diálogos da transição

Turbulência regulatória faz SAF perder altitude

Iata estima que a produção de SAF deve atingir 1,9 milhão de tonelada em 2025, o dobro em relação a 2024, mas esse crescimento deve desacelerar

Abastecimento de aeronave da AirFrance com SAF produzido pela TotalEnergies (Foto Divulgação TotalEnergies)
Abastecimento de aeronave da AirFrance com SAF produzido pela TotalEnergies (Foto Divulgação TotalEnergies)

NESTA EDIÇÃO. Mandatos mal formulados criam turbulências que travam a produção global de SAF, elevam custos e ameaçam metas climáticas da aviação, alerta a Iata.

Associação projeta perda de ritmo no crescimento da produção em 2026, às vésperas do início da fase obrigatória do Corsia.


A produção global de combustíveis sustentáveis para a aviação (SAF, em inglês) está perdendo o ritmo e expondo os desafios das ambições climáticas do transporte aéreo, alertou a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata), nesta terça (9/12).
 
De acordo com a organização que reúne cerca de 360 empresas aéreas (mais de 80% do tráfego aéreo global), em 2025, a produção de SAF deve atingir 1,9 milhão de toneladas, o dobro em relação a 2024, mas esse crescimento deve desacelerar em 2026, e ficar em 2,4 Mt.
 
As estimativas para 2025 são uma revisão para baixo em relação às previsões anteriores da Iata. A organização atrela a desaceleração à falta de apoio de políticas públicas para aproveitar plenamente as capacidades instaladas de SAF.
 
“O crescimento da produção de SAF ficou abaixo das expectativas, pois mandatos mal concebidos travaram o impulso na ainda incipiente indústria de SAF”, comenta Willie Walsh, diretor-geral da associação.
 
“Se o objetivo dos mandatos era desacelerar o progresso e elevar os preços, os formuladores de políticas acertaram em cheio”, critica.
 
A produção de SAF este ano representou 0,6% do consumo total de combustível de aviação, e terá um ligeiro aumento para 0,8% no ano seguinte. 
 
A Iata calcula que aos níveis atuais de preços, a substituição do querosene fóssil se traduz em um custo adicional de US$ 3,6 bilhões para o setor em 2025, com o SAF custando duas vezes mais que o derivado de petróleo — chegando a até cinco vezes mais em mercados com mandatos obrigatórios.
 
“Se o objetivo é aumentar a produção de SAF para avançar na descarbonização da aviação, então [os mandatos] precisam aprender com o fracasso e trabalhar com a indústria aérea para desenhar incentivos que realmente funcionem”, defende Walsh.



A aviação civil internacional é signatária de um acordo que busca neutralidade climática até 2050, e o SAF é um pilar importante da estratégia para chegar lá.
 
Chamado Corsia, o acordo entra em sua fase obrigatória em 2027 e a expectativa é que, pelo menos 2% do consumo de combustível fóssil por esse setor possa ser deslocado por renováveis.
 
Paralelamente à ambição global, mandatos de combustíveis sustentáveis já entraram em vigor na Europa — o Brasil estreia o seu também em 2027 —, mas eles estão falhando em escalar a produção.
 
Na Europa, a Iata avalia que o ReFuelEU Aviation elevou fortemente os custos em meio à oferta limitada de SAF e a cadeias de suprimento concentradas. 
 
Já no Reino Unido, a avaliação é que o mandato desencadeou picos de preços, deixando as companhias aéreas com o ônus adicional.
 
“O impacto cumulativo de estruturas regulatórias mal desenhadas é que as companhias aéreas pagaram um adicional de US$ 2,9 bilhões pelo limitado volume de 1,9 Mt de SAF disponível em 2025. Desse total, US$ 1,4 bilhão refletem o adicional padrão do SAF sobre o combustível convencional”, estima a associação.
 
Segundo o grupo, essa dificuldade em acelerar a expansão da capacidade levará companhias aéreas a revisarem suas próprias metas de uso de combustíveis sustentáveis. 


Tarifa de Itaipu. A Aneel aprovou a tarifa de repasse de US$ 17,66/kW ao mês para energia da usina de Itaipu em 2026. A nova tarifa foi aprovada pela diretoria da agência nesta terça-feira (9/12) e passa a valer em 1° de janeiro. O valor é pago pelas distribuidoras pela aquisição de energia da hidrelétrica, comercializada pela Axia Energia (ex-Eletrobras).
 
Renovação de concessões. A Aneel decidiu, nesta terça (9/12), recomendar ao MME a renovação contratual, por mais 30 anos, da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Neoenergia Cosern) e da Energisa Mato Grosso. A saúde financeira e qualidade do serviço são os dois pilares para a verificação da renovação.
 
Geração híbrida. A Equinor e sua subsidiária Rio Energy iniciaram a geração comercial do primeiro complexo híbrido Serra da Babilônia, na Bahia. A empresa já operava um complexo eólico e inaugurou agora, junto a ele, o Serra da Babilônia Solar, com geração estimada em 236 GWh por ano. São 140 MW de capacidade solar e 223 MW de capacidade eólica. 
 
Interligação de Boa Vista. A Aneel definiu, nesta terça-feira (9/12), o dia 1º de janeiro de 2026 como data efetiva da interligação do sistema isolado Boa Vista ao SIN. Apesar de este marco ter sido anunciado em setembro deste ano, o passo decisivo ocorre com a operação comercial das instalações de transmissão necessárias à interligação plena dos sistemas.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética