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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Com novos contratos de longo prazo com as distribuidoras, Petrobras assegura consumo firme para 11 milhões de m3/dia na virada da década. Comgás opta por reduzir volumes. E preços melhoram em relação a contratos mais recentes, mas sem choque de gás barato.
Rota 1 ociosa. Estudo encomendado pela Coalizão mostra que sobra de gás abre espaço para política para química e fertilizantes e mais. Confira:
PETROBRAS ASSEGURA MERCADO
A estratégia da Petrobras, de recorrer desde o fim de 2022 a contratos de fornecimento de longo prazo com as distribuidoras de gás canalizado, já garantiu à petroleira um consumo firme da ordem de 11 milhões de m3/dia para o seu gás natural, na virada da década.
O tamanho disso? O volume equivale a cerca de 14% de toda a demanda de gás firme (não termelétrica) prevista pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o início dos anos 2030, dentro da malha integrada de gasodutos. A expectativa, porém, é que novos contratos sejam anunciados nos próximos meses, ampliando ainda mais esse market share.
A nova safra
A estatal assinou, desde junho, novos acordos de suprimento com a Comgás (SP), Copergás (PE), Gás Natural SPS (SP) e SCGás (SC). São os primeiros contratos com as novas condições comerciais, lançadas pela gestão Jean Paul Prates: totalizam 12,4 milhões de m3/dia no pico (em 2024) e 7,7 milhões de m3/dia ao fim do horizonte (2034).
E se somam aos contratos 2024–2032, assinados pela Petrobras entre o fim de 2022 e início deste ano – com outras condições comerciais, mas que marcaram a mudança de rota da estatal, que até então praticava acordos de curto e médio prazos.
O que está em jogo?
Importantes contratos de fornecimento de gás da Petrobras com as distribuidoras vencem no fim deste ano: eles somam 19 milhões de m3/dia. O fim dessa leva de contratos (2020-2023) abriu uma nova janela de negociações com as concessionárias estaduais, para recontratação dos volumes disponíveis.
Essa janela, contudo, acontece num momento novo, de abertura do mercado de gás no Brasil. Embora ainda seja um agente dominante, a petroleira passou a contar com concorrentes e lançou, nos últimos meses, novos produtos (mais opções de combinação de prazos contratuais e indexadores) e baixou preços.
A seguir, a gas week destrincha alguns dos principais pontos dos novos contratos da Petrobras:
INDEXAÇÃO MISTA
Os novos contratos com a Comgás, Copergás e SCGás vieram com condições mais favoráveis que aqueles praticados pela Petrobras nas suas últimas levas – e que os preços praticados pela concorrência, em alguns casos.
Os acordos de onze anos fechados com as três distribuidoras preveem que o percentual do Brent (cotação do petróleo) ao qual o preço do gás está indexado será de 11,9% – exceção feita a um dos dois contratos da SCGás (2026-2034), de 11,6%.
Alguns dos acordos (Copergás e SCGás), porém, têm indexação mista a partir de 2026, com uma parte da precificação associada ao Brent e outra a 115% do Henry Hub.
Internamente, fontes da Petrobras estimam que os preços da molécula devem oscilar entre US$ 9 e US$ 10 o milhão de BTU a partir de 2024, a depender da cotação do petróleo. Isso significa, nas contas do UBS BB, um ganho de competitividade em relação aos patamares atuais de US$ 11,5 por milhão de BTU, dos contratos mais caros da estatal (2022-2025).
Nada, porém, muito diferente dos patamares históricos da petroleira – e muito menos um choque de gás barato. Antecipamos essa discussão por aqui: Petrobras reduz preços, sem choque de gás barato
COMGÁS REDUZ VOLUMES
Maior cliente da Petrobras, a distribuidora paulista optou por uma curva decrescente de compromissos de retirada de gás. O atual contrato com a estatal, válido até dezembro, prevê a aquisição de 12,5 milhões de m3/dia, mas já a partir de 2024 esse volume começa a cair.
O novo contrato da companhia com a Petrobras começa em 9,5 milhões de m3/dia em 2024 e cai ano após ano, até se estabilizar em 4,75 milhões de m3/dia entre 2031-2034.
A concessionária mira as oportunidades da abertura do mercado. Este ano, aliás, a entrada em operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), de sua controladora, a Compass, já garante o início de uma diversificação da base de supridores da companhia.
A SPS optou pela mesma estratégia: o acordo prevê a entrega de 900 mil m3/dia entre 2024 e 2028, com uma curva de reduções graduais nos volumes até o fim do contrato até chegar a 450 mil m3/dia em 2034.
A Copergás optou, por sua vez, por um contrato sem oscilações, com contratação firme de 1,55 milhão de m3/dia até 2034.
Já a SCGás fechou dois acordos com a Petrobras, com previsão de entrega de 450 mil m3/dia em 2024; 638 mil m3/dia em 2025; e 950 mil m3/dia entre 2026 e 2034. Vale lembrar que a concessionária catarinense já possuía outros acordos, incluindo um contrato até 2032, com a petroleira – o que justifica, em parte, os volumes mais baixos no início dos novos contratos.
A nova safra se soma a outros contratos de longo prazo (até 2032) assinados pela Petrobras entre o fim do ano passado e início de 2023, com as distribuidoras Cegás (CE), Compagas (PR), ESGás (ES), Gasmig (MG), Potigás (RN), SCGás (SC) e Sulgás (RS).
Somando-se esses contratos aos mais recentes, com a Comgás, Copergás e SCGás, a Petrobras já tem garantida uma demanda de 11,8 milhões de m3/dia em 2030. Esse volume cai para 7,7 milhões de m3/dia em 2034.
Os efeitos sobre o mercado
Para além da questão do preço – a Petrobras funciona como um importante formador, estabelecendo as condições de base para os demais supridores – os novos contratos de longo prazo têm um outro impacto sobre a concorrência: ajudam a estatal a “travar” um mercado consumidor, diante das perspectivas de abertura do setor.
É bem verdade que os acordos mais recentes incluem mecanismos de flexibilização que permitem às distribuidoras reduzirem os volumes contratados ao longo da vigência dos contrato – mas as regras têm seus pisos.
GÁS NA SEMANA
GT do Gás para Empregar dá a partida. Grupo de trabalho realizou sua 1ª reunião esta semana. E o Instituto de Energia da PUC-Rio divulgou um estudo – encomendado pela Coalizão pela Competitividade Gás Natural – mostra que, mesmo num cenário conservador, sem investimentos em infraestrutura, entre 8 milhões de m³/dia e 17 milhões de m³/dia de gás firme poderão ficar sem mercado a partir de 2028. (epbr)
– Volume que poderia ser direcionado a um programa de estímulo ao uso do gás como matéria-prima, na química e fertilizantes, defende a Coalizão.
Rota 1 ociosa. O estudo também aponta que a primeira rota de escoamento de gás do pré-sal está com praticamente metade da sua capacidade ociosa em razão de gargalos na UPGN de Caraguatatuba, (SP) e da queda da produção de campos maduros do pós-sal.
– Em 2020, a Petrobras chegou a abrir uma licitação para investir no processamento e tratamento do gás em Caraguatatuba, mas desistiu do projeto – que permitiria processar mais “gás rico” do pré-sal. (epbr)
Petrobras e Abiquim se aproximam. Vão formar um grupo de trabalho para estudar um plano integrado de retomada e consolidação da indústria química no país. O resultado do trabalho será apresentado ao governo, nas discussões do Gás para Empregar. (epbr)
Corredores azuis. O Ministério dos Transportes passa a integrar o GT do Programa Gás para Empregar. Os chamados corredores azuis, infraestruturas criadas para permitir o uso de gás natural ou biometano no transporte rodoviário e em veículos pesados, estiveram em discussão em encontro recente entre os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e dos Transportes, Renan Filho.
- Opinião: A nova concepção da PPSA frente à experiência norueguesa Discussão sobre papel da PPSA levanta dúvidas se o futuro da estatal e, indiretamente, o da Petrobras, será promissor ou danoso na gestão da comercialização do óleo da União, escreve Nathália Pereira Dias
Silveira admite venda de campos terrestres da Petrobras. O ministro de Minas e Energia afirmou que tem defendido junto ao presidente Lula a retomada da venda de campos onshore da estatal, caso ela não priorize, no longo prazo, planos de investimento para esses ativos. (epbr)
Gasodutos na pauta da ANP. Na próxima quinta (3/8), a diretoria da agência discute a realização de consulta e audiência pública sobre a revisão pontual das resoluções 51/2013 e 11/2016, que regulamentam a atividade de carregamento de gás natural e o serviço de transporte, respectivamente.
Sergipe revisita regulamentação do gás. A Agrese, agência estadual, realiza no dia 15 de agosto audiência pública para discutir a atualização da regulação dos serviços locais de gás canalizado no Estado. (Agrese)
GNLink e Migratio formam parceria para biometano. Acordo de cooperação mira o desenvolvimento de operações verticalizadas, desde a identificação de oportunidades para a captação de biogás até a produção do biometano para comercialização. (epbr)
- Opinião: Reflexões sobre a reforma tributária e o setor de gás natural Alternativa para o gás natural não sofrer um tratamento tributário mais oneroso seria constar expressamente a sua condição de bem essencial, avaliam Jayme Freitas e Rafaela Canito.