NESTA EDIÇÃO. Análise da Rystad Energy mostra que 95% da descarbonização global até 2035 virá do setor elétrico e da eletrificação.
Petróleo e gás seguem resilientes no curto prazo, embora investimentos já mostrem uma nova tendência.
A maior parte da descarbonização da matriz energética global na próxima década virá do setor elétrico e da eletrificação de transportes e indústria, dadas limitações do que é possível fazer neste curto espaço de tempo, mostra uma análise da Rystad Energy sobre as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) ao Acordo de Paris. E o petróleo continuará relevante.
A atualização das metas até 2035 e a indicação de um mapa do caminho para a transição é uma das entregas esperadas da COP30, que ocorre em Belém (PA) de 10 a 21 de novembro.
Em entrevista à eixos, o vice-presidente de Sistemas de Energia da Rystad, Jon Ødegård Hansen, explica que antes de chegar ao net zero em 2050 ainda há muito investimento a ser feito e, no curto prazo, as principais mudanças ocorrerão onde as soluções já se mostram competitivas.
“As [atualizações das] NDCs estão focadas em 2035. Então há um limite de novas tecnologias disponíveis. Nós estimamos que 95% das reduções de emissões nessa rodada de NDCs virão da descarbonização do setor elétrico e da eletrificação”, conta Hansen.
“Apenas 5% está realmente vindo de captura de carbono (CCUS, em inglês) e hidrogênio, entre outras inovações. Por outro lado, até 2035 certamente haverá muita necessidade de petróleo e gás para que a sociedade moderna funcione adequadamente”, completa.
Relatório da Rystad Energy com cenários para o sistema energético global enxerga que o petróleo e o gás permanecerão resilientes no curto prazo, com pico na década de 2030 e repercussões nos custos e investimentos do setor de energia.
A boa notícia para o clima é que os investimentos já estão mudando: enquanto aceleram nas renováveis, o crescimento nos combustíveis fósseis está mais lento.
De acordo com a Rystad, atualmente, as tecnologias de baixo carbono atraem mais de US$ 900 bilhões anualmente, em comparação com US$ 735 bilhões para petróleo e gás. Essa diferença de US$ 181 bilhões aumenta para US$ 391 bilhões até 2030.
O relatório também indica que se as NDCs forem cumpridas, é possível limitar o aquecimento do planeta a 1,7°C até 2100 — não chega a 1,5°C, mas fica abaixo do mínimo de 2°C do Acordo de Paris.
Brasil em quarto no ranking de descarbonização
No ranking global de descarbonização energética, o Brasil aparece em quarto lugar, atrás de três países nórdicos — Finlândia, Suécia e Noruega — com uma média de 59% no cumprimento de três critérios avaliados pela Rystad.
No primeiro deles, que avalia a limpeza e crescimento da matriz elétrica sem fontes fósseis, o Brasil registra 85%. O país, no entanto, ainda pontua baixo na eletrificação (32%) e está quase virando o jogo em tecnologias para tornar os combustíveis fósseis “menos sujos” (46%).
“O Brasil é líder em renováveis no setor elétrico. Historicamente, a energia tem sido muito hidrelétrica. Mas agora o verdadeiro crescimento vem da energia eólica e solar, o que é extremamente interessante de uma perspectiva global”, comenta Hansen.
Ele também analisa que a taxa de eletrificação brasileira fica abaixo da média global, em parte, porque o país está priorizando outras alternativas, como os biocombustíveis no setor de transportes para aproveitar sua vocação.
“Brasil tem liderado em frentes como os biocombustíveis. Então é um resultado natural. Mas também há uma oportunidade para o futuro, porque a eletrificação traz um sistema energético muito mais eficiente”.
Para o especialista da Rystad, a eletrificação da frota leve pode ajudar a liberar biocombustíveis para outros setores mais difíceis de substituir os combustíveis líquidos, como aviação e transporte marítimo, cuja demanda é prevista para saltar nos próximos anos.
“Biocombustíveis são um produto muito valioso, que serão necessários para descarbonizar todo o sistema energético”, pontua.
Cobrimos por aqui
Curtas
Contra a desinformação climática. Dez países — entre eles Brasil, França e Alemanha — assinaram em 13 de novembro uma Declaração de Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas durante a COP30. O documento, inédito, estabelece compromissos internacionais para enfrentar a desinformação climática e promover informações precisas e baseadas em evidências sobre o tema.
CCS no mercado de carbono. Em entrevista à eixos, as diretoras da CCS Brasil, Nathalia Weber e Isabela Morbach, apontam que a COP30 é uma oportunidade para o Brasil observar a experiência internacional e amadurecer sua estratégia de descarbonização. Para as executivas, o país ainda trata de forma tímida a captura e o armazenamento geológico de carbono.
Certificadora nacional. BNDES, Bradesco e Fundo Ecogreen lançaram uma certificadora brasileira de créditos de carbono, na terça (11/11), na COP30. Chamada Ecora, a nova certificadora busca atender à crescente demanda por créditos de carbono no Brasil, e atuará em todos os biomas integrando o conhecimento das realidades regionais.
Transição é poder. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, afirmou na terça (11) durante a COP, em Belém, que a transição energética não é apenas uma questão ambiental, mas uma disputa global por liderança econômica e tecnológica. “Isto não é sobre energia elétrica, é sobre poder econômico”, declarou, durante uma coletiva de imprensa.
Próximas COPs. Mesmo sem uma definição sobre o país-sede da COP31, a 32ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP32) já tem um endereço. Nesta tarde, o grupo de países africanos submeteu formalmente à UNFCCC a indicação da Etiópia para sediar o maior evento da ONU em 2027.
À margem do RenovaBio. A Petrobras está comemorando a ampliação das vendas diretas de combustíveis para clientes corporativos, especialmente de diesel B15, com os 15% obrigatórios de biodiesel na mistura obrigatória. A modalidade, contudo, incomoda cada vez mais os concorrentes da estatal na distribuição de combustíveis, já que a petroleira está abocanhando a demanda do agronegócio, mas sem os custos do Renovabio.
Empresas miram biocombustíveis e natureza. A agenda do setor privado brasileiro na COP30 está centrada em biocombustíveis e soluções baseadas na natureza, afirma ao estúdio eixos Ricardo Mussa, presidente da Sustainable Business (SB) COP30, iniciativa da CNI que reúne propostas empresariais para impulsionar a transição a uma economia de baixo carbono.
Vetos na MP 1304. O Movimento União pela Energia, que congrega mais de 70 associações e federações da indústria, enviou uma carta ao presidente Lula (PT) pedindo vetos para sete dispositivos aprovados pelo Congresso Nacional na conversão em lei da MP 1304. O grupo também defende a remoção do artigo que trata dos cortes de geração (curtailment).
Lulistas a favor, Bolsonaristas contra. Enquanto 51% dos eleitores de Lula são favoráveis à exploração de petróleo na Margem Equatorial, 58% dos bolsonaristas lideram a rejeição. No geral entre os brasileiros, o apoio subiu de 26% em outubro para 42% em novembro, segundo pesquisa Genial/Quaest — com 2.004 entrevistados em 120 municípios.
Modernização das redes. Na COP30, a Neoenergia Coelba anunciou na terça-feira (11/11) que tomou um empréstimo de €300 milhões junto ao Banco Europeu de Investimento para modernizar e ampliar a rede de distribuição na Bahia, com foco em novas ligações e atendimento a comunidades de baixa renda.
Clima extremo. Relatório do Pnuma estima que a adoção de práticas sustentáveis de resfriamento pode economizar US$ 17 trilhões em consumo de energia e evitar até US$ 26 trilhões em investimentos na rede elétrica até 2050. O Global Cooling Watch 2025 projeta que a demanda global por resfriamento, em especial por ar-condicionado, deve triplicar até meados do século.

