Gas Week

Indústria recebe propostas de redução marginal de preços do gás natural da Petrobras

Agentes relatam que a petroleira tem oferecido contratos indexados a cerca de 11,3% do Brent

Podemos esperar pelo mercado livre de gás natural no estado do Rio de Janeiro? Na imagem: Trabalhador em forno de alta temperatura em siderúrgica (Foto: Divulgação Vika Controls)
Indústria siderúrgica é uma das candidatas naturais à migração para mercado livre de gás (Foto: Divulgação Vika Controls)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Petrobras sinaliza para indústrias, no mercado livre, com opções de contratos de quatro a cinco anos e preços ligeiramente abaixo daqueles do mercado cativo. Movimento tende a pressionar preços da concorrência para baixo, mas sem perspectivas de gás barato.

Agentes ainda buscam consenso para capítulo do biometano no Combustível do Futuro. Amazonas discute regras para comercialização. J&F compra ativos de gás na Bolívia. Comgás abre chamada pública e mais. Confira:

UM RETRATO DO MERCADO LIVRE

As propostas comerciais mais recentes da Petrobras para as indústrias, no mercado livre, têm sinalizado para opções de contratos de quatro a cinco anos e preços ligeiramente abaixo daqueles praticados pela estatal no mercado cativo.

Agentes da indústria relatam que a petroleira tem oferecido contratos indexados a cerca de 11,3% do Brent.

Para efeitos de comparação, na última safra de negociações com as distribuidoras, em 2023, a estatal ofereceu um piso de 11,7% a 11,9% nos acordos de suprimento de longo prazo – há estados, porém, onde as concessionárias pagam mais caro.

O reposicionamento da estatal tende a pressionar a concorrência a ajustar, para baixo, os seus preços. Uma reacomodação sem perspectivas, no entanto, de uma molécula barata para o setor industrial, por ora.

O movimento da Petrobras acontece num momento em que comercializadores privados entram no jogo (Eneva, Edge, Gas Bridge e MGás) com seus primeiros contratos no mercado livre. Neste 1º semestre, aliás, ao menos quatro indústrias de cerâmica fecharam contratos com fornecedores privados.

A roda, (bem) aos poucos, começa a girar. Levantamento da agência epbr mostra que o mercado livre totaliza, hoje, mais de dez clientes industriais.

A mudança na precificação da Petrobras e seus efeitos sobre a abertura do mercado são tratados na gas week deste sábado (7/6).

GÁS UM “POUQUINHO MAIS BARATO” 

Petrobras deu uma resposta aos concorrentes, em maio, ao anunciar uma nova política de preços que promete baratear o gás natural para distribuidoras e oferecer produtos mais customizados – e competitivos – no mercado livre.

Magda Chambriard disse recentemente que a estatal pode “eventualmente abaixar um pouquinho o preço do gás”, desde que mantenha sua rentabilidade, para “ajudar a desenvolver o mercado”.

Além de oferecer um fator Brent mais baixo, em relação ao mercado cativo, a Petrobras também está aberta a negociar com as indústrias contratos com indexação mista, vinculados ao petróleo e ao Henry Hub. No caso do HH, no entanto, a estatal tem oferecido patamares acima dos praticados nos acordos recentes com as concessionárias.

As penalidades envolvendo desvios de programação, como Encargo de Capacidade (EC) e Preço do Gás de Ultrapassagem (PGU), segundo fontes, não têm sido flexibilizadas.

É claro que qualquer redução no percentual do Brent pode significar, ao fim, alguns milhões de reais de economia para uma indústria – mas, ao fim, a conta precisa compensar os riscos assumidos com a migração.

Numa primeira avaliação, agentes consultados pela epbr não veem nas propostas da petroleira uma mudança estrutural em sua precificação. Nem potencial para tracionar uma onda de migração das indústrias para o mercado livre, salvo casos pontuais.

Ao fim, tudo depende muito das estratégias (e apetite ao risco) de cada indústria e da realidade local.

Em estados como o Rio, onde o custo de aquisição de gás da Naturgy é menos competitivo, por exemplo, a migração pode fazer mais sentido.

A Naturgy, aliás, assinou um aditivo ao contrato com a Petrobras, dentro da nova política de preços da estatal, que oferece descontos às distribuidoras, em contratos vigentes. As novas condições representaram uma redução de 5% nas tarifas para as indústrias do Rio, informou esta semana a controladora das concessionárias CEG e CEG Rio.

CLIMA MORNO 

Fontes relatam que, por ora, em geral, os concorrentes da Petrobras têm adotado a cautela nas conversas com clientes, esperando primeiro a estatal dar suas cartas antes de colocarem novas propostas na mesa – o que tem desacelerado o ritmo das negociações com potenciais consumidores livres.

A tendência é que os novos preços da estatal forcem os comercializadores privados a se posicionarem com valores mais próximos (ou até abaixo) dos 11% do Brent.

O diretor de gestão e assessoria da Infinity Energias, Lucas Tocchetto, conta que houve uma desaceleração recente das conversas entre comercializadores e potenciais consumidores livres – sobretudo após a Petrobras anunciar a sua nova política de preços.

O tarifaço na malha de gasodutos da NTS no Sudeste, segundo ele, também contribuiu para reforçar o clima de instabilidade no mercado. O choque tarifário afetará, principalmente, Galp, Shell e Equinor – concorrentes da Petrobras no mercado hoje.

“Tudo isso aumenta as incertezas e reduz o ímpeto de migração dos consumidores para o mercado livre. A ver o fôlego dos concorrentes para equiparar as condições da Petrobras”, disse.

Tocchetto também cita que, com a redução dos preços da petroleira no mercado cativo, as distribuidoras têm recorrido cada vez mais a contratos de suprimento de longo prazo – o que tende a fazer com que as concessionárias busquem também contratos mais longos com os usuários finais.

“Ainda vemos muitos consumidores presos a contratos de cinco anos com as distribuidoras e que não vão conseguir migrar sem uma rescisão onerosa”, completou.

O TAMANHO DO MERCADO LIVRE NO BRASIL 

Enquanto o mercado livre de energia elétrica já é uma realidade consolidada, a caminho de uma abertura total a partir de 2030, a indústria do gás ainda dá seus primeiros passos.

Os contratos pioneiros no mercado livre de gás remontam a 2021, quando a Unigel e a Gerdau se lançaram nessa modalidade de contratação.

Três anos depois, o universo de clientes livres no setor industrial ainda é restrito a um pequeno clube de empresas.

São, em geral, empresas que testam (ou testaram) a modalidade (com suas vantagens e riscos), na expectativa de uma mudança mais estrutural na competitividade do gás que justifique mergulhar de vez no mercado livre.

O desenvolvimento do mercado livre também não tem sido linear. A Unigel, maior consumidora livre até então, chegou a assinar contratos com seis supridores diferentes (Petrobras, Shell, Galp, PetroReconcavo, Origem Energia e CH4 Energia), de acordo com dados da ANP, mas está com as fábricas de fertilizantes de Sergipe e Bahia paradas.

Levantamento da agência epbr mostra que, ao todo, o mercado livre totaliza, hoje, mais de dez consumidores industriais, além da Unigel:

  • Alunorte (cliente da Celba, em Barcarena)
  • ArcelorMittal (cliente da Galp)
  • Biancogrês (Shell)
  • Delta Porcelanato (Edge)
  • Gerdau (Shell e Petrobras)
  • Grupo Cecafi (Edge)
  • Grupo Lef (Edge)
  • Refinaria de Manaus (Petrobras)
  • Refinaria de Mataripe (Shell, Petrobras e Galp)
  • Samarco (Galp)
  • Vale (Gas Bridge, Galp, Eneva, Petrobras e Shell)

CSN também fechou, com a Shell, um contrato MSA (do inglês Master Sale Agreement) — que define as condições gerais de um contrato flexível.

Há, contudo, uma assimetria de informações hoje sobre o mercado livre. A ANP divulga o registro de contratos de compra e venda entre os agentes, mas faltam detalhes, por exemplo, sobre as modalidades (firme, flexível, de curto ou longo prazo etc).

Bem como não há informações públicas consolidadas, hoje, sobre os volumes de gás comercializados no mercado livre.

GÁS NA SEMANA

Sem consenso no Combustível do Futuro. Agentes dos mercados de gás e biometano, além de consumidores industriais, ainda buscam acordo para a nova política de descarbonização do gás proposta no PL 528/2020. O relator no Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB/PB), pretende apresentar seu relatório na próxima semana. Na epbr

MP do reequilíbrio fiscal. Medida Provisória que restringiu a compensação de créditos tributários é ilegal e viola o princípio da anterioridade, alega a Abegás.

AM discute regras para comercialização. Arsepam, agência reguladora estadual, abriu consulta pública (até 18/6) para discutir a minuta de resolução que trata das atividades de comercialização de gás no Amazonas.

Tarifaço. A surpresa com que agentes públicos e privados receberam o choque nas tarifas da NTS, no Sudeste, reacendeu o debate sobre a transparência – e sobre falhas na regulação do setor de transporte. Entenda

Plano de emergência. A ATGás apresentou o Plano de Auxílio Mútuo de resposta a emergências na malha de gasodutos. PAM estabelece obrigações no processo de gerenciamento de emergências, além de indicar as responsabilidades, interfaces e procedimentos para compartilhamento de recursos entre TAG, NTS, TBG, TSB e GOM.

J&F se posiciona na Bolívia. A Fluxus, da J&F, comprou a Pluspetrol Bolívia e, com isso, entra em três campos na bacia Tarija-Chaco que hoje produzem cerca de 100 mil m³/dia, mas que têm potencial para mais de 1 milhão de m³/dia de gás natural. Na epbr

Comgás abre chamada pública. Distribuidora quer garantir fornecimento firme de longo prazo, mas também mira oportunidades de gás flexível. Na epbr

Petrobras planeja retomada da Ansa em 2025. Diretoria aprovou o retorno das operações da fábrica de fertilizantes de Araucária (PR), parada desde 2020. A unidade utiliza resíduo asfáltico como matéria-prima, mas consome gás como combustível para geração de energia, produção de vapor e em fornos.

A&M Infra adquire Ignis. Braço de infraestrutura da consultoria Alvarez & Marsal comprou a plataforma de inteligência e dados do mercado da Gas Energy. Rivaldo Moreira Neto, ex-CEO da Gas Energy, migra para a A&M Infra.

Gás Verde tem novo cliente. Empresa fechou contrato de cinco anos para entrega de 6,9 milhões de m3 de biometano para a planta da Vesuvius, multinacional de engenharia de fluxo de metal fundido no Rio. Na epbr