RIO — A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) pretende entrar no negócio de estocagem de gás natural liquefeito (GNL), de olho na demanda das termelétricas. Este é um dos pilares do plano estratégico da companhia, que prevê investimentos de até R$ 12 bilhões em oito anos e novos projetos de gasodutos, para aumentar o envio de gás natural do pré-sal para São Paulo — o maior centro consumidor do país.
Dona de uma rede de gasodutos de transporte de 2 mil km, a empresa quer diversificar a sua carteira de soluções logísticas e estuda um projeto de armazenamento de GNL no Norte do estado do Rio de Janeiro — Cabiúnas, em Macaé, é uma das opções.
A região é estratégica, pela proximidade com infraestruturas de gás (como o Rota 2) e termelétricas a gás.
O CEO da NTS, Erick Portela Pettendorfer, conta que o modelo de negócios ainda está em estudo. A transportadora ainda avalia se entrará no negócio com parceiros ou não.
“Uma das lições aprendidas na Europa [com a crise energética atual] é que países que têm estoque de GNL onshore possuem hubs mais baratos de gás, como a Bélgica e Reino Unido… Temos a convicção de que [o negócio de estocagem de GNL] vai gerar o elo perdido de integração entre o setor de gás e de eletricidade”, comentou o executivo, em entrevista à agência epbr.
GNL de pequena escala
Pettendorfer defende que soluções de armazenamento de GNL têm se mostrado opções de rápida implementação e permitem respostas mais rápidas à demanda das termelétricas do que soluções de estocagem subterrânea de gás.
A NTS mira também o negócio de GNL de pequena escala com atenção. Não necessariamente atuar na distribuição do gás via carretas, mas na instalação de bases de tancagem de GNL de menor escala no interior, para desenvolvimento de mercados locais.
“Acreditamos que mercados não são desenvolvidos só por falta de dutos, mas por falta de estocagem em alguns centros… Depois que [o negócio de armazenamento] faz escala, as opções são infinitas: mercado secundário, small scale… Nasce em volta toda uma lógica de negócios que hoje o Brasil não tem”, disse.
A aposta no negócio de armazenagem de GNL representaria, para a companhia, entrar num mercado não regulado — diferente do modelo de negócios dos gasodutos de transporte, onde a empresa se concentra hoje.
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Plano de expansão prevê corredor do pré-sal
Em paralelo, a NTS tem planos de expansão da malha de gasodutos de transporte. No curto prazo, a intenção da transportadora é concluir a construção do Itaboraí-Guapimirim (Gasig) — investimento de R$ 230 milhões num projeto de 11 km, previsto para 2023.
A empresa também tem planos de instalar uma nova estação de compressão em Japeri (RJ), para dar mais flexibilidade ao sistema. O projeto permite compensar eventuais quedas de suprimento da Bolívia e de Mexilhão ao estado de São Paulo com a oferta de GNL do terminal da Baía de Guanabara (RJ) ou gás nacional oriundo de Cabiúnas, por exemplo.
“Nosso foco estratégico, hoje, é o reforço da malha”, afirmou o CEO da NTS.
O maior projeto da companhia para os próximos anos, contudo, é o “Corredor Pré-Sal”. São cerca de 300 km de dutos — sobretudo loops (seção paralela a gasodutos existentes) — que permitirão aumentar em 24 milhões de m³/dia a oferta de gás do Rio até São Paulo, sobretudo no centro de consumo de Paulínia (SP).
O foco está na ampliação da capacidade do gasoduto Campinas-Rio (Gascar) — que está conectado, por sua vez, ao Gasbol, o que permite aumentar o transporte do gás do pré-sal não só para o mercado paulista, mas também à região Sul.
Questionado se uma eventual reclassificação do gasoduto Subida da Serra pela ANP, como um projeto de distribuição, pode inviabilizar o plano de expansão da NTS, Pettendorfer negou.
“Estamos falando de uma coisa muito maior, de colocar todos os produtores do pré-sal [na malha]”, comentou.
Ainda segundo ele, a expansão será feita sem onerar as tarifas para o consumidor. Pelo contrário, o executivo acredita que, pela escala da movimentação dos projetos estudados, a tendência é de queda nas tarifas de transporte.