NESTA EDIÇÃO. Levantamento de ONG alemã mostra China, Índia e Filipinas entre os mais atingidos por eventos climáticos recorrentes, enquanto pequenas nações insulares foram as mais afetadas por eventos extremos.
No Brasil, os desastres naturais somaram mais de US$ 12 bilhões de prejuízo em 2024, aponta Aon.
E ainda: cortes de incentivos para tecnologias de baixo carbono nos EUA colocam o Brasil como potencial destino verde, apostam executivos.
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Índice de Risco Climático da Germanwatch (.pdf), divulgado esta semana, estima que 800 mil pessoas morreram e US$ 4,2 trilhões foram gastos em todo o mundo por causa do aumento do número e da intensidade de eventos climáticos extremos, nos últimos 30 anos.
Produzido pela organização ambiental alemã Germanwatch, o estudo mostra que inundações, secas, tempestades e ondas de calor impactaram especialmente os países do Sul Global.
A classificação é feita a partir dos efeitos econômicos e humanos, como fatalidades, pessoas afetadas, feridas e desabrigadas, decorrentes dos mais de 9,4 mil desastres climáticos registrados entre 1993 e 2022.
No Sul Global, países como China, Índia e Filipinas estão entre os mais atingidos por eventos climáticos recorrentes, enquanto nações insulares como Dominica, Honduras, Mianmar e Vanuatu foram as mais afetadas por eventos extremos.
O Norte também está sentindo os efeitos do aquecimento causado pelos combustíveis fósseis: três países da União Europeia – Itália, Espanha e Grécia – figuram entre os dez mais atingidos.
O relatório lista os incêndios na Amazônia e as enchentes no Rio Grande do Sul como exemplos de como o aumento da temperatura média da Terra – que em 2024 superou a marca de 1,5°C – está nos levando a um “novo normal”.
“Na Amazônia, os piores incêndios florestais desde 2005 destruíram 22 milhões de hectares, uma área quase do tamanho do Reino Unido. Chuvas torrenciais e inundações no Brasil, que será o anfitrião da COP30, deslocaram mais de 580.000 pessoas e causaram inúmeras mortes”, aponta.
US$ 12 bi de prejuízo
No Brasil, desastres naturais resultaram em mais de US$ 12 bilhões em prejuízo em 2024, segundo relatório da Aon, empresa global de serviços.
As fortes chuvas no Rio Grande do Sul foram o evento climático mais significativo ao longo do ano, causando uma das piores inundações já registradas no país, mas secas e incêndios também foram responsáveis por perdas econômicas relevantes, analisa o Climate and Catastrophe Insight.
Só no caso do RS, as enchentes de maio causaram perdas econômicas estimadas em US$ 5,05 bilhões.
Também foi considerado o episódio mais custoso da história do Brasil em perdas seguradas, de U$1,4 bilhão, com danos generalizados em infraestrutura, propriedades e serviços essenciais.
Já as secas do segundo semestre tiveram um impacto calculado em US$ 6,05 bilhões, afetando, principalmente, o setor agrícola e a produção de energia.
Destino para investimentos verdes
Saída para a crise, a substituição de combustíveis fósseis por energia renovável tem levado a investimentos que já somam US$ 2 trilhões em tecnologias como solar, eólica, armazenamento e veículos elétricos.
O Brasil emerge como um mercado para atrair parte desses recursos, mas precisa resolver questões macroeconômicas, segundo especialistas consultados pela agência eixos.
A revisão das políticas de incentivos da Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês) nos Estados Unidos e a saída da maior economia global do Acordo de Paris, no governo de Donald Trump, tende a deslocar investimentos em projetos verdes, como geração eólica e hidrogênio verde.
“Há exemplos de companhias que desistiram de projetos de hidrogênio no Brasil para direcionar investimentos nos EUA, atraídos pelos incentivos do IRA, no governo Biden. Com a suspensão desses incentivos, alguns desses recursos podem se voltar para o Brasil”, afirma Luis Viga, presidente do conselho da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV) e da Fortescue Brasil.
Por aqui, a companhia espera tirar do papel uma planta de produção de hidrogênio verde, no Complexo do Pecém, no Ceará, com investimento estimado em R$ 17, 5 bilhões. O projeto espera produzir cerca de 500 toneladas por dia do energético.
Cobrimos por aqui
Curtas
Petróleo no Norte. O presidente Lula (PT) voltou a defender a exploração de petróleo na margem equatorial durante evento em Macapá nesta quinta (13/2). Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), e de 12 ministros, Lula rejeitou que o avanço do licenciamento prejudique a imagem do Brasil na COP30 e afirmou ter incumbido a Casa Civil de chegar a um denominador comum que possibilite a perfuração de poço exploratório pela Petrobras.
Arayara, Observatório do Clima e Greenpeace criticam a posição do presidente. Para o Observatório do Clima, o Brasil “dobra a aposta” na expansão da exploração de petróleo, na contramão do compromisso assumido no Acordo de Paris.
Carvão no Sul. A questão da recontratação das usinas termelétricas a carvão no Brasil chegou ao governo com o pedido do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao Ministério de Minas e Energia pela edição de uma medida provisória para Candiota. Após a reunião, o ministro Alexandre Silveira (PSD) evitou se comprometer com a proposta e disse que a questão “é uma decisão de governo”.
China expande capacidade a carvão. A China iniciou, no ano passado, a construção de numerosas usinas de carvão que ameaçam o objetivo de frear as emissões de gases do efeito estufa até 2030, segundo um relatório publicado nesta quinta (13). A construção de usinas a carvão com capacidade de 94,5 gigawatts, o que representa 93% dos novos projetos em nível mundial. (AFP/O Globo)
Nova Zelândia recua no clima. A milhares de quilômetros dos EUA, a Nova Zelândia pode já estar dando ao mundo um vislumbre de como será a política climática global na era Trump. A nação, uma antiga líder em redução de emissões, vem realizando uma série de reversões de política verde. (Bloomberg)
Grã-Bretanha lança incentivos para eólicas offshore. Chamado de Bônus da Indústria Limpa, o esquema lançado nesta quinta (13) fornecerá financiamento inicial de 27 milhões de libras (US$ 33,5 milhões) para cada gigawatt (GW) de capacidade de projetos eólicos offshore vencedores de licitação. Objetivo é descarbonizar o sistema energético do país até 2030. (Reuters)
Trump versus clima 1. Sob nova direção, a SEC, órgão que regula os mercados de capitais americanos, vai pedir que a Justiça interrompa o processo movido por empresas contra regras de divulgação climática propostas durante o governo Joe Biden. Mark Uyeda, que chefia interinamente a Securities and Exchange Commission, requisitou que novas audiências não sejam marcadas pois ele tem uma posição diferente da expressa pela gestão anterior. (Reset)
Trump versus clima 2. O chefe da Agência de Proteção Ambiental dos EUA está tentando encerrar contratos firmados pelo governo anterior para distribuir US$ 20 bilhões em subsídios para financiar projetos de energia limpa e transporte em comunidades carentes. Lee Zeldin disse que pedirá ao Congresso e ao Departamento de Justiça que trabalhem com a agência para encerrar os contratos e rescindir o subsídio concedido pelo Fundo de Redução de Gases de Efeito Estufa da EPA. (Reuters)