco criar restrições mais rígidas e um paradigma a ser seguido por outros governos.
No entanto, as propostas em cima da mesa não vão longe o suficiente para acabar com essas reivindicações enganosas, diz o CCRM.
Ir “longe o suficiente” seria proibir completamente as alegações de neutralidade climática ou ambiental ou variações relacionadas, como “neutro em carbono”, “neutro em CO2”, “compensado em CO2”, “positivo para o clima”, “zero líquido”.
A Carbon Market Watch e outras ONGs (incluindo Client Earth, ECOS e EEB) enviaram nesta segunda uma carta aberta às instituições da UE, instando-as a implementar uma proibição do tipo para proteger consumidores e “permitir que compreendam e assumam o seu papel na transição verde da Europa”.
Cobrimos por aqui:
- Um roteiro para emissões líquidas zero sem greenwashing
- Crédito para commodities com risco florestal aumentou mais de 60%
- Investidores reconhecem metas, mas cobram estratégias para descarbonização
Curtas
Lula e Biden
Após reunião entre os presidentes em Washington, os Estados Unidos confirmaram na sexta que vão contribuir com uma doação de US$ 50 milhões (R$ 261 milhões) ao Fundo Amazônia — valor que decepcionou a delegação brasileira no encontro.
Além de fazer o aporte ao fundo, o governo americano também pretende convidar os países do G7 — Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido. A Alemanha, outro país que integra o grupo, já contribui com o fundo. UOL
Os dois presidentes também divulgaram uma declaração conjunta, afirmando determinação em “conferir urgente prioridade à crise climática, ao desenvolvimento sustentável e à transição energética”.
Também pretendem retomar as reuniões do Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-EUA sobre Mudança do Clima, criado em 2015, para abordar combate ao desmatamento, bioeconomia, energia limpa, adaptação e agricultura de baixo carbono.
Também na sexta, o Inpe divulgou queda de 61% no desmatamento na Amazônia em janeiro de 2023 em comparação ao mesmo período do ano passado. É a primeira vez, nos últimos cinco meses, que a área mensal devastada é menor que a do ano anterior.
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África quer mais lucros com seu lítio
Namíbia, Zimbábue e outras nações africanas querem mais controle sobre o lítio que as grandes empresas de tecnologia precisam para sua produção. “Quando há pressa, as pessoas entram, pegam o que querem e vão embora, deixando buracos na África”, resume o ministro de mineração de Botswana. Reuters
Um quinto das zonas úmidas do mundo foi destruído
A secagem das zonas úmidas para o cultivo foi responsável por 62% da perda total desde 1700, de acordo com um novo estudo. Bloomberg
PPA do Mar do Norte
A Evonik ampliou a sua cooperação com a EnBW e firmou um segundo contrato de compra de energia elétrica do parque eólico offshore He Dreiht, ainda em fase de planejamento.
O primeiro contrato de compra de energia (PPA) já foi concluído para a aquisição de 100 MW no ano passado. O segundo PPA agora acrescenta mais 50 MW. A empresa química estima poder cobrir mais de um terço de sua necessidade energética na Europa a partir de 2026. O prazo da segunda parcela também é de 15 anos.
CIBiogás está contratando
As vagas são para analista júnior e assistente júnior para a área de Operações e técnico júnior para a área de Engenharia. Os requisitos para todas as vagas estão nos editais no site.