Consequências no supply chain

Rio de Janeiro – Representantes de empresas entregam suas propostas no leilão da partilha de blocos do pré-sal em evento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Rio de Janeiro – Representantes de empresas entregam suas propostas no leilão da partilha de blocos do pré-sal em evento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O mercado fornecedor de bens e serviços no Brasil inicia uma fase de transformação importante, provavelmente desta vez de forma ainda mais desafiadora. Nos últimos anos, conviveu com um Conteúdo Local protetor e com a Petrobras comprando diretamente mais do que contratando integrados ou de provedores de serviços operadores.

Também, cerca de 90% do mercado fornecedor se submetia às regras da maior empresa compradora, que, por sua vez, tinha de seguir regulamentos governamentais de licitações, nem sempre aderentes às melhores práticas mundiais de procurement.

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Com isto, os fornecimentos eram interrompidos frequentemente, quem não ganhasse o certame estaria de fora por um bom tempo. Mesmo com o artifício de dois ou mais pacotes, para contemplar vários fornecedores simultaneamente, o tomador de serviços era único.

Os outros demandantes eram poucos e quase sempre eram associados à Petrobras. Acanhados ou com incertezas, não entravam no mercado para valer.

Isto causava descontinuidade, pouco investimento em formação e retenção, pois a incerteza do futuro sempre dominava.

Partes, peças, estoques de materiais e equipamentos, contingências, tudo era gerido e armazenado pela própria empresa operadora única.

A Petrobras fazia um papel de braço de industrialização do país, mudava o jeito de comprar e contratar para adequar a manutenção de fornecedores e fábricas locais, nem sempre de capital nacional.

Incentivava novas plantas fabris, prometia demanda crescente e suficiente para todos.

Este tempo parece que pode acabar!

O mundo não é assim, e a chegada dos novos leilões de óleo e gás deve dinamizar este ambiente.

Com a diversificação de operadores e sócios, com a futura produção não mais tão concentrada apenas em uma empresa de petróleo, este novo mercado tende a se espelhar nos demais internacionais.

Desenvolvimento colaborativo, parcerias seletivas para itens críticos, distribuidores ao invés de compras diretas com fabricantes, contratos de serviços com bens inseridos, empacotamentos, menor quantidade de contratos, etc.

Por exemplo, uma sonda é afretada no país onde vai operar, mas construída em qualquer lugar do mundo. O conteúdo local de afretamento é no mínimo inadequado. É um mercado dinâmico e de janelas de oportunidades.

Há soluções possíveis para esta nova dinâmica, política industrial com base em realidade mundial, bônus ao invés de multas, trocas estratégicas, etc.

E não depende apenas de governo, mas sim da sociedade organizada, Associações, Federações, Universidade, olharem as práticas globais e proporem caminhos não onerosos, deixando a visão excessivamente política e de proteção, passando a fazer planos estratégicos de indústria.

Quem faz conteúdo local forte é o mercado fornecedor forte, são muitos operadores, muitos demandantes e provedores bastante ofertantes. É a continuidade, pesquisa, fornecedores de classe mundial.

Armando Cavanha (cavanha.com) é professor convidado da FGV/MBA