Diálogos da Transição

Transição na indústria de construção pode movimentar US$ 1,8 tri até 2030

Suprimento de energia, recirculação e descarbonização de materiais são algumas das estratégias para reduzir emissões de edifícios

Transição na indústria de construção pode movimentar US$ 1,8 tri até 2030 (Foto: Pixabay)
Cadeia de valor da indústria de construção responde por 37% das emissões globais de CO2 (Foto: Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Responsável por 37% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), a cadeia de valor da indústria da construção precisa acelerar sua transição para materiais mais sustentáveis, com o potencial de desbloquear US$ 1,8 trilhão em oportunidades de mercado, sendo US$ 360 bilhões na China, calcula relatório do Fórum Econômico Mundial e Boston Consulting Group.

Para destravar essas oportunidades é preciso, no entanto, superar barreiras como lacunas nas regulamentações e nos padrões da indústria, gestão de dados e adoção de tecnologias avançadas, biomateriais, financiamento e capacitação da força de trabalho.

Faltam padrões e exemplos do que seriam os edifícios do futuro, e o custo desses novos materiais – que ainda não estão disponíveis em escala – retarda o movimento em direção à descarbonização.

“O planejamento de uma transição verde completa das construções deve levar em conta o papel da cadeia de valor inteira, o que inclui emissões relacionadas à produção, construção, operação, fim da vida e além da vida útil do ativo”, diz o relatório (.pdf)

O setor envolve múltiplas indústrias difíceis de descarbonizar, como cimento e aço. Depois de prontos, os edifícios também se convertem em espaços onde se consome muita energia.

Desenvolver novos materiais e métodos de construção com menor impacto ambiental e maior eficiência no consumo de energia e insumos são algumas das estratégias elencadas pelo relatório para reduzir as emissões do segmento em 80% até 2030.

Isso também resultaria em retornos financeiros, tanto relacionados aos novos produtos, quanto às economias trazidas pela eficiência.

“A nova fronteira de crescimento e competitividade para os players do setor de construção será desenvolver materiais, métodos de construção e alcançar resultados operacionais que sejam de carbono zero líquido, positivos para a natureza e resilientes a choques climáticos extremos, promovendo o bem-estar da comunidade e as conexões interpessoais”, resume Gim Huay Neo, diretora administrativa do Fórum Econômico Mundial.

Potencial de abatimento

A redução de até 80% do impacto climático na cadeia de construção está distribuída em pelo menos 11 áreas. A maior parte do potencial (15%) vem do suprimento de energia verde.

Painéis solares em telhados, baterias para armazenar energia renovável e microrredes, são algumas das soluções indicadas.

Em seguida vêm recirculação de materiais e minerais (10-15%) e descarbonização de materiais tradicionais (10%).

No primeiro caso, as principais oportunidades apontadas são a formalização dos processos de reciclagem e a maximização do uso de materiais reciclados, como sucata de metal, agregados de concreto e plásticos.

Na descarbonização de materiais tradicionais, o relatório indica que o uso de aço, concreto, alumínio, entre outros, com zero emissões de carbono é fundamental porque eles reduzem significativamente o carbono incorporado, responsável por mais de 50% das emissões durante todo o ciclo de vida de um edifício.

“Avançar nessa alavanca envolve a otimização de processos, o uso de fontes renováveis para a produção e a conquista de avanços tecnológicos, como a produção de aço por redução direta com hidrogênio e concreto carbon-curing”, explica.

Brasil mira consumo energético dos edifícios

No início de 2024, o governo brasileiro anunciou que vai trabalhar em um índice mínimo de eficiência energética para edificações a partir de 2025.

A ideia é acelerar as metas internacionais de triplicar os investimentos anuais em eficiência energética para alcançar os compromissos do Acordo de Paris de redução de emissões.

Como as edificações – residenciais, comerciais e públicas – respondem por cerca de 50% do consumo de energia elétrica do país, é preciso equacionar o aumento esperado do consumo nos próximos anos com a redução do desperdício, avalia o Ministério de Minas e Energia (MME).

A análise do governo é que  metade dos esforços para reduzir as emissões e manter a temperatura em 1,5°C vem de energias renováveis e eficiência energética, com 25% cada um.

Solar no Minha Casa, Minha Vida

Outra frente é a instalação de painéis fotovoltaicos em empreendimentos do principal programa habitacional do governo federal.

Publicado nesta segunda (1/7), o decreto que inclui a microgeração distribuída no programa Minha Casa, Minha Vida prevê a destinação de R$ 3 bilhões para atender 500 mil unidades consumidoras com geração distribuída solar.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Disputa comercial em tons de verde

O Brasil levou às discussões do grupo de trabalho de Comércio e Investimentos do G20 uma proposta de princípios comuns a serem adotados para evitar que eventuais medidas de proteção ambiental internas dos países tenham efeitos negativos sobre o comércio internacional. A presidência do grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e convidados é ocupada pelo Brasil em 2024, com a previsão de que os líderes se reúnam em novembro, no Rio de Janeiro. Entenda

Clima subordinado à economia

Além de definir os novos cargos do alto escalão da União Europeia e endossar a recondução de Ursula von der Leyen à presidência da Comissão Europeia, a reunião de cúpula do bloco, encerrada na noite de quinta para sexta-feira (28/06), terminou com uma reorganização da lista de prioridades no bloco: economia e competitividade em primeiro lugar, com a proteção do clima subordinada a esse objetivo maior. (DW)

Concorrência com a China

Enquanto isso, fabricantes europeus de equipamentos para hidrogênio cobram intervenção da UE para ajudar a indústria a competir com os produtores chineses mais baratos. Em uma carta vista pela Reuters nesta segunda-feira, Thyssenkrupp Nucera, Siemens Energy e Nel Hydrogen, entre outras, querem que Bruxelas faça mais para garantir que os equipamentos fabricados na Europa impulsionem a transição do bloco.

Bandeira amarela

A Aneel anunciou que a bandeira tarifária da energia elétrica para o mês de julho será amarela. Com isso, as tarifas dos consumidores serão acrescidas em R$ 1,885 a cada 100 kW/h consumidos. Esse valor já considera o desconto nas bandeiras tarifárias aprovada pela Aneel em março, quando houve redução de 37% do valor da bandeira amarela, caindo de R$2,989/KWh para R$1,885/KWh. Leia na epbr

Mercado de carbono

A Amazon está apoiando o desenvolvimento de um novo padrão de verificação das compensações de carbono para superar a escassez de créditos com rótulo de qualidade, o que permitiria à companhia cumprir sua meta net zero até 2040. Críticos temem, no entanto, que a medida possa levar à confusão do mercado. (Reuters)

Eletrificando

A Rede Graal iniciou a instalação de estações de recarga ultrarrápidas e semirrápidas para veículos elétricos em 37 das suas 51 unidades localizadas nas principais rodovias dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A rede investiu cerca de R$ 15 milhões para aquisição de 74 equipamentos junto das empresas WEG, ABB e BYD, além das obras de infraestrutura para instalação das estações.