Diálogos da Transição

Transporte marítimo se aproxima de taxa global de carbono

Proposta para imposto de carbono vem ganhando cada vez mais adeptos na IMO

Transporte marítimo se aproxima de taxa global de carbono (Foto: Vlad Man/Pixabay)
Cresce apoio a iniciativas de hubs de descarbonização marítima (Foto: Vlad Man/Pixabay)

NESTA EDIÇÃO. IMO deve definir até abril de 2025 sua Estrutura Net Zero. Proposta para imposto de carbono vem ganhando cada vez mais adeptos.
 
Cresce também o apoio a iniciativas de hubs de descarbonização marítima.
 
E ainda: G20 abre espaço para biocombustíveis em declaração conjunta sobre energia.


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Com diferentes propostas para precificar o carbono sobre a mesa, a Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) se aproxima do consenso em relação a um mecanismo universal de cobrança de imposto sobre emissões a fim de incentivar a substituição de combustíveis fósseis nos navios.
 
Na semana passada, a IMO reuniu os Estados-membros para discutir emendas à Convenção do Comitê de Proteção do Meio Ambiente Marinho (Marpol), para ajudar a garantir o cumprimento da meta de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa (GEE) até ou perto de 2050 no setor.
 
Em uma declaração sobre o encerramento da reunião, a Câmara Internacional de Navegação (ICS), associação que representa 80% da indústria, disse que há forte apoio em relação a uma contribuição universal de GEE por navios, por tonelada de CO2e emitida.
 
Segundo a organização, a maioria dos Estados-membros da IMO, que também controlam a maior parte da tonelagem de transporte marítimo do mundo, está a bordo da iniciativa.
 
Uma proposta da ICS entregue à IMO no final de agosto defende o imposto dentro de uma política feebate (recompensa) para incentivar a produção acelerada e a adoção de combustíveis zero/quase zero carbono.

  • Da receita gerada pela taxa de GEE, a maior parte iria para um fundo destinado a equilibrar a diferença de custos entre o bunker tradicional e alternativas de baixo carbono. Enquanto um valor equivalente a 20% (cerca US$ 2,5 bilhões anuais) seria transferido para um fundo destinado à transição energética em países emergentes.
  • Embora não bata o martelo sobre o valor que a taxa deveria ter, a ICS sugere que, se para os primeiros cinco anos de implementação, a IMO definir uma recompensa em cerca de US$ 100 por tonelada de CO2e evitada, seria preciso cobrar o equivalente a cerca de US$ 60 por tonelada de óleo combustível fóssil consumido por navios para viabilizar o mecanismo.
  • As taxas de GEE serão coletadas, e os feebates desembolsados por meio de um mecanismo automatizado da IMO – protótipo desenvolvido pela ICS e enviado à agência da ONU.


A ICS observa, no entanto, que apesar do relativo consenso, há um extenso trabalho pela frente, até que a Estrutura Net Zero – como está sendo chamado o mecanismo – esteja pronta para ser aprovada na reunião de abril de 2025. 
 
Um dos pontos é a análise de impacto, já que 80% das mercadorias comercializadas globalmente são transportadas em navios responsáveis por 3% do GEE lançado na atmosfera.
 
Se tudo der certo, o imposto deve começar a valer em 2027, mesmo ano em que a aviação internacional também será obrigada a reduzir emissões com novos combustíveis.
 
“Há um amplo acordo, como defendido pela indústria de transporte, sobre a necessidade de reduzir a lacuna de custo com óleo combustível marítimo convencional para incentivar uma rápida absorção acelerada de combustíveis e tecnologias de GEE zero/quase zero”, diz a nota da ICS. 
 
“A necessidade vital de um elemento de recompensa para os pioneiros e para a criação de um Fundo da IMO para apoiar uma transição justa e equitativa em países em desenvolvimento é clara”, completa.

A receita obtida com o imposto tem um destino certo: financiar a cadeia de biocombustíveis e derivados de hidrogênio para abastecer as embarcações com motores preparados para recebê-los.
 
Essa transformação é desafiadora porque requer adaptação de navios já em operação e encomendas de novos, que ficarão em operação por décadas – ou seja, requer um planejamento de longo prazo.
 
Também será preciso estabelecer pontos de abastecimento próximos de onde os novos combustíveis serão ofertados, o que tem mobilizado empresas e governos na formação de corredores e hubs verdes.
 
Na última quarta (2/10), durante a 15ª Clean Energy Ministerial (CEM15), encontro paralelo à agenda do G20 de transições energéticas, a Grécia aderiu à iniciativa Clean Energy Marine Hubs, que visa reduzir os riscos e acelerar a produção de combustíveis de baixo carbono em escala.
 
Co-liderada pelos governos do Canadá e dos Emirados Árabes Unidos, com participação ativa do Brasil, Noruega, Uruguai e Panamá, a CEM Hubs está alinhada com a iniciativa Transitioning Industrial Clusters do Fórum Econômico Mundial, que também busca cooperação entre empresas e instituições públicas. 

A chegada da Grécia é significativa pois é um centro de transporte no Mediterrâneo, representando 20% do transporte marítimo global. Também é a maior nação proprietária de navios em peso.
 
“A Grécia decidiu se juntar à plataforma CEM Hubs com o entendimento básico de que promover o uso e o transporte mundial de combustíveis de baixo carbono em escala é o pré-requisito mais essencial para a transição energética do transporte marítimo”, comentou o ministro dos Assuntos Marítimos e Política Insular da Grécia, Christos Stylianides.


Biocombustíveis no G20. O Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20 (ETWG), presidido pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, chegou nesta sexta-feira (4/10), a uma declaração conjunta que inclui a necessidade de criação de padrões globais para medição de emissões, o reconhecimento das circunstâncias locais, e a neutralidade tecnológica para descarbonização. O tema enfrentou resistência durante as bilaterais em Foz do Iguaçu (PR), mas que foi vencida na reta final das negociações.
 
Combustível do Futuro vai à sanção do presidente Lula (PT) na terça (8/10) e, a partir daí, começa a agenda de regulamentação da lei – que traz, consigo, uma política para acelerar o desenvolvimento do biometano a partir de 2026.
 
A evolução (e o próprio tamanho) do mandato dependerá, ao fim, de decisões pendentes: a consideração ou não do mercado voluntário existente no cálculo das metas e o diagnóstico da oferta disponível, por exemplo. Leia na gas week
 
Do carvão para o CCUS. O Reino Unido anunciou, na última sexta (4/10), um plano de £ 21,7 bilhões para financiar, ao longo de 25 anos, projetos de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS) no país. Plano é transformar duas zonas industriais em centros de CCUS e hidrogênio feito a partir de gás natural com captura de CO2. A confirmação do incentivo veio dias após o anúncio do fechamento da sua última usina termelétrica a carvão.
 
R$ 640 milhões para investimento climático. O Global Innovation Lab for Climate Finance (the Lab) anunciou sua nova turma de soluções inovadoras para atrair investimentos privados para o clima em economias emergentes. Três delas têm pilotos planejados para o Brasil, com potencial de investimento combinado de R$ 640 milhões (US$ 117 milhões).
 
Entre as ideias voltadas para o Brasil, estão apoio a empresas agroflorestal e de regeneração florestal na Amazônia, incentivo à adoção de práticas agrícolas regenerativas no Brasil, e avaliação de ativos naturais e um mecanismo de mercado para permitir investimentos diretos em capital natural, como biodiversidade, carbono, solo e água. Inscrições abertas até 7 de novembro.
 
BESS no Chile. A Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) anunciou nesta segunda (7/10) que tomou a decisão final de investimento (FID) em um sistema de armazenamento de energia de bateria de 220 MW/1.100 MWh na região de Antofagasta, no norte do Chile. O projeto emitiu o aviso final para prosseguir e será um dos primeiros projetos desse tipo a atingir operações comerciais no Chile.