A Nestlé, maior fabricante mundial de alimentos, está apostando em tecnologias de geomonitoramento e rastreabilidade para garantir que as matérias-primas utilizadas na fabricação dos alimentos da marca sejam de origem ambiental e socialmente responsável.
Um dos compromissos globais é que até 2025 todos os chocolates da companhia sejam feitos com cacau 100% responsável.
“Isso envolve rastreabilidade, nós precisamos colocar luz e transparência numa cadeia bastante complexa”, afirmou Pedro Malta, diretor de Agricultura da Nestlé Brasil, durante a Summit IA no Agronegócio, nesta terça (4).
Até que os três principais derivados do cacau — líquor, pó e manteiga — cheguem às fábricas de chocolate, eles percorrem um longo caminho, passando por diversos atores, o que dificulta a rastreabilidade, explica o executivo.
Malta acredita que a utilização de alta tecnologia, particularmente a ciência dos dados, é capaz de garantir o atendimento aos critérios ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) da Nestlé Brasil, envolvendo toda a cadeia produtiva, “além dos portões da empresa” até o agricultor.
“Essa estratégia se traduz no atendimento e cumprimento de regras que se somam a outros requerimentos relacionados aos direitos humanos e conservação dos recursos naturais”, diz o diretor.
“Nós temos no grupo uma política de fornecimento responsável que tem princípios muito claros baseados em melhoria contínua e transparência, mas também o compartilhamento de responsabilidades entre a Nestlé e todos aqueles que estão envolvidos na cadeia de abastecimento, começando pelo agricultor, além de processos de auditora e verificação avaliada por terceiros”, complementa.
Segundo ele, o geomonitoramento também possibilita medir a pegada de carbono dos produtos da companhia, ao fazer o cruzamento de bancos de dados com imagens de satélite.
“As informações históricas, especialmente aquelas relacionadas à cobertura do solo, têm sido fundamentais e serão ainda mais, agora que a pegada de carbono, além da sustentabilidade, é uma métrica importantíssima”, explica Malta.
Para alcançar os compromissos ESG, a fabricante de alimentos utiliza tecnologia da brasileira da Agrotools, empresa de soluções digitais para o agronegócio especializada na coleta de diferentes tipos de dados sobre a agricultura tropical.
“Hoje contamos com um banco com mais de 1.300 camadas diferentes de informações combinadas, que consequentemente podem proporcionar um conhecimento para as indústrias que trabalham conosco, por exemplo, mitigando todos os riscos socioambientais do projeto que nós temos para o cacau em conjunto com a Nestlé”, explicou Rodolpho Mittelstaedt, executivo da Agrotools.
Para ele, o compromisso da Nestlé em investir na rastreabilidade de matérias-primas atrelada a critérios sustentáveis será um exemplo a ser seguido por outras empresas do o setor.
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Trabalho escravo
No início do ano, a Nestlé foi denunciada por supostamente tolerar a escravidão de crianças em fazendas de cacau na Costa do Marfim, responsável por 45% da oferta mundial do produto.
A ação foi movida nos Estados Unidos pela organização de direitos humanos International Rights Advocates (IRA), em nome de oito crianças que dizem ter sido forçadas a trabalhar sem remuneração nas plantações de cacau no país africano.
Na ocasião, a Nestlé disse que o trabalho infantil é inaceitável e vai contra o que defende a companhia.
“A Nestlé tem políticas explícitas contra isso e é inabalável em nossa dedicação para acabar com isso. Continuamos comprometidos com o combate ao trabalho infantil na cadeia de abastecimento do cacau e com a abordagem de suas causas básicas como parte do Plano do Cacau da Nestlé e por meio de esforços colaborativos”.
Outras gigantes do setor alimentício — Cargill, Barry Callebaut, Mars, Olam, Hershey e Mondelēz — também foram citadas como réus nessa mesma ação.
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