Barani Krishnan/Investing.com
Uma razão para as commodities terem voltado com tudo após um ano da crise financeira de 2008 foi a noção de que o amplo alcance da intervenção pública conseguiu diminuir as incertezas e os riscos sistêmicos no setor financeiro. Se uma Crise Financeira 2.0 se abater sobre a gestão de Donald Trump, será difícil alimentar tal otimismo.
A propensão do presidente dos EUA de formular políticas de supetão através do seu Twitter é uma das principais fontes de instabilidade do mercado neste momento. Desde tuítes dizendo o que a Opep deve fazer com o petróleo até a constante pressão para que o Fed reduza as taxas de juros, Trump tem sido um “curinga” como nenhum outro nos mercados, inclusive nas commodities.
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Ele aprontou mais uma das suas no domingo, quando tuitou que elevará as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses antes do fim desta semana e colocará na mira outros bilhões “em breve”, depois de se aborrecer com as tentativas da China de postergar um acordo comercial entre os dois países e “renegociar” o que já havia sido acordado nos últimos cinco meses. Desde o cessar-fogo tarifário entre os dois lados em novembro, diversas rodadas de conversas foram realizadas, com ambos os governos propagando a possibilidade de um acordo.
Movimento de Trump aumenta os riscos de queda do petróleo, cobre e soja
Com isso, o novo ato-surpresa de Trump aumenta enormemente o risco de queda dos preços do petróleo, do cobre e da soja, pois a China é uma das maiores consumidoras dessas matérias-primas. Os preços do petróleo bruto e da soja caíam cerca de 2% no pregão asiático desta segunda-feira, enquanto o cobre perdia mais de 1%, juntando-se à desvalorização global, com destaque para a queda de 450 pontos do Dow, de Wall Street, e do crash 5% nos mercados chineses.
A julgar pela instabilidade de Trump, é possível que ele solte um tuíte tranquilizador sobre a China em um ou dois dias, principalmente se os negociadores chineses envolvidos conseguirem convencer seus colegas americanos de que realmente querem firmar um acordo que agrade o presidente dos EUA.
Também é possível que a equipe de Trump controle os danos. No domingo, o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, já dava a entender que o presidente quis fazer com que os chineses se apressassem para fechar o acordo, ao invés de agir na base da ameaça. Essa ação compensatória pode fazer com que os mercados recuperem tudo o que perderam antes do fim da semana.
No entanto, se nada disso acontecer e os mercados continuarem agitados por causa da continuidade da retórica anti-China de Trump, pode ser que o petróleo norte-americano West Texas Intermediate despenque para as mínimas abaixo do importante suporte de US$ 60 por barril, patamares vistos pela última vez em março.
Quanto mais se prolongarem as ameaças tarifárias, pior para as commodities
Essa alternativa pode não ser tão ruim para Trump, considerando que ele está tentando baixar os preços do petróleo por algum momento, depois que a sua decisão de endurecer as sanções às exportações petrolíferas do Irã não teve como resposta o esperado aumento de produção da Arábia Saudita. Em todo caso, a mais recente iniciativa saudita de extrair o maior preço das refinarias asiáticas que queriam substituir os barris de petróleo iranianos é prova de que eles não têm a menor intenção de acomodar os desejos de Trump quanto à redução dos preços nas bombas americanas antes da sua campanha de reeleição em 2020.
Desde a semana passada, o preço de venda oficial da Arábia Saudita para seu petróleo do tipo Arab Heavy com entrega em junho estava próximo das máximas de 8 anos, à medida que o país tentava revigorar os mercados mundiais enfraquecidos pela disparada inesperada dos estoques americanos desde março.
Quanto ao cobre e à soja, qualquer fracasso nas tratativas comerciais pode afetar ainda mais os preços.
Há quase um ano os touros do cobre esperam que os futuros do metal vermelho rompam a resistência de US$ 3 por libra na Comex, de Nova York.
A perspectiva técnica diária do Investing.com recomenda “Forte Venda” para os futuros de cobre na Comex, projetando suporte em US$ 2,699 por libra, considerando o fechamento de ontem a US$ 2,819.
Os futuros de soja atingiram as mínimas de 8 meses a US$ 8,2238 por bushel no pregão de segunda-feira. No acumulado do ano, sua queda foi de 7,5%, com uma expectativa de déficit de dois dígitos até meados do ano se não houver um acordo EUA-China.