Diálogos da Transição

Segurança energética versus climática: os dois cenários da Shell

Relatório aponta como "altamente provável" que o aumento médio da temperatura ultrapasse 1,5°C

Segurança energética versus climática: os dois cenários da Shell. Na imagem: Projeto de descomissionamento de Brent na foz do rio de Hartlepool, Nordeste da Inglaterra (Foto: Shell)
Projeto de descomissionamento de Brent na foz do rio de Hartlepool, Nordeste da Inglaterra (Foto: Shell)

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APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
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A Shell publicou hoje (21/3) dois novos cenários questionando quão rápido a indústria de energia conseguirá se descarbonizar. Mesmo assumindo que os fósseis perderão uma fatia de mercado para a eletrificação com renováveis e nuclear, as análises trazem pelo menos duas conclusões desconcertantes:

“Não há um caminho realista para uma queda instantânea e acentuada nas emissões” e “é altamente provável que o aumento médio da temperatura ultrapasse 1,5°C”.

A publicação ocorre um dia após o painel de cientistas da ONU dizer que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) precisam cair imediatamente e as soluções estão à mão.

E vem acompanhada de um disclaimer: não são previsões, nem expectativas, nem estratégias da Shell. São apenas “um dos muitos insumos” usados pela companhia para suas decisões de negócios.

Vale dizer: a petroleira vem fazendo um esforço para se converter em uma empresa de energia – investindo em eletrificação, biometanoplataformas de renováveis e hidrogênio verde, por exemplo –, enquanto a ambição de seu plano de transição é alvo de litígios climáticos.

Os cenários

Sky 2050 Arquipélagos cobrem uma faixa de temperatura entre 1,2°C e 2,2°C mais quente do que os tempos pré-industriais até 2100 – abaixo das previsões de cientistas de que poderíamos ultrapassar os 3°C.

Neles, captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) serão essenciais para o sucesso dos esforços, e “o resultado final da temperatura depende em grande parte do sucesso mundial na implantação de sumidouros de carbono”, diz o documento.

Arquipélagos vê uma aceleração da transição energética em comparação com o cenário de 2021, que estabeleceu um caminho lento e tardio. Mas os efeitos da guerra russa se traduzem em uma mudança no sentimento global, que passa do gerenciamento de emissões para a segurança energética.

  • Emissões globais com pico na década de 2020 e queda a partir de meados da década de 2030;
  • Zero líquido à vista, mas ainda não alcançado até 2100;
  • A temperatura média global ainda está subindo em 2100, mas estabilizando em cerca de 2,2°C à medida que as emissões se aproximam do zero líquido.

Sky 2050 considera a segurança climática como norte, com metas específicas para atingir o zero líquido até 2050.

O efeito da guerra se traduz na necessidade de fornecer infraestrutura de energia de baixo carbono, impulsionada em grande parte por questões de segurança e preço. O sistema de energia se transforma rapidamente.

Nações, cidades e empresas individuais “simplesmente vão em frente!”, com o mundo alcançando emissões líquidas zero em 2050. Entretanto, há um período em que o aumento médio da temperatura ultrapassa 1,5°C;

O mundo volta para menos de 1,5°C até 2075 e depois para cerca de 1,2°C até o final do século.

Ponto de inflexão

Somente para energia solar fotovoltaica, o mundo já está adicionando cerca de 200-250 gigawatts (GW) de capacidade a cada ano, fornecendo cerca de 250-300 terawatts-hora (TWh) de eletricidade.

Nos Arquipélagos, isso cresce para cerca de 400 TWh no início da década de 2030 – superando as adições de carvão e gás natural combinadas no início dos anos 2020.

Tanto o carvão quanto o gás natural param de crescer como fontes de eletricidade na década de 2030, sem adição líquida adicional de geração dessas fontes de energia.

“Nos últimos 60 anos, a participação dos combustíveis fósseis na energia primária mal se moveu em torno de 80%, mas isso está prestes a mudar em ambos os cenários: em 2040, carvão, petróleo e gás natural atingiram seu pico de participação de mercado”.

De sonhadores a surfistas

A Shell chama os dois cenários de Segurança Energética – evidenciando um dilema que tem tomado conta das discussões climáticas, especialmente pós-invasão da Rússia pela Ucrânia.

A avaliação é que, à medida que os países respondem à crise de preços e acesso a energia, o mundo está “mergulhando coletivamente na mentalidade de segurança”, mas com estratégias nacionais distintas.

Os analistas identificaram quatro tipos de estratégias: sonho verde, inovação, grande muralha e surfistas.

Os planos europeus são um exemplo do sonho verde. O bloco de países ricos consegue lidar com a volatilidade de preços de energia, mas sua dependência externa o torna vulnerável a falhas no abastecimento.

Estados Unidos e Emirados Árabes, com sua autossuficiência energética estão melhor posicionados para investir em inovação e infraestrutura.

Já a China enfrenta uma grande muralha da mudança, dado o tamanho e a dependência da sua economia do carvão.

Os “surfistas” são países que normalmente não produzem quantidades significativas de energia, o que os torna vulneráveis tanto a interrupções no fornecimento de energia quanto a oscilações de preços.

Eles se subdividem em surfistas emergentes, como a Índia, que rapidamente adotam novas tecnologias, e os em ascensão, que incluem economias que ainda estão tentando garantir acesso a energia à sua população.

Outros cenários:

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Curtas

Mentalidade de negócios

O CEO da petroleira Adonc e presidente da COP28, Ahmed Al-Jaber, voltou a cobrar ação de países e empresas para “manter o 1,5°C vivo”. Mais de 40 ministros de energia e clima se reuniram esta semana em Copenhague na Conferência Ministerial do Clima, primeiro encontro que antecede a COP28, marcada para novembro.

Segundo a Al-Jaber, é preciso injetar uma “mentalidade de negócios” nos esforços, com metas e indicadores de curto prazo. Arab News

Plano para eletrocombustíveis

A Comissão Europeia elabora um plano que permite a venda de carros novos com motores de combustão interna movidos apenas a e-combustíveis neutros em carbono. Reuters

Atende a uma demanda da Alemanha, que está investindo na descarbonização via derivados de hidrogênio e se opôs ao plano da UE de eliminar os carros a combustão a partir de 2035.

Foz do Amazonas

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que o órgão pode exigir a realização de uma avaliação ambiental estratégica para subsidiar o licenciamento na Foz do Amazonas, bacia onde a Petrobras tenta iniciar sua próxima campanha de perfuração de poços de petróleo e gás.

“Eu não posso antecipar uma decisão, mas uma Avaliação Ambiental Integrada, [ou] uma Avaliação Ambiental Estratégica, é, sim, uma possibilidade”, disse Agostinho em entrevista à agência Sumaúma.

Bioeconomia no Norte

Parceria entre Embrapii e BNDES destinará R$ 145 milhões para investimento em inovação industrial, com foco em desenvolvimento sustentável na região Norte. O programa Inova+ apoiará projetos de bioeconomia florestal, novos combustíveis, economia circular, transformação digital, saúde, materiais avançados e defesa.

O acesso ao programa não exige publicação de edital e tem fluxo contínuo. As empresas podem contatar diretamente uma das 26 unidades Embrapii habilitadas no Inova+.