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Data centers no Nordeste são solução para mitigar curtailment, avalia Engie

Venda parcial da TAG pretende ampliar foco em energia renovável e transmissão de energia, diz Engie. Na imagem: CEO da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini (Foto: Fernando Willladino/Fiesc)
Eduardo Sattamini (Foto: Fernando Willladino/Fiesc)

RIO — O country manager da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, defendeu nesta terça (20/5) que a instalação de data centers e outras cargas eletrointensivas no Nordeste são parte da solução para o excesso de oferta de energia renovável e para os crescentes episódios de corte compulsório geração, o chamado curtailment. 

Em conversa com jornalistas, o executivo também apontou a necessidade de reforços na transmissão como oportunidade de negócios para a companhia, que avança no projeto Asa Branca — linhas de transmissão de quase quase mil quilômetros de extensão ligando Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo.

“Uma das razões do congestionamento, do curtailment, é porque você não tem demanda suficiente para absorver a energia. Então, você é obrigado a desligar as plantas indeterminadas”, explicou Sattamini.

Eduardo Sattamini assumiu a operação da Engie no Brasil em abril e é diretor-presidente da divisão de energia desde 2016. Também acumula a direção de Renováveis e Baterias da Engie Latam.

“O importante é que essa criação dessa capacidade, dessa demanda, seja feita nos locais onde existe excesso de oferta”, defende.

Sinal locacional: redução do custo com a rede de transmissão

Sattamini defendeu a criação de sinais locacionais, com tarifas de uso da rede mais baratas em regiões com sobra de geração. 

“Você tem que colocar a carga onde tem excesso de energia. Os incentivos têm que ser para essas condições. A gente está falando no Nordeste […] Você vai estar dando uma melhor utilização para a infraestrutura já existente de geração”, disse.

Segundo o executivo, a chegada de data centers, em um primeiro momento, e de plantas de hidrogênio verde, no longo prazo, e até estímulos à produção industrial no Nordeste, são formas de combater a desconexão entre onde se gera e onde se consome energia no Brasil. 

Ao mesmo tempo, ele vê a expansão da transmissão como um novo vetor de expansão de negócios para a companhia, em especial, no Nordeste.

“Lembra que o problema maior que você tem de conexão é a conexão entre Nordeste e Sudeste. Boa parte do que eu tenho nesse congestionamento é em função dessa deficiência de capacidade”, diz.

“O Nordeste é o lugar onde você tem o excesso de oferta. É o local onde você deve colocar novas cargas [como data centers]. Porque é mais barato o sistema”, disse.

O presidente da Engie criticou a lentidão no licenciamento ambiental de projetos de transmissão, que acaba afetando o cronograma para entrada em operação e reduzindo a rentabilidade dos empreendimentos. 

Ele citou como exemplo o projeto Asa Branca, que já acumula seis meses de atraso na licença prévia federal, embora a obra já tenha sido iniciada com base na licença estadual.

“A hora que você demora para o licenciamento, você demora mais para disponibilizar o recurso (…) A gente não consegue recuperar, talvez, a totalidade dos seis meses que a gente está atrasado. Mas alguma coisa a gente vai conseguir comprimir (…) Mas tem um custo associado a isso”, afirmou.

Críticas à reforma do setor elétrico

Sattamini também comentou a medida provisória da reforma do setor elétrico, á ser editada pelo governo federal, que prevê a redução de subsídios para fontes renováveis e mudanças na contratação no mercado livre. 

Para ele, a medida acerta ao endereçar distorções, mas precisa ser corrigida para não afetar projetos já em operação.

“Acho que a MP endereça alguns importantes pontos, mas ela tem componentes perigosos, com potencial quebra de contrato”, pontuou ao executivo, argumentando que projetos em operação se planejaram e fecharam contratos, levando em conta o acesso aos benefícios.

“Espero que isso seja corrigido. É uma demanda da maior parte dos agentes, dos consumidores, dos geradores e das distribuidoras”. 

O governo federal ainda avalia qual será o escopo da reforma. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou recentemente que a proposta da pasta teve o aval do presidente Lula – prevê a ampliação da tarifa social de energia elétrica e cortes em benefícios para autogeração e compra de fontes renováveis no uso da rede de transmissão.

Sattamini defendeu que os subsídios sejam encerrados apenas para novos projetos e que sejam mantidos os incentivos para contratos originados a partir de usinas já construídas.

“O que tem sido anunciado é que os novos contratos com consumidores, mesmo de plantas já construídas, não teriam mais o incentivo da tarifa. […] Isso desequilibra a equação desses parques”.

O executivo também sugeriu medidas mais duras para conter o avanço da micro e minigeração distribuída (MMGD), que considera uma das causas do desequilíbrio no sistema. 

Ele propôs, inclusive, aplicar à MMGD um tipo de curtailment econômico — já que não é possível o corte da mesma forma que é aplicado a grandes usinas — para “diminuir o ritmo de crescimento dessas fontes”. 

“A mudança do subsídio vai ter que vir através do entendimento que essa fonte também deveria sofrer os cortes de energia como as fontes renováveis estão sofrendo (…) Ela pode sofrer o curtailment econômico. Ou seja, ele não é desligado porque não existe um botãozinho para desligar a fonte, mas ele arca como parte desse custo”.

Segundo o executivo, hoje, o curtailment representa cerca de ao todo de 4% da receita anual da Engie no Brasil.

Leilões e aposta em geração flexível

A Engie também confirmou interesse em participar dos futuros leilões de reserva capacidade e de baterias para armazenamento de energia renovável, com destaque para a ampliação de duas hidrelétricas já existentes — Jaguará e Salto Santiago — e eventual oferta de sistemas BESS (armazenamento por baterias).

“Temos as nossas usinas que têm oportunidade de colocação de turbinas já nos fossos existentes. A usina de Jaguará tem cerca de 200MW de capacidade (adicional) que pode ser ofertada. E temos em Salto Santiago, 700 MW (adicionais)”, disse. 

A empresa avalia ainda a viabilidade de usinas hidrelétricas reversíveis. Para Sattamini, a suspensão do leilão de capacidade pode prejudicar a qualidade do certame, caso seja necessário correr atrás do tempo perdido com a sua postergação. 

“Tudo que você faz corrido é ruim. E o atraso vai fazer com que algumas etapas tenham que ser aceleradas. É melhor você fazer a coisa com calma e tranquilidade”.

Menos otimismo com hidrogênio verde

Já os planos da Engie para o hidrogênio verde, por ora, estão em compasso de espera. “No mundo todo, não é uma questão local. Você precisa de infraestrutura, de ponta a ponta para isso, e o mundo não andou nessa direção nos últimos anos”, afirmou.

A companhia foi uma das primeiras a anunciar estudos para viabilidade de uma planta de hidrogênio verde no Porto de Pecém, no Ceará. 

“Isso desacelerou os investimentos, os projetos, e jogou bem mais para diante o desenvolvimento dessa infraestrutura de hidrogênio”, completou.

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