Biocombustíveis

O Brics+ e a corrida pela transição energética

Bloco pode reunir importantes parceiros na produção de energias renováveis, hidrogênio verde e minerais críticos, como lítio e terras raras

Brics+ busca parcerias estratégicas para corrida pela transição energética. Na imagem: Chefes de estados na 15ª Cúpula do Brics, em Joanesburgo na África do Sul, em 2023 (Foto: Divulgação Brics)
15ª Cúpula do Brics, em Joanesburgo na África do Sul (Foto: Divulgação Brics)

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Diálogos da Transição

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Editada por Gabriel Chiappini
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Abrimos a semana com mais desdobramos da expansão do Brics e a disputa Norte-Sul por fontes minerais e energéticas, necessárias para sustentar a descarbonização de economias industriais. Nayara Machado volta na próxima semana ao comando da newsletter. Boa leitura!

Os países do agora apelidado de Brics+ somam quase metade da produção mundial de petróleo. Mas o bloco também pode representar uma grande força na transição energética, reunindo parceiros importantes na produção de energias renováveis, hidrogênio verde e minerais críticos, como lítio e terras raras.

Os seis novos membros – Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã – devem se juntar ao grupo formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África a partir de 1º de janeiro de 2024.

Além da disputa política pela substituição da hegemonia do dólar nas transações comerciais, o Brics+ também representa uma corrida pela segurança energética.

Lula destacou a importância do Sul Global e a participação de países africanos na produção de energia renovável. “Qual é o país que tem a mesma capacidade dos países africanos e da América do Sul?”

Além de fonte de recursos minerais e da bioenergia, são também destino de bens e produtos em países que ainda falham em garantir pleno acesso à energia. “É disso que nós temos que saber tirar proveito”, disse o presidente em Angola, após a reunião dos Brics.

Sergei Lavrov, ministro de relações exteriores da Rússia, ressaltou a entrada dos países do Oriente Médio, sócios na Opep+. “Agora que grandes fornecedores de energia como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes decidiram aderir aos Brics, a nossa cooperação no setor energético atingirá um outro nível”, afirmou o ministro.

Clube do Clima

Levantamento da Statista coloca China, Índia e Brasil entre os cinco maiores investidores em energia renovável em 2019. Os Emirados Árabes aparecem na décima colocação.

Além disso, China, Índia, Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Etiópia e África do Sul já possuem metas ambiciosas para a produção de hidrogênio de baixo carbono. O Brasil aparece com um forte candidato na produção de hidrogênio verde mais barato do mundo.

Os biocombustíveis também entram em pauta, com Brasil e Índia como grandes produtores que podem abastecer a demanda pelo mercado de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

“O Brics+ representa uma oportunidade importante para criar um poderoso Clube do Clima global que possa catalisar uma transição global sustentável para uma economia de baixo carbono”, afirma Dhesigen Naidoo, pesquisador do Institute for Security Studies (ISS).

Minerais críticos

A aprovação da Lei de Redução da Inflação (IRA), nos EUA, e do REPowerEU e Global Gateway, na União Europeia, que destinam bilhões em incentivos para aceleração da transição energética, abriu uma disputa, em especial com a China, pela influência política e econômica em países com minerais críticos.

Se por um lado, os países ricos e industrializados despejam subsídios para fortalecer o mercado doméstico na corrida pela transição energética, por outro eles vão precisar de energia e minerais de países emergentes.

A entrada da Argentina, por exemplo, coloca os Brics com três dos cinco maiores produtores de lítio do mundo, ao lado da China e do Brasil.

O Brics expandido também teria 72% de terras raras (e três dos cinco países com as maiores reservas), 75% do manganês, 50% do grafite, 28% do níquel e 10% do cobre – excluindo as reservas do Irã, segundo o Center for Strategic and International Studies.

Somente na Argentina, empresas chinesas totalizam 13 diferentes projetos de exploração de lítio. No Brasil, a BYD confirmou o investimento de R$ 3 bilhões em um complexo fabril em Camaçari, na Bahia, para fabricação de veículos elétricos e processamento de minerais críticos para exportação.

Outras empresas chinesas estão fazendo o mesmo em países na África. “A China agiu recentemente rapidamente para garantir ativos mineiros, muitas vezes em conjunto com projetos de desenvolvimento de infraestruturas”, observou Len Kolff, CEO interino da Atlantic Lithium Ltd.

Em julho de 2022, um relatório da British Geographic Society apontou que a China controla a maior parte dos acordos de fornecimento de lítio na África.

Emirados Árabes e Arábia Saudita também olham para países que sejam capazes de diversificar seus investimentos, além do petróleo, espinha dorsal dos países do Golfo Pérsico.

A Acelen, controlada pelo braço de investimento Mubadala, dos Emirados Árabes, já anunciou investimento de R$ 12 bilhões em biorrefino na Bahia, para produção de diesel verde (HVO) e combustível sustentável de aviação (SAF).

No Brasil, a Manara Minerals, controlada pela Arábia Saudita, comprou 10% da Vale Metais Básicos por US$ 3,4 bilhões. A subsidiária da mineradora brasileira é responsável por metais críticos, como níquel e cobre. O país árabe tem o objetivo de construir 500.000 veículos elétricos anualmente até 2030.

Além disso, ambos os países árabes possuem fundos bilionários capazes de financiar projetos de energias renováveis por meio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).

Até 2026, o banco prometeu dedicar 40% do volume total de aportes em “projetos que contribuam para a mitigação e adaptação às alterações climáticas”.

Em seu discurso, a presidente do NDB, Dilma Rousseff, destacou que a missão do banco do Brics é mobilizar recursos para investimentos no desenvolvimento logístico, econômico e social, promovendo fontes de energia renováveis ​​e alternativa.

Curtas

Disputa pelo biobunker na IMO

A delegação brasileira vai advogar pelo biocombustível como alternativa preferencial ao bunker durante a conferência sobre Navegação Verde na América Latina, da IMO, que está ocorrendo no Chile.

uso do etanol como solução para a descarbonização marítima embarca conforme ganha força a análise do ciclo de vida do combustível. Os europeus, por sua vez, preferem hidrogênio. Veja a cobertura completa: Brasil articula defesa do uso de etanol como combustível marítimo

E pelo SAF, na África

A UE está buscando projetos na África para aportes do fundo de infraestrutura Global Gateway e, assim, marcar posição na disputa com a China, que mobiliza investimentos externos por meio da iniciativa Belt and Road. A Europa precisa assegurar fontes de combustíveis sustentáveis para a aviação.

CNOOC no Rio

A Coppe/UFRJ fechou acordo com a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) para fazer dois projetos de pesquisa voltados para energias renováveis no oceano.

O investimento previsto é de R$ 16 milhões e um dos projetos vai utilizar as instalações do centro de pesquisa carioca para estudar projetos de eólicas flutuantes em profundidades de 60 a 150 metros.

Solar remota

A Sun Mobi e GreenYellow fecharam um acordo para vender energia solar por assinatura para 223 cidades paulistas na área de concessão da Neoenergia Elektro, a partir de uma nova fazenda solar de 5 MW em Américo de Campos, noroeste do estado.

E no aplicativo do banco

O C6 Bank fechou com a Nextron um acordo para estender a venda da energia solar para os clientes pessoas físicas. É o mercado varejista de energia saindo do papel.